Estudo afirma que variações genéticas podem explicar a resistência de algumas pessoas com Fibrose Cística a infecções pulmonares

Comunicação IUPV - 27/07/2020 09:00

Um estudo relata que variações genéticas que reduzem os níveis de expressão de um gene chamado RNF5 podem explicar porque algumas pessoas com Fibrose Cística (FC) têm menor risco de desenvolver infecções pulmonares.

O estudo Systematic genetic analysis of the MHC region reveals mechanistic underpinnings of HLA type associations with disease (Análise genética sistemática da região do MHC revela fundamentos mecanicistas das associações do tipo HLA com a doença) foi publicado no periódico eLIFE.

As infecções pulmonares são problemas comuns para as pessoas com Fibrose Cística, e uma das principais causas de complicações à saúde desses pacientesa. A maior parte das infecções pulmonares nessas pessoas é causada pelas bactérias Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa.

Contudo, alguns pacientes desenvolvem menos infecções — ou infecções mais leves em estágios posteriores — que outros, por razões que permanecem desconhecidas.

Pesquisadores da University of California San Diego estão estudando a variabilidade de um grande conjunto de genes — os antígenos leucocitários humanos ou sistema HLA que codificam as proteínas do complexo maior de histocompatibilidade, o MHC. 

Os complexos de proteínas MHC são responsáveis por apresentar antígenos (proteínas que podem desencadear uma reação imune) para as células imunes. Por exemplo, quando uma célula é infectada, pequenos peptídeos do microrganismo (antígenos) são apresentados pelo complexo MHC para as células imunes, de maneira que possam detectar e destruir a célula infectada.

O complexo HLA é extremamente diverso em populações humanas, e as variações genéticas nesses genes têm sido por muito tempo associadas com o desenvolvimento de doenças autoimunes.

Para investigar a relação entre os tipos de HLA e as características da doença, os pesquisadores analisaram dados do genoma de células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs — células capazes de gerar praticamente qualquer tipo de célula) a partir de 419 indivíduos.

Os dados incluíram um total de 180 variantes do MHC, que foram comparados com mais de 4.000 características da doença.

Os resultados mostraram que um haplótipo de HLA (um conjunto de variações de DNA, ou polimorfismos, que tendem a ser herdados em conjunto) estava fortemente associado com uma menor expressão do gene RNF5, que está envolvido na degradação de proteínas CFTR mutadas. (A CFTR é uma proteína defeituosa na fibrose cística; a expressão gênica é o processo pelo qual a informação em um gene é sintetizada para criar um produto funcional, como uma proteína).

Os pesquisadores argumentaram que uma expressão menor de RNF5 permite que proteínas CFTR anormais sejam estabilizadas, resgatando parcialmente sua função como canais iônicos na superfície celular.

Isso significa que em pacientes que carregam esse haplótipo de HLA, a atividade de RNF5 é menor, o que resulta em menor secreção de muco. Isso, por sua vez, torna esses pacientes menos propensos a infecções por bactérias como a S. aureus e a P. aeruginosa.

“Sabíamos que havia uma associação entre os genes do MHC e a colonização bacteriana em pacientes com fibrose cística, mas ninguém sabia por que”, disse a Dra. Kelly A. Frazer, professora de pediatria, diretora do Institute for Genomic Medicine na UC San Diego School of Medicine, e principal autora do estudo, em um artigo no jornal da universidade.

“Acreditamos que isso se devia ao envolvimento do MHC no sistema imunológico. Mas agora sabemos que provavelmente esse não é o único mecanismo — diferentes níveis de expressão do RNF5 também podem desempenhar um papel importante”, acrescentou Frazer.

O Dr. Matteo D’Antonio, cientista no laboratório da Dra. Frazer e primeiro autor do estudo acrescenta: “Este estudo descobriu um novo aspecto da fibrose cística — que pode levar a um novo delineamento e desenvolvimento de drogas, e permitir que médicos adaptem melhor os tratamentos”.

Os pesquisadores sugerem uma exploração mais aprofundada de suas descobertas “para identificar mecanismos causais subjacentes às associações de doenças na região do MHC e, potencialmente, novos alvos de drogas”, escreveram.

“O campo da fibrose cística está tentando descobrir quais são os modificadores no genoma que aumentam ou diminuem a probabilidade de resposta de um paciente” ao tratamento, disse Frazer, e agora a equipe dela acredita que “o RNF5 pode ser um desses genes modificadores”.

Fonte: https://cysticfibrosisnewstoday.com/2020/01/03/genetic-variations-may-explain-lower-risk-lung-infections-some-cf-patients-study-reports/

Traduzido por Vera Carvalho, voluntária de tradução para o Instituto Unidos pela Vida.

Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.

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