Paciente | Cristiano Zanotto

Instituto Unidos pela Vida - 04/02/2010 21:46

“Olá! Meu nome é Cristiano Zanotto, tenho 23 anos e moro em Porto Alegre. Sou portador de fibrose cística, que foi descoberta com seis meses de vida. Minha mãe, assim como todas as outras que tem filhos com essa patologia, sempre foi uma mulher muito guerreira e lutadora, quando se tratava da minha saúde e qualidade de vida.

Há 20 anos não tínhamos os recursos que temos hoje, como remédios, técnicas de fisioterapia, médicos, estudos. Os médicos não me deram muito tempo de vida devido ao quadro grave em que eu me encontrava, diziam que eu não chegaria na adolescência, pois eu estava com diversas bactérias e meu pulmão bastante comprometido. Com muita garra e determinação, minha mãe incansavelmente me levava pra consultas, internações, fisios, exames, e ano após ano eu fui me recuperando, devagar é claro, mas sempre com muita determinação e vontade de viver.

Trocamos diversas vezes de hospital, médicos, viajamos para outros estados… Até que dia 17 de dezembro de 2001, ela, junto com meu pai, sofreram um acidente de trânsito e faleceram no local. Parte de minha vida acabou ali naquele dia, exatamente 11 dias após meu aniversário, meu alicerce foi arrancado e minha estrutura antes sólida agora se tornara frágil e desequilibrada.

Foram dias, meses de muito sofrimento, dor, revolta e questionamentos, parei com meus tratamentos, parei com as fisios, parei de estudar, enfim, não vi mais razão nenhuma em viver, já que foi tirado de mim a principal razão do meu viver. Fraco, fui parar na UTI do hospital Joana de Gusmão em Florianópolis, hospitalizado por 21 dias. Recuperado, voltei para casa onde morava antes com meus pais.

Na viagem de volta, eu ainda acreditava que tudo aquilo era um sonho e que assim que chegasse em casa eu acordaria e tudo voltaria a ser como era antes. Cheguei e novamente a realidade me veio, e com ela novamente a tristeza. Passaram mais alguns dias e eu comecei a decair novamente, entrei numa profunda depressão. Fiquei la por mais três semanas e meu padrinho veio me visitar. Ao chegar na minha casa, me viu deitado na cama sem forças nem para levantar, me pegou no colo e me colocou no carro, me trazendo então aqui para Porto Alegre onde fiquei hospitalizado por mais 21 dias.

Melhorei e fui para casa de minha tia. Decidi então que não voltaria mais para casa onde morava antes com meus pais, mas mesmo assim minha tristeza não me abandonava e a depressão me consumia novamente. Conheci pessoas que me mostraram uma maneira de fugir desse realidade, veio ai a pior fase da minha vida. Comecei a usar drogas, achava que nelas encontraria a saída para tudo de ruim que acontecia, burrice… Ao invés de saída, o que encontrei foi uma morte mais acelerada, minha saúde piorava a cada dia, infecções, tosse, falta de ar, piora no apetite, emagreci tanto que tive que realizar uma nova internação. Mais uma vez no hospital e então decidi que eu queria sair daquele buraco em que eu mesmo me joguei. Busquei ajuda, psicólogas psiquiatras, remédios, e aos poucos fui me recuperando.

Nesse tempo de internação a equipe medica decide colocar uma gastrostomia devida ao meu peso estar muito abaixo do considerado normal ou ideal. Fiz a cirurgia e uma semana depois descobriram em exames que eu estava com tuberculose, cepácea, e infecção hospitalar. Forma mais 47 dias internado, sendo 21 deles em isolamento total. Momentos de angustia, tristeza, choro, solidão.

Depois desse período recebi alta e comecei a dieta para engordar em casa, minha vida ali tava começando a mudar, recebi apoio da minha família, comecei a retomar o tratamento, consultas com psiquiatra, tudo me fazia acreditar novamente na vida, acreditar que Deus me tirara duas pessoas maravilhosas cujo eu nunca esquecerei, mas me mostrara o valor da vida, o valor de todas as coisas boas que exista nesse mundo.

Hoje estou com 23 anos e, olhando para traz, vejo que aquela frase que minha mãe ouvira quando eu era criança não tinha valor nenhum, vejo hoje que a vida vale mais que qualquer coisa, que qualquer valor seja ela em dinheiro ou em bens, vejo que devemos amar nosso familiares, que devemos escolher muito bem as amizades, e que o futuro só depende de nós, nada e nem ninguém pode estipular um tempo de vida pra você a não ser você mesmo então se existe algum conselho que eu possa deixar seria esse: Lute pela sua vida, pois você é único e sua vitória depende exclusivamente de você AME-SE acima de tudo.”

Depoimento enviado para a equipe do Instituto Unidos pela Vida por e-mail por Cristiano Zanotto.
Este relato tem cunho informativo. Não pretende, em momento algum, substituir ou inferir em quaisquer condutas médicas. Em caso de dúvidas, consulte sua equipe multidisciplinar.

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