Estudo comparativo da qualidade de vida e força muscular respiratória em pessoas com Fibrose Cística

Comunicação IUPV - 03/08/2019 10:30

Esse estudo faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Fisioterapia realizado pelas profissionais Angela, Camila e Paula* na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Introdução
As doenças obstrutivas foram as primeiras a serem estudadas em trabalhos científicos contendo a descrição de técnicas fisioterapêuticas. Uma das doenças obstrutivas é a Fibrose Cística (FC), também conhecida como Mucoviscidose. 
A FC é uma doença complexa, hereditária, de evolução crônica e progressiva. Na sua forma mais comum, a doença causa: problemas pulmonares, má absorção dos nutrientes e vitaminas dos alimentos (desnutrição, tensão abdominal, fezes anormais) e alterações eletrolíticas do suor (1,2). Esses sintomas são causados pelos problemas no transporte de íons pela membrana das células, por causa da mutação na proteína CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Regulator). 
A qualidade de vida é formada por diferentes aspectos que são individuais e únicos para cada pessoa poder alcançar o que ela considera ser “viver bem”. Por isso, é preciso ajudar cada pessoa a  conquistar e melhor esses aspectos (3).
Discussão
Foi realizado este estudo para verificar a relação entre a qualidade de vida e a força muscular respiratória em pessoas com Fibrose Cística.
A literatura científica é contraditória em relação à força da musculatura respiratória em portadores de FC. Alguns autores afirmam que a pressão na respiração durante a inspiração (PImáx) e a expiração (PEmáx) são semelhantes entre pessoas que não tem a doença e as que tem FC, podendo estar acima dos valores normais nestes últimos. Ao contrário, outros autores indicaram que as pressões respiratórias máximas são menores em pessoas com FC (6,7).
O presente estudo, contou com a participação de 7 pessoas com FC, com idades entre 18 e 38 anos. A média encontrada para PImáx foi de -56 cmH2O (± 22,37) e para PEmáx foi de 59,43 (± 22,19), visto que uma PImáx alta (>-80cmH2O) ou uma PEmáx alta (>90cmH2O) excluem, respectivamente, a fraqueza inspiratória ou expiratória. Para indicar se uma pessoa tem uma PImáx baixa, esse valor deve ser menor que 60% do valor padrão,  formado com base em variáveis como sexo e idade, peso corporal e altura; os valores acima de 60cmH2O excluem clinicamente a fraqueza dos músculos respiratórios (8).
A força muscular respiratória é importante para a prevenção de complicações pulmonares. Por outro lado, a qualidade de vida das pessoas com FC , na maioria das vezes, está prejudicada pelas condições da doença e complicações pulmonares desencadeadas com o avanço da doença e dificuldade para respirar (9).
No estudo, 71,43% dos participantes responderam que têm crise de tosse durante o dia, e que têm falta de ar para subir escadas e 28,57% responderam que frequentemente se sentem cansados por causa da complicação da FC. 
A maioria dos indivíduos da amostra apresentou correlação negativa (r = -0,823) entre a qualidade de vida e a força muscular respiratória obtida a partir da mensuração de PImáx. Já em relação à PEmáx foi observada uma fraca correlação, ambas em cmH2O. A avaliação dessas características permite o alcance de índices para a avaliação funcional dos músculos respiratórios (8).
 A avaliação da qualidade de vida das pessoas com FC  é importante, pois a partir dela podemos conhecer qual é a percepção de cada um sobre como é viver com uma doença crônica Essa informação pode contribuir para melhorar a adesão ao tratamento, especialmente porque a fraqueza dos músculos respiratórios pode estar relacionada à redução da tolerância aos esforços, ao aumento da dificuldade para respirar e prejuízo na qualidade de vida (10,11).
Considerações Finais
A força muscular respiratória é importante para a prevenção de complicações pulmonares. Por isso, a fraqueza muscular respiratória é considerada uma condição clínica com início agudo ou crônico, que deve ser cuidada. No tratamento, a fisioterapia respiratória promove a limpeza das secreções das vias aéreas, para manter e/ou melhorar a função pulmonar, prevenir infecções e diminuir a evolução da FC. Dessa forma, melhoram os sintomas e aumenta a qualidade de vida. Devem ser realizadas mais pesquisas neste campo de atuação para poder ajudar no tratamento e cuidado das pessoas com FC.
Por Angela Tolardo de Oliveira (Pontifícia Universidade Católica do Paraná – ange_tolardo@outlook.com); Camilla Roscamp (Pontifícia Universidade Católica do Paraná – cah.mi07@gmail.com); Paula Christina Pires Muller Maingué (Docente do curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Especialista em Geriatria e Gerontologia – paula.muller@pucpr.br). 
Referências

  1. Tarantino AB. Doenças Pulmonares, 4ªed. Rio de Janeiro: Guanabara; 1997.p.589, 590.
  2. Conto CL, Vieira CT, Fernandes KN, Jorge ML, Cândido GS, Barbosa RI,et al. Prática fisioterapêutica no tratamento da fibrose cística.Revista: ABCS. 2014; p. 97
  3. Borges SCN.  Sobrepeso e obesidade infantil: implicações de um programa de lazer físico-esportivo.Revista: Inst. Ed.SãoMiguel.2011; p.55
  4. 4.Rozov T. Qualidade de vida no adolescente e adulto jovem com fibrose cística: correlação com a gravidade da doença-Dissertação de Mestrado- USP, Faculdade de Medicina. 2014 
  5. CamelierA, Rosa F, Jones P, Jardim JR. Validação do questionário de vias aéreas 20 (“Airways questionnaire 20” – AQ20) em pacientes portadores de doença pulmonar —obstrutiva crônica (DPOC) no Brasil- Tese de Mestrado, Centro de Reabilitação Pulmonar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 2003
  6. Zanchet RC, Chagas AMA, Melo JS, Watanabe PY, Barbosa AS, Feijó G. Influência do método Reequilíbrio Toracoabdominal sobre a força muscular respiratória de pacientes com fibrose cística. J BrasPneumol. 2006; p.126 e 127
  7. Mesquita R, Donária L, Genz IC, Pitta F, Probst VS. Força muscular respiratória durante e após a hospitalização por exacerbação da DPOC. RespirCare. 2013; p.40.
  8. Santos MGS, Santos, BVP; Reis IMM, Labadessa IG.;Jamami M. Manovacuometria realizada por meio de traqueias de diferentes comprimentos. Revista: FisioterPesqui.2007; p.9
  9. Zajaskoski LP, Dryer LC, Winkelmann ER. Correlação entre a Qualidade de Vida e a Força Musucular Respiratória em pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Revista: Unijai. 2017; p.2
  10. Lanzetti CEG, Márcia MFM, Ana BL. Análise da força muscular respiratória em pneumopatas crônicos participantes do programa de reabilitação pulmonar. Revista: Unisalesiano.2011 p.240
  11. Ribeiro K, Toledo A, Costa D. Efeitos de um programa de reabilitação pulmonar em pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Revista Biociência. 2005 p. 63-68.

Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.

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