Depoimento – Clarisse Melo Maia

Comunicação IUPV - 28/04/2020 08:00

Eu fazia de tudo. Brincava, corria com as outras crianças. A única diferença era que eu me cansava mais do que elas, mas nada que nos fizesse imaginar ou suspeitar que hoje eu estaria dependente de oxigênio e na lista de espera para um transplante”.

A Clarisse Melo Maia tem 29 anos, é fisioterapeuta e mãe do doce Davi. Natural de Recife, Pernambuco, teve uma infância e adolescência que considerava normal, cheia de brincadeiras na rua, festas e diversão. A única diferença que enxergava entre ela e seus amigos era a tosse e o cansaço, mas nada que atrapalhasse sua rotina de criança feliz.

“Eu tinha infecções repetidamente e tomava remédios. Quando o tratamento oral não funcionava, precisava ficar internada. Realizava o tratamento e quando melhorava retornava para minha vida de estudos, brincadeiras e estrepolias”, relembrou Clarisse.

Além da tosse e do cansaço, Clarisse também tinha muita dificuldade para ganhar peso, situação que lhe incomodou mais na adolescência, quando se esforçava para engordar, mas não conseguia alcançar o resultado.

“Mesmo comendo bem e me esforçando para ganhar peso, eu não conseguia engordar. Na adolescência eu me dedicava ainda mais. Nessa fase, além da questão de saúde, a autoestima também conta bastante. Eu queria engordar e não conseguia e esse já era um sinal da Fibrose Cística”, afirmou.

Diagnóstico tardio

Aos 11 anos de idade Clarisse fez sua primeira viagem para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O lóbulo superior do seu pulmão direito precisaria ser retirado e a cirurgia seria realizada na capital gaúcha.

“As infecções aconteciam e a gente só apagava incêndios, não sabíamos de verdade o que estava acontecendo. Por conta disso, aos 11 anos, precisei retirar o lóbulo superior do meu pulmão direito. Quem fez o procedimento foi o Dr. José Jesus Camargo, cirurgião que realiza os transplantes aqui em Porto Alegre”, relembrou.

Em meio aos internamentos e cirurgias, Clarisse realizava o Teste do Suor para tentar confirmar ou descartar o diagnóstico da Fibrose Cística. O resultado era sempre negativo, até que aos 17 anos, a confirmação de que tem Fibrose Cística finalmente chegou.

“Eu realizei o Teste do Suor várias vezes e o resultado era sempre negativo. Não sabíamos porque. Mas depois de um tempo, quando completei 17 anos, o diagnóstico finalmente chegou. Tardio, mas chegou. Eu tenho Fibrose Cística. A partir disso, iniciamos o tratamento correto para a doença para que eu pudesse ter mais saúde e qualidade de vida”, disse.

Carreira profissional

Clarisse é formada em Fisioterapia, área que sempre amou desde criança. Mesmo após o diagnóstico para Fibrose Cística, ela seguiu seu sonho e se formou fisioterapeuta, seguindo os passos do seu padrinho.

“Eu sempre gostei da área da saúde, era minha área preferida desde a escola. Amava biologia! Sempre tive bem claro na minha cabeça que ou eu seria Médica, ou eu seria Fisioterapeuta. Optei pela segunda opção principalmente pela questão de acesso ao curso na minha cidade e também porque sempre observei com muita admiração meu padrinho, Dr. Ricardo Moreira, que também é Fisioterapeuta. Achava a profissão linda, adoro os movimentos e tudo que a envolve. Quando me formei eu sabia que não poderia trabalhar dentro de UTI, seria arriscado para a minha saúde, por isso optei por me especializar na área de saúde da mulher e iniciar os estudos em osteopatia. Também trabalhei com pilates e traumato-ortopedia. Por ser Fisioteupta, acredito que consigo otimizar meu tratamento, já que a formação me faz entender melhor tudo que envolve essa área”, contou Clarisse.

Maternidade

A Clarisse é a mãe do Davi, bebê lindo que em breve completará 2 anos de idade. A maternidade sempre foi um sonho e conseguir realizá-lo foi uma das maiores alegrias de sua vida.

“Ser mãe era tudo que eu sempre quis, mas meu médico falava que eu não podia engravidar. Essa afirmação sempre ficava muito vaga para mim. Eu não sabia se não podia por limitações do meu próprio corpo ou porque era perigoso para a minha saúde. Eu sempre quis, mas nunca aconteceu. Até que um dia veio essa surpresa boa chamada Davi”, relembrou.

Até o sétimo mês de gravidez, Clarisse não teve nenhuma complicação e tudo ocorreu muito bem e ela pode curtir cada momento. Porém, a partir deste momento, a bactéria B. cepacia mudou o rumo da gestação.

“Eu estava sempre em hospitais e nunca havia pego essa bactéria. Mas no sétimo mês de gravidez, foi confirmada a infecção. Não sei como, mas peguei. Por conta disso, o Davi precisou nascer antes do tempo, prematuro. Eu dei entrada no hospital para tentar segurá-lo um pouco mais enquanto iniciava o tratamento. Foi nesse momento que precisei utilizar o oxigênio e não consegui mais deixar de usá-lo, sigo precisando 24 horas por dia desde então. Alguns dias após o nascimento do meu filho, meu médico informou que eu precisaria entrar para a fila do transplante, que estava na hora de começar a pensar sobre isso. Confesso que foi o pior momento para ouvir essa notícia, foi muito complicado para mim, meu filho tinha acabado de nascer, mas entendemos que era a escolha certa a se fazer”, contou.

Transplante

Quando decidiu que entraria para a fila do transplante pulmonar, Clarisse escolheu a cidade de Porto Alegre para aguardar e se preparar para a realização do procedimento.

“O processo de mudança levou um ano, o Davi chegou em Porto Alegre no seu primeiro aniversário. Decidimos vir para cá porque já conhecemos a equipe da Santa Casa, o médico que realiza o transplante é o mesmo que fez a cirurgia quando eu tinha 11 anos, sem contar que o hospital é referência na realização do procedimento. Estou bem tranquila em relação a espera, vivendo um dia de cada vez, aproveitando meu filho ao máximo, treinando e fazendo de tudo para ficar bem fisicamente para conseguir brincar com ele todos os dias. Minha mãe veio junto com meu marido e está nos ajudando muito. A maternidade foi fundamental para que eu conseguisse enfrentar tudo isso agora, foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida”, afirmou.

Desde que chegou em Porto Alegre, Clarisse fortaleceu a campanha pela doação de órgãos em suas mídias sociais e também passou a compartilhar mais sobre sua rotina de espera e de tratamento para a Fibrose Cística. Seu objetivo é passar mensagens de amor, solidariedade, esperança e, principalmente, de conscientização sobre a doação de órgãos.

“Para as mães que acabaram de receber o diagnóstico para Fibrose Cística dos seus filhos, minha mensagem é: não se assustem com a doença! Agradeçam a oportunidade de conseguir tratar desde cedo, pois isso fará toda a diferença na qualidade de vida do seu pequeno. Se você tem Fibrose Cística, dedique-se ao tratamento, faça a fisioterapia, os exercícios físicos, não os abandone nos momentos chatos que a doença nos coloca. Vocês podem fazer o que quiserem e realizar o tratamento adequadamente faz com que a gente viva bem. Eu demorei para aprender isso, mas aprendi. E para todos que estão lendo esse depoimento, eu peço: seja doador de órgãos! Muitas vezes o transplante pode ser a única esperança e oportunidade de recomeço para muitas pessoas que precisam da doação. Hoje essa pessoa pode ser desconhecida, mas amanhã pode ser seu amigo, um parente próximo ou até mesmo você. Doar órgãos é doar vida, esperança e um ato de amor ao próximo”, finalizou Clarisse.

Por Kamila Vintureli

Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.

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