Falta de enzimas pancreáticas em cinco estados brasileiros afeta tratamento de pessoas com fibrose cística
Comunicação IUPV - 01/11/2024 10:25Mais de 150 pessoas com fibrose cística estão sendo afetadas pela falta de enzimas pancreáticas nos estados de Alagoas, Maranhão, Pará, Piauí e Rio Grande do Norte. Familiares têm relatado a ausência do medicamento nas mídias sociais e cobrado o Ministério Público e as secretarias de saúde estaduais pela retomada da entrega do tratamento.
Apesar da luta diária, a ausência do medicamento já completa mais de 30 dias no Maranhão, mais de dois meses no Piauí e três meses em Alagoas. No Rio Grande do Norte, a situação é ainda mais crítica.
“O medicamento começou a faltar em setembro de 2023 e voltou a ser disponibilizado somente em agosto de 2024. Agora, desde 15 de outubro, está em falta novamente. Enviamos ofício para a área responsável para entendermos o que está acontecendo, mas seguimos sem respostas”, afirmou o presidente da Associação dos Pacientes de Fibrose Cística do Rio Grande do Norte (APFCRN), Balduino Martins de Castro Sousa.
Rozineia Lima é mãe do Samuel, de cinco anos e diagnosticado com fibrose cística. Eles residem no Alto Sertão de Alagoas, na zona rural da cidade de Canapi, na Comunidade Quilombola Topete. Ela afirma que a maioria das pessoas com fibrose cística que reside no estado faz uso do medicamento e está sendo afetada.
“Fizemos denúncias no Ministério Público, na Defensoria do Estado, e estamos constantemente divulgando a situação nas mídias sociais, para que os responsáveis resolvam a situação. Porém, até agora, a única informação que conseguimos é que tudo isso está sendo causado pela falta de fabricação das enzimas”, afirmou Rozineia.
De acordo com a mãe do Samuel, a informação foi repassada pela Farmex, responsável pela distribuição dos medicamentos em Alagoas. “Eles justificaram a situação dizendo que o que está causando a falta do medicamento há mais de três meses é o laboratório, por conta da falta de produção”, informou.
Membro da Associação Piauiense de Assistência à Mucoviscidose (APAM), Liliane de Jesus também é mãe de uma criança com fibrose cística e afirmou que, desde agosto de 2024, mais de 50 pacientes estão sendo prejudicados pela falta do medicamento no Piauí.
“Estamos orientando os pacientes para que entrem com ações individuais. Eu fiz isso, mas ainda não tive resposta efetiva. Até o momento, a farmácia apenas alega que já foi feito o pedido de compra, mas ainda está aguardando a solicitação. Ficam nos dando prazos, e quando eles chegam, nada da entrega das enzimas. No momento, só não estamos totalmente sem pois conseguimos algumas doações, mas não sei até quando vamos conseguir segurar essa situação”, afirmou Liliane.
A equipe do Instituto Unidos pela Vida entrou em contato com outras 18 associações regionais que atuam com fibrose cística para entender se a entrega das enzimas pancreáticas também estava em falta em seus estados. Dessas, duas ainda não retornaram e 16 informaram que a dispensação está normal em suas regiões.
O Instituto fez contato com a indústria fabricante do medicamento, a Abbott, para entender a situação e verificar o que pode ser feito para que a dispensação das enzimas pancreáticas seja normalizada nas regiões que estão sendo afetadas com a falta do tratamento. Compartilhamos na íntegra o retorno enviado pela empresa.
“No momento, a Abbott não está enfrentando nenhum problema no Brasil relacionado à produção e disponibilidade de Creon® (pancreatina), em suas apresentações de 10.000 Ui e 25.000 Ui. Nossa fábrica global localizada na Alemanha permanece produzindo Creon® 24 horas por dia, 7 dias da semana.”
Sobre o medicamento
O uso de enzimas pancreáticas faz parte da rotina de muitas pessoas diagnosticadas com fibrose cística, sendo recomendado quando há a obstrução dos ductos pancreáticos por conta do muco espesso na região, situação que causa o bloqueio da ação das enzimas e, consequentemente, má digestão e absorção dos alimentos, além de dificuldade para o ganho de peso e estatura.
A utilização desse tratamento está previsto no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de Fibrose Cística, para pessoas com fibrose cística que apresentam insuficiência pancreática. Portanto, as enzimas pancreáticas devem ser disponibilizadas aos pacientes que necessitam da sua utilização de forma gratuita, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Caso você tenha dúvidas sobre como fazer uso das enzimas pancreáticas na fibrose cística ou outra etapa relacionada ao tratamento da doença, entre em contato com sua equipe médica. Os profissionais da saúde que fazem o seu acompanhamento poderão ajudar e orientar da melhor forma possível.
Por Kamila Vintureli
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Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.