O que é a resistência a antimicrobianos na fibrose cística?

Comunicação IUPV - 30/06/2022 15:23

A fibrose cística é uma doença genética rara e ainda sem cura que causa sintomas como tosse crônica, pneumonia de repetição, diarreia e suor mais salgado que o normal. Triada pelo Teste do Pezinho e confirmada por meio do Teste do Suor, seu tratamento envolve várias etapas, como realização de fisioterapia respiratória, atividades físicas, inalações e uso de medicamentos. Dentre essas medicações, estão presentes os antimicrobianos, e neste texto você vai saber o que são, como atuam no cenário da fibrose cística e os cuidados para evitar a resistência bacteriana. 

O que são antimicrobianos?

De acordo com o Ministério da Saúde, antimicrobianos são medicamentos indicados para o combate de microrganismos – como bactérias, fungos e vírus – e redução da sua multiplicação no organismo. Eles são divididos em dois tipos: quimioterápicos (sintéticos) e antibióticos (naturais). 

Como a resistência a antimicrobianos acontece?

A resistência aos antimicrobianos, conhecida no Brasil pela sigla RAM e internacionalmente pela sigla AMR (Antimicrobial Resistance), é vista como um dos principais problemas relacionados à saúde pública no mundo. Muitos microrganismos possuem a capacidade de se tornarem resistentes aos antimicrobianos utilizados para combatê-los, fazendo com que os tratamentos sejam ineficazes. Na prática, isso significa que esses microrganismos não serão eliminados durante o tratamento com o uso do antimicrobiano, multiplicando-se e, em algumas situações, agravando o quadro das infecções.

Essa resistência a antimicrobianos pode ser causada por diversos fatores. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os principais são: 

  • uso dos medicamentos de forma excessiva; 
  • utilização sem prescrição ou acompanhamento de um profissional da saúde; 
  • interrupção do tratamento antes do tempo previsto. 

Além disso, pesquisas indicam que a RAM é agravada pela falta de informações disponíveis sobre o tema para a população, e da fiscalização do consumo dessas medicações por parte das instituições governamentais.

Como isso acontece na fibrose cística?

A mutação genética que causa a fibrose cística faz com que o corpo produza um muco pegajoso e espesso nos pulmões, pâncreas e em outros órgãos. Esse muco pode se acumular nos pulmões, permitindo que os microrganismos se fixem e se multipliquem, aumentando o risco de infecções para as pessoas com a fibrose cística.

Apesar dos avanços no tratamento para a fibrose cística, as infecções pulmonares ainda são um grave problema de saúde que pode levar a piora mais rápida da função pulmonar e diminuir a qualidade de vida de quem tem a doença. Os principais causadores dessas infecções são a Pseudomonas aeruginosa, o Staphylococcus aureus, complexo Burkholderia cepacia e Aspergillus spp..

Quando surgem essas situações, é geralmente recomendado o tratamento com o uso de antimicrobianos. Após as primeiras doses, um grande número de microrganismos são combatidos e com isso, há uma significativa melhora nos sintomas causados pela infecção. Porém, quando o paciente suspende o uso, aqueles microrganismos que ainda resistem na infecção, podem se multiplicar, reiniciando o processo de infecção, porém, agora poderão estar resistentes à aquele antimicrobiano. Neste cenário, como os novos microrganismos são descendentes daqueles mais resistentes, é provável que o mesmo medicamento não cure mais essa infecção, surgindo, assim, uma resistência ao antimicrobiano.

Como evitar a resistência a antimicrobianos na fibrose cística?

As principais indicações para prevenir o aparecimento de novas resistências são: a utilização de medicamentos apenas sobre prescrição médica, com atenção à dosagem e horários corretos. Nunca se deve tomar doses maiores ou encurtar o tempo, acreditando que irá acelerar a cura. Além disso, mesmo com a melhora dos sintomas, nunca pare o tratamento antes do período indicado, não faça uso de bebidas alcoólicas durante o tratamento e não utilize nenhum antimicrobianos que estejam fora do prazo de validade, pois além de não fazer efeito, também irá contribuir para o aumento da resistência à medicação.

Em caso de dúvidas sobre o tema, lembre-se sempre: a melhor opção é buscar ajuda e orientação de um profissional da saúde. Ele poderá te auxiliar e esclarecer todos os seus questionamentos sobre a resistência a antimicrobianos.

Referências:

ANVISA. Antimicrobianos: bases teóricas e uso clínico. Disponível em: <https://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/rm_controle/opas_web/modulo1/conceitos.htm>. Acesso em: 10 mai 2022.

ATHANAZIO, R. et al. Diretrizes brasileiras de diagnóstico e tratamento da fibrose cística. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/jbpneu/a/CtkWJ8LjzyxPvKvLB5fGndC/?lang=pt&format=pdf>. Acesso em: 10 mai 2022.

CHAVES, G. et al. Resistência a Antimicrobianos: a formulação da resposta no âmbito da saúde global. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/sdeb/a/8sybmgm7ZxDmzF8stXfY9KS/?lang=pt#:~:text=A%20Resist%C3%AAncia%20a%20Antimicrobianos%20(AMR,)%20por%20seus%20Estados%2DMembros>. Acesso em: 10 mai 2022.

FIOCRUZ. Resistência bacteriana aos antibióticos. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/ioc/media/resistencia_bacteriana_antibioticos_ioc_fiocruz.pdf>. Acesso em: 10 mai 2022.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Consenso Sobre o Uso Racional de Antimicrobianos. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd08_03.pdf>. Acesso em: 10 mai 2022.

BEDNARCZUK, V. O. Entendendo a Fibrose Cística: Uso de Antibióticos. Disponível em: <https://unidospelavida.org.br/entendendo-a-fibrose-cistica-uso-de-antibioticos/>. Acesso em: 10 mai 2022.

Texto: Kamila Vintureli, jornalista e gestora de comunicação do Unidos pela Vida

Revisão conteúdo científico: Jannaina F. de Melo Vasco, biomédica formada pela Pontifícia Universidade de Goiás (UCG-GO). Especialista em Microbiologia Clínica e Micologia Clínica pela Pontifícia Católica do Paraná (PUC-PR). Mestre em Microbiologia, Parasitologia e Patologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com o tema “Microbioma pulmonar e gastrointestinal na criança com fibrose cística” sob a orientação dos médicos pneumologistas pediatras Dr. Nelson Rosário Filho e Dr. Carlos Antônio Riedi. Foi responsável técnica do setor de Microbiologia do laboratório do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, coordenadora do curso de Biomedicina, docente e supervisora de estágios no Centro Universitário Autônomo do Brasil (UNIBRASIL) e no Centro Universitário Unifacear (UNIFACEAR). Atualmente, é docente e supervisora de estágios da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e conselheira diretora do Conselho Regional de Biomedicina do Paraná (CRBM-6). Tem experiência na área de Microbiologia, com ênfase em Microbiologia e Micologia Médica, atuando principalmente nos seguintes temas: microbioma respiratório e gastrointestinal da fibrose cística, microbiologia da fibrose cística, resistência bacteriana em microrganismos isolados de hemocultura de pacientes oncológicos, cultura de queimados e cultura quantitativa de biópsia.

Quer fortalecer o trabalho realizado pelo Unidos pela Vida? Clique aqui e escolha a melhor forma de fazer uma doação.

Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

Fale conosco