Estudo descobre que ivacaftor pode retardar a progressão da fibrose cística ao longo do tempo

Comunicação IUPV - 04/11/2024 10:00
ivacaftor pode retardar a progressão da fibrose cística

Oito anos de tratamento melhoraram a função pulmonar e reduziram a taxa de mortalidade

Um estudo recentemente publicado demonstrou que o tratamento com ivacaftor (Kalydeco) por quase oito anos melhorou consistentemente a função pulmonar e reduziu a mortalidade em pessoas com fibrose cística, de acordo com a pesquisa que analisou diversas medidas de progressão da doença.

A terapia também melhorou significativamente o estado nutricional, o que, juntamente com a redução de exacerbações pulmonares, hospitalizações e transplantes de pulmão, reduziu a carga da doença nas pessoas, além dos custos de saúde. 

“Essas descobertas reforçam as evidências existentes no mundo real de que o ivacaftor pode retardar a progressão da doença e diminuir os custos com o tratamento da fibrose cística a longo prazo”, escreveram os pesquisadores.

O estudo, “Impacto de longo prazo do ivacaftor na taxa de mortalidade e resultados de saúde em pessoas com fibrose cística“, foi publicado na revista científica Thorax.

A fibrose cística é causada por mutações no gene CFTR, levando à produção inexistente ou defeituosa da proteína CFTR. Isso resulta no acúmulo de muco espesso e pegajoso, principalmente nos pulmões e nos órgãos do sistema digestório.

O Kalydeco foi o primeiro modulador de CFTR a ser aprovado e está incorporado no Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Clique aqui para saber mais sobre a dispensação do medicamento no país.

Além de receber indicação médica para o uso, no Brasil a medicação está aprovada e disponível, de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde, para pessoas com diagnóstico clínico e laboratorial de fibrose cística e com idade igual ou maior de seis anos e, pelo menos, 25 quilos, que apresentem uma das seguintes mutações de gating (classe III) no gene regulador da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR): G551D, G1244E, G1349D, G178R, G551S, S1251N, S1255P, S549N ou S549R.

O que são moduladores do CFTR?

Um modulador de CFTR é um tipo de terapia projetada para tratar a fibrose cística causada por mutações de gating (nas quais a proteína CFTR, semelhante a um portão, não consegue abrir normalmente). Ele funciona aumentando o tempo em que o “portão” fica aberto, elevando a atividade do CFTR. 

No Brasil, além do ivacaftor, o elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor também está disponível no SUS. Os outros dois moduladores, lumacaftor/ivacaftor e tezacaftor/ivacaftor, estão registrados junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não foram incorporados ao SUS. 

Dados de mundo real 

Estudos do mundo real por até cinco anos demonstraram que o tratamento preservou a função pulmonar e melhorou o estado nutricional dos pacientes, ao mesmo tempo em que reduziu as exacerbações pulmonares (uma queda repentina na função pulmonar, geralmente devido à infecção), hospitalizações e risco à vida.

Este estudo analisou o impacto de longo prazo do tratamento com ivacaftor em pessoas com fibrose cística nos EUA, usando dados do Registro de Pacientes da U.S. Cystic Fibrosis Foundation. Os participantes começaram a tomar ivacaftor entre janeiro de 2012 e dezembro de 2018, e todos tiveram pelo menos um ano de acompanhamento.

Um total de 736 pacientes com fibrose cística com pelo menos uma mutação de gating (exceto R117H e mutações que tornam a função do CFTR mínima) foram tratados com Kalydeco durante o período do estudo.

Essas pessoas foram pareadas por idade com um grupo de controle de 733 pacientes com uma cópia da mutação F508del — a mutação mais comum causadora da fibrose cística, que afeta o processamento de proteínas — e uma mutação mínima da função CFTR, que não foram tratados com moduladores CFTR.

Os pacientes em ambos os grupos tinham seis anos ou mais e tinham dados clínicos disponíveis por pelo menos 24 meses no momento da inscrição no estudo. Quase metade eram mulheres e mais de 90% eram brancos.

Durante um período máximo de acompanhamento de quase oito anos, os pacientes tratados com Kalydeco tiveram uma taxa de mortalidade 78% menor do que a do grupo de controle. O risco de mortalidade também foi menor em pessoas tratadas com Kalydeco ao analisar períodos consecutivos de um ano.

Medidas de progressão da doença melhoraram

Kalydeco também melhorou significativamente a função pulmonar em relação aos controles, conforme refletido em uma medida chamada porcentagem de volume expiratório forçado previsto em 1 segundo,  uma avaliação de quanto ar uma pessoa exala após uma respiração profunda. A diferença média aumentou com o tempo, de 7,98 após um ano para 10,95 após cinco anos, e foi mais significativa em pacientes de 12 a 17 anos.

“Esses dados sugerem que o medicamento leva a uma melhor função pulmonar que é sustentada com uso de longo prazo”, enquanto “destaca a importância do tratamento durante a adolescência, um período caracterizado por rápido declínio da função pulmonar”, escreveram os pesquisadores.

O tratamento de longo prazo também reduziu a taxa de transplante de pulmão em 89% e a taxa de exacerbações pulmonares em 51%.

“As reduções sustentadas em [exacerbações pulmonares] com tratamento de longo prazo podem contribuir para as reduções na mortalidade e transplante de pulmão e as melhorias na função pulmonar”, escreveram os pesquisadores.

Em pacientes com 20 anos ou mais, aqueles tratados com Kalydeco tiveram um índice de massa corporal (IMC) médio significativamente maior, uma medida de gordura corporal com base na altura e no peso, indicando melhor estado nutricional.

E os escores z do IMC — que comparam o IMC de um indivíduo a um gráfico de crescimento padrão — foram significativamente maiores em pessoas de 6 a 19 anos tratados com Kalydeco, em comparação com os controles. O tratamento de longo prazo também reduziu as hospitalizações por todas as causas em 50% e as visitas a clínicas ambulatoriais em 15%.

“Nossa análise sugere que o ivacaftor fornece benefícios clínicos sustentados em pessoas com fibrose cística ao longo de um período de acompanhamento de aproximadamente 8 anos”, escreveram os pesquisadores.

Fonte: https://cysticfibrosisnewstoday.com/news/kalydeco-slows-cf-disease-progression-over-time-study/. Acesso em 23 de setembro de 2024.

Revisão: Mariana Camargo, biomédica, PhD e mãe da Sofia, diagnosticada com fibrose cística.

Revisão: Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, fundadora e diretora executiva do Unidos pela Vida, diagnosticada com fibrose cística aos 23 anos. Psicóloga, especialista em análise do comportamento, tem MBA em Direitos Sociais e Políticas Públicas, Mestre e Doutoranda em Ciências Farmacêuticas com ênfase em Avaliação de Tecnologias de Saúde pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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