Um novo tipo de célula pode mudar o foco da pesquisa sobre a Fibrose Cística

Comunicação IUPV - 24/12/2018 09:36

Os pesquisadores descobriram um novo tipo de célula no revestimento dos pulmões que pode ter grandes implicações para nossa compreensão da Fibrose Cística (FC) e de como tratá-la.
As novas céluas chamadas “ionócitos” contêm o maior número de proteínas CFTR em comparação com outras células pulmonares, e foram encontradas por dois grupos diferentes de pesquisadores, ambos de Massachusetts, nos Estados Unidos (EUA). Os pesquisadores também identificaram uma substância química que regula a quantidade de CFTR que é produzida nesses ionócitos.
Por que devemos dar atenção à descoberta dos ionócitos?
1- O esconderijo da CFTR foi encontrado
Quando os pesquisadores analisaram detalhadamente a leitura genética desses novos ionócitos, encontraram uma alta leitura de CFTR, o gene que sofreu mutação e que causa a FC. Comparando as leituras genéticas dos ionócitos com as de outros tipos de células pulmonares já conhecidos, os pesquisadores descobriram que os ionócitos produzem mais CFTR do que qualquer outro tipo de célula.
Antes dessa pesquisa, os estudos anteriores evidenciaram que a produção de CFTR nos pulmões era complexa, envolvendo diferentes tipos de células em diferentes pontos dos pulmões. Ainda é cedo para avaliar, mas a descoberta dos ionócitos trará maior clareza para muitas abordagens possíveis na pesquisa sobre FC.
2- O controle da produção da CFTR foi encontrado
Ambos os estudos descobriram também que, além de conter mais proteína CFTR que as outras células que revestem os pulmões, os ionócitos contêm uma substância química que controla a quantidade de proteína produzida.
O que isso significa para as futuras pesquisas de FC?
Embora esses resultados sejam um avanço emocionante na pesquisa de FC, ainda há muito trabalho a ser feito para o entendimento real de sua importância. Precisamos entender mais sobre o funcionamento dos ionócitos, como a CFTR contribui para o seu funcionamento, e como isso dá errado na FC. Em termos de desenvolvimento de novos tratamentos, precisamos saber como corrigir quaisquer alterações encontradas nos ionócitos – seja alterando-os geneticamente ou por meio de medicamentos.
Mas como a descoberta dos ionócitos encaixa-se no que já sabemos sobre as células presentes em nossos pulmões?
O que já sabemos sobre células pulmonares?
Sabemos que existem pelo menos cinco tipos diferentes de células que revestem nossos pulmões. Todas elas estão, confortavelmente, lado a lado, mas executam trabalhos diferentes. Entre elas estão células que produzem muco, células responsáveis pela remoção do muco e de corpos estranhos dos pulmões, células imunes que protegem contra infecções, e células que facilitam a transferência de gases para o sangue.
Como sabemos que elas estão nos pulmões?
Uma maneira de saber que tipos de células estão presentes no revestimento dos pulmões é observar os marcadores químicos únicos que elas carregam. Imagine esses marcadores como os atletas portadores da bandeira na cerimônia de abertura das Olimpíadas – cada atleta carrega a bandeira única de seu país.
A detecção de leitura genética é a novidade do momento
Tradicionalmente, os pesquisadores usavam esses marcadores bioquímicos para identificar quais células estavam presentes em seus estudos de laboratório. No entanto, nos últimos anos surgiu uma nova maneira de verificar a presença de diferentes células pulmonares: analisando as leituras genéticas das proteínas produzidas por cada célula.
Nosso DNA é o projeto de nossas células, e cada célula tem o mesmo projeto. Contudo, diferentes células irão ler diferentes partes desse projeto, dependendo da função que irão desempenhar (da mesma forma que você não tentaria fazer todas as receitas contidas em um livro de receitas de uma só vez, as células leem as instruções para fazer uma proteína, uma receita de cada vez). Este novo tipo de análise pode detectar qual instrução as células estão lendo – elas fazem isso analisando o RNA das células, um mensageiro celular que converte genes em proteínas.
Por que as leituras genéticas não foram sempre utilizadas para detectar os tipos de células?
Essa forma de medir a leitura genética das células está disponível há algum tempo, no entanto essa tecnologia não era tão precisa. Recentemente, contudo, a tecnologia tornou possível estudar as leituras genéticas em células individuais, usando muito menos material (ou RNA) que anteriormente. Antes desses avanços, a quantidade de RNA de uma célula não era suficiente para obter uma leitura correta.
A tecnologia diferente permitiu aos pesquisadores separarem cuidadosamente um tipo de célula de outro. Se as células não fossem separadas corretamente, a leitura de uma célula poderia ser “contaminada” com a leitura da célula vizinha, gerando resultados enganosos. Ainda são necessárias muitas pesquisas para entender o verdadeiro significado desses achados para futuros tratamentos da FC, mas essa descoberta é um marco na pesquisa de FC.
Para mais informações sobre esta pesquisa, leia artigo na Nature science journal. Também estão disponíveis on-line os trabalhos de pesquisa de Daniel Montoro e colegas, do Massachusetts General Hospital, em Boston, EUA, e de Lindsey Plasschaert e colegas, da Novartis, Massachusetts.
Fonte: https://www.cysticfibrosis.org.uk/news/a-new-type-of-cell-could-change-the-focus-of-cf-research
Traduzido por Vera Carvalho, voluntária de tradução para o Instituto Unidos pela Vida. Vera é tradutora profissional com especialidade na área científica (carvalho.vera.carvalho@gmail.com).
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.

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