A influência da relação com profissionais da saúde na adesão ao tratamento da Fibrose Cística

Comunicação IUPV - 12/11/2018 13:12

Você já mentiu para seu médico afirmando que fez mais tratamento do que realmente realizou? Você já “abriu o jogo” e contou porque não aderiu corretamente? Sente vergonha em dizer que não seguiu as recomendações do tratamento?
Algumas pessoas com Fibrose Cística (FC) não aderem completamente seus tratamentos por vários motivos. No geral, as dificuldades mais mencionadas são: o esquecimento e falta de tempo para realizar, por exemplo, fisioterapia ou atividades física (clique aqui para ler nosso texto sobre organização do tratamento).
Existe ainda outro importante fator que pode interferir na adesão: a relação entre as pessoas com FC, os familiares e profissionais de saúde ¹. Essa relação é formada pela comunicação, apoio, confiança e participação na tomada de decisões ². A relação deve ser como uma parceria, na qual seja possível explicar os planos de tratamento e, também, conhecer as dúvidas e preocupações e principais dificuldades ³.
Entretanto, podem existir dificuldades em ambos os lados dessa relação. Muitos profissionais não se sentem preparados ou confortáveis para realizar perguntas sobre a realização do tratamento, com medo que possam afetar o vínculo, ou utilizam uma linguagem muito técnica e complicada. Da mesma forma, as pessoas com FC ou familiares podem aprender a responder aquilo que o profissional espera ouvir, para evitar passar vergonha, levar “broncas” ou por querem agradar e serem considerados exemplares 4, 5.
Essas dificuldades afetam principalmente a comunicação na consulta, podendo acontecer situações em que a pessoa em tratamento ou familiar não entenda corretamente as recomendações ou que o profissional acredite que o tratamento está sendo seguido completamente. Infelizmente, essa ocorrência afeta diretamente na adesão, podendo trazer prejuízos para a saúde e qualidade de vida 6.  
Para melhorar a relação, e consequentemente a adesão ao tratamento, listamos as seguintes sugestões:

  • Seja sincero, conte para sua equipe de saúde quando não é possível realizar o tratamento, assim, juntos vocês podem identificar as dificuldades e propor soluções e modificações;
  • Tente desenvolver um espaço seguro para compartilhamento de preocupações e dificuldades: você precisa confiar em quem quer cuidar de você, abrir o jogo quando não estiver conseguindo aderir adequadamente, e ouvir “de coração aberto” quando eles precisam ser “duros” com você, sobre alguma conduta inadequada. As orientações são sempre para o seu bem!
  • Peça para participar das decisões sobre seu tratamento, dessa forma podem ser feitas alterações que estejam adaptadas às suas rotinas e possibilidades, por exemplo: horário de determinada medicação ou fisioterapia coincide com o horário de ir para a escola, ou trabalho? Avalie se é possível ajustar, para que você possa inserir o tratamento na rotina. É fundamental compartilhar como é sua vida, para que o tratamento faça parte dela. Algo como “você se trata para viver, e não vive para se tratar”
  • No caso de crianças com FC, incentive e valorize a participação e comunicação delas nas consultas. Elas precisam ser ouvidas, precisam entender o que é a FC e a importância do tratamento, de maneira didática e efetiva. Isso certamente ajudará não só durante a infância, mas também na transição para adolescência e fase adulta pois, se elas já souberem da importância do processo todo, mais fácil será mantê-lo.

Uma boa relação com os profissionais da saúde, portanto, é essencial para o processo de adesão ao tratamento, pois permite que sejam feitas adaptações de acordo com a necessidade de cada pessoa com FC, impactando diretamente na qualidade de vida das pessoas com FC!
E, se você for adulto e tiver Fibrose Cística,conte para nós como é a relação com seus profissionais da saúde por meio da nossa pesquisa, acessando o link www.unidospelavida.org.br/adesaoadulto. Queremos entender quais são as principais dificuldades para adesão ao tratamento da FC, para que então possamos criar serviços, materiais e ações que possam ajudá-lo!
 
Por Julianna Rodrigues Beltrão, acadêmica do 8º período de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná; secretaria da LAHCS – Liga Acadêmica de Humanização do Cuidado em Saúde; estagiária de Psicologia do Unidos pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística.
Revisão e Complementação: Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, psicóloga – CRP 08/16.156, especialista em análise do comportamento, fundadora e diretora geral do Unidos pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística, diagnosticada com FC aos 23 anos de idade.
Referências:
¹ ZOLNIEREK, K.; DiMatteo, M. Physician Communication and Patient Adherence to Treatment: A Meta-analysis. Med Care. v. 47, n. 8, p. 826-834, 2010.
² RIEKERT, K.; et. al. Opportunities for cystic fibrosis care teams to support treatment adherence. Journal of Cystic Fibrosis, v. 14, p. 142-148, 2015.
³ CFF. PARTNERSHIPS FOR SUSTAINING DAILY CARE. Understanding Patient-Clinician Communication: A Comprehensive Pilot Project Report. 2016.
4 OLIVEIRA, V. Z.;  GOMES, W. B..Comunicação médico-paciente e adesão ao tratamento em adolescentes portadores de doenças orgânicas crônicas. Estud. psicol. (Natal) [online]., v. 9, n. 3, pp. 459-469, 2004.
5  PIZZIGNACCO, T.; LIMA, R. O Processo de Socialização de Crianças e Adolescentes com Fibrose Cística: subsídios para o cuidado em enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem, v. 14, n. 4, julho-agosto, 2006.
6 GOOLD, S.; LIPKIN, M. The doctor-patient relationship: challenges, opportunities and strategies. JGIM. v. 14, sulp. 1, jan., 1999.
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.
 

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