Sedentarismo e inatividade física: há alguma diferença?

Comunicação IUPV - 20/06/2022 06:55

Por Sheyla Haun, Fisioterapeuta do Centro de Referência de Fibrose Cística do Hospital Especializado Octávio Mangabeira e membro do Grupo Brasileiro de Estudos em Fibrose Cística (GBEFC)

Se você tem fibrose cística certamente o seu fisioterapeuta já indicou a realização de atividades físicas regularmente como parte do seu tratamento. Cada vez mais autores e pesquisadores compartilham a certeza de que os exercícios físicos só trazem benefícios para a saúde de quem tem a doença, e a sua ausência pode trazer prejuízos cada vez maiores.

A utilização adequada do sistema mais volumoso do corpo, o sistema muscular esquelético, provoca de forma complexa uma adaptação de todos os sistemas funcionais. Já se sabe que os sistemas cardiovascular, respiratório, músculo-esquelético, metabólico e nervoso se beneficiam de atividades físicas, quando praticadas com regularidade.

Porém, sempre há uma desculpa para sair do sofá e começar a levar a sério um estilo de vida mais saudável e movimentado. “ah, mas eu sou sedentário há muito tempo, para mim é mais difícil mesmo”, são frases comuns de escutar. Mas olha só, tenho uma informação legal: sabia que o fato de você ter um comportamento sedentário não te faz necessariamente fisicamente inativo?

Durante muito tempo se usou o termo sedentarismo erroneamente, associando-o à inatividade física, quando na verdade uma pessoa pode ter um comportamento sedentário mas ser fisicamente ativa.

O sedentarismo ou comportamento sedentário, descreve atividades de baixo consumo metabólico (1 a 1,5 mets – 1 met = taxa metabólica em repouso) que são realizadas nas posições sentada, reclinada ou deitada. Então, muitas pessoas passaram a ter um comportamento sedentário durante a pandemia, quando o trabalho em home office e as aulas online prevaleceram. 

O número de indivíduos que começaram a assistir horas ininterruptas de aulas nas telas de tablets e computadores, e de pessoas que se mantinham trabalhando no computador de casa ao invés de realizarem essas atividades presencialmente nas escolas e escritórios, aumentou e elas passaram a ser muito mais sedentárias. Neste cenário, a partir de estudos, estabeleceu-se mais de duas horas sem pausa como excesso de tempo sedentário.

Já a inatividade física é definida como a não realização de exercícios físicos moderados a vigorosos durante o tempo recomendado de 150 minutos semanais, de forma planejada, estruturada e intencional.

Então, um indivíduo que trabalhe em um escritório e permaneça durante quase todo o seu turno de trabalho sentado e gastando pouca energia, é sedentário, mas se esse mesmo indivíduo, todos os dias, pratica 40 minutos de corrida após o trabalho, ele também é fisicamente ativo.

E o contrário também é possível. Um cabeleireiro, por exemplo, que trabalha em sua totalidade de tempo em pé e caminhando no salão, mas não realiza nenhuma atividade física regular, não é sedentário mas é fisicamente inativo.

Os dois cenários são desfavoráveis e cada um deles resulta em prejuízos à saúde de forma independente. O sedentarismo pode acarretar doenças metabólicas, disfunções ósteo-músculo-esqueléticas, envelhecimento não saudável, maior risco de câncer e doenças cardiovasculares.

Para entendermos um pouco melhor vamos observar as categorias de comportamento.

Fonte: professor Fábio Pitta

O professor Fábio Pitta ilustra muito bem as categorias citadas acima. Os busy bees são aquelas pessoas que são bastante ativas, têm um trabalho agitado e praticam atividades físicas de intensidade de moderada a alta por pelo menos 150 minutos por semana.

Os sedentary exercisers são as pessoas que têm um trabalho de comportamento sedentário, que ficam sentadas ou recostadas muitas horas, mas são praticantes de exercícios regulares.

Os light movers são os que têm trabalhos que são realizados em pé ou caminhando, mas não realizam nenhuma atividade física. Por fim, os couch potatoes são aqueles que além de possuírem trabalhos de comportamento sedentário, não praticam nenhum tipo de exercício físico. Claro que esse tipo é o que traz maior comprometimento e prejuízo para a saúde.

Mas existem estratégias para reduzir o comportamento sedentário, como reduzir o tempo de tela, adaptar os locais de trabalho com locais de intervenções físicas, adoção de hábitos como subir escadas, saltar no ponto de ônibus anterior e parar o carro na vaga mais distante do estacionamento.

Realizar exercícios físicos regulares, moderados ou vigorosos com comprometimento, ainda é o melhor recurso para melhorar a saúde como um todo. Buscar um tipo de atividade que seja realizada com prazer facilitará a adesão e a continuidade da realização do tempo recomendado de 150 minutos semanais. O importante sempre é dar o primeiro passo e, com o tempo, perceber que os benefícios serão incalculáveis.

Referências:

https://www.youtube.com/watch?v=9gG-0Wh3jVY&t=3792s

http://previva.com.br/inatividade-fisica-habitos-sedentarios/

Shephard RJ. Exercise and lifestyle change. Br J Sports Med 1989;23: 11-22.

Lazzoli. A inatividade física aumenta os fatores de risco para a saúde e a capacidade física

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Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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