Tudo é um processo – Por Daniel Ramos

Comunicação IUPV - 01/10/2024 07:39

Por Daniel Ramos, diagnosticado com fibrose cística

Essa publicação é para aqueles momentos em que não estamos tão bem em relação a nós ou ao tratamento da fibrose cística, seja pelo motivo que for.

Eu tive uma vida normal até os 20 anos (por incrível que pareça), apenas com a presença de uma tosse constante, encoberta como sintoma de bronquite ou asma. Isso perdurou até que a “simples bronquite” foi responsável por duas pneumonias em 2022, o que começou a tirar o sono de minha família. 

Tempos depois, fiz uma tomografia para descobrir o que podia ter acontecido e o laudo informou uma possibilidade: “correlacionar com história clínica do paciente e considerar a possibilidade de fibrose cística no diagnóstico diferencial”.

Nesse momento, eu não sabia o que pensar. Por um lado, estava aliviado em saber o que me fez ter todas essas dificuldades, mas outra parte de mim sentia uma enorme insegurança.  Mesmo assim, decidi deixar esse sentimento de lado e focar no que deveria ser feito dali em diante.

Depois do longo período de testes para confirmar o diagnóstico, comecei o tratamento, processo que ocupa algum tempo da minha rotina. Os dias passaram e as medicações aumentaram, e é quando chegamos no presente.

Minha rotina gira em torno de 10 tipos de medicações (e a quantidade de vezes que as tomo é outra história). Por mais que, na maior parte das vezes, eu tenha facilidade em administrar esse dia a dia, há horas em que começo a refletir sobre os motivos de tudo isso.

Apesar das inseguranças, sempre acabo concluindo que sim, tudo vale a pena, pois não se trata apenas de mim. Por mais que o tratamento seja “para sempre”, e as chances de eu ter a rotina de antes sejam praticamente nulas, algo dentro de mim diz que se eu parar, não seria somente eu que perderia. Isso porque outras pessoas estão envolvidas nisso.

Minha família, que sempre me apoia nas consultas e em tudo o que podem. Meus amigos, que mesmo com o diagnóstico, não me abandonaram. Meus médicos, que fazem o melhor para que eu continue bem, e o  próprio Instituto Unidos pela Vida, que existe para prestar assistência e apoio.

Logo, caso eu jogue tudo para o alto, sei que ignoraria todos esses esforços, o que não é justo com nenhuma das partes. Não culpo meus pais e familiares pela fibrose cística. Não me sinto inferior pela quantidade de medicamentos que tomo, tão pouco menos capaz que meus amigos (ganho de todos nas corridas, inclusive). 

Pode-se dizer, portanto, que não me incomodo pelo quadro clínico que apresento: somos fruto de uma mistura de DNA e mutações, e coisas assim acontecem. 

Fico de certa forma feliz por ter sido comigo. Nem gosto de imaginar se no meu lugar, fossem meus pais ou as pessoas que mais amo. A fibrose cística incomoda? Sim, com certeza. O tempo que gasto com o tratamento me deixa irritado às vezes? Não duvide disso (e o que acho mais incômodo é ter que lavar os equipamentos após toda inalação). 

Entretanto, o fato de ter um tratamento e a possibilidade de melhoria na qualidade de vida me mantém na jogada. Ninguém disse que a vida seria fácil, e por isso, não espero mordomias. 

Em resumo, eu prefiro viver sem arrependimentos ou limitações. A vida é única, e só temos uma chance para aproveitá-la. A fibrose cística não me impede de fazer as coisas que quero, apenas me dá uma nova perspectiva e condições extras, por assim dizer. 

Confesso que, às vezes, tendo a ficar triste, mas todos ao meu redor me ajudam a levantar, e por isso, antes de desistir, sempre tenho em mente: “Eu ainda quero estar perto de muitas pessoas, e é por elas que eu ainda estou disposto a lutar”. 

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Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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