Telessaúde e cuidados à pessoa com fibrose cística

Comunicação IUPV - 11/03/2021 07:22

Por Adriana Faiçal, fisioterapeuta do Hospital Universitário Professor Edgar Santos e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mestre e Doutoranda em Medicina e Saúde pela UFBA

Os últimos meses têm sido, para todos nós, um período de muitos desafios, mas sem dúvidas de grandes aprendizados. Ressignificar, reinventar e criar formas de ofertas de serviços, assim como utilizar ferramentas já disponíveis, porém, pouco exploradas para alcançar um maior número de pessoas possível, são ações que têm estado presentes nas nossas relações de trabalho.

Diante da pandemia da covid-19 e a necessidade de manter a assistência integral aos pacientes com doenças crônicas, estratégias vêm sendo adotadas para a oferta dos serviços. No Brasil, o Ministério da Saúde publicou em março uma portaria com a regulamentação da telemedicina, e posteriormente, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), órgão regulamentador da profissão de fisioterapia, publicou uma resolução com permissão para o atendimento não presencial no contexto da pandemia da covid-19. 

O termo teleatendimento em saúde refere-se a todo o espectro de atividades usadas para fornecer cuidados à distância – sem contato físico direto com o paciente, podendo ocorrer de forma síncrona (telefone e vídeo), assíncrona (mensagens inseridas no portal do paciente ou realização de consultas eletrônicas) e através de agentes virtuais. As novas tecnologias em saúde vêm sendo utilizadas há alguns anos e com diversas perspectivas, desde o monitoramento, autogerenciamento, manejo nutricional e reabilitação.

Nas atuais circunstâncias, em que o distanciamento social tem sido recomendado como medida de prevenção à disseminação da covid-19 e, frente à vulnerabilidade dos pacientes e das necessidades de acompanhamento regular, a incorporação das novas tecnologias é uma estratégia para prover a manutenção do atendimento, independentemente da localização geográfica que o indivíduo se encontre, assegurando o suporte às terapias realizadas com equipe especializada. 

No que se refere à reabilitação, muitos serviços no mundo inteiro vêm lançando mão de recursos tecnológicos como dispositivos, vestes (Wearable Technology) e jogos de realidade virtual para conduzir a chamada Home Rehabilitation (reabilitação em casa). A disponibilidade de tais recursos reforça a ideia de acessibilidade e realização dos cuidados no território do paciente, tendo o suporte remoto de uma equipe especializada. Para além destas possibilidades, aplicativos também têm sido utilizados inclusive para manejo de medicações em tempo real e suporte nutricional concomitante.

Atualmente, conduzimos uma coorte na qual as pessoas com fibrose cística do Centro de Referência do Complexo Hospitalar Professor Edgard Santos são acompanhadas pelo Núcleo de Telessaúde (NUTS) da Universidade Federal da Bahia. Os atendimentos são oferecidos semanalmente, através da plataforma, e as ações envolvem o telemonitormanento, teleconsultoria e telerreabilitação. 

Os participantes têm tido a oportunidade de interagir em grupos virtuais na plataforma e compartilharem suas experiências, de forma segura, com um recurso de fácil acesso e sob a supervisão profissional. A médio prazo, temos nos planejado para incluirmos atividades mais diversificadas, inclusive com a participação dos cuidadores.

Ainda há muito o que aprender e a fazer, mas acreditamos que estamos diante de uma grande oportunidade e uma mudança de paradigma na assistência de pessoas com fibrose cística no Brasil, um caminho que só é possível com a construção, integração e interação de muitas mãos.

Referências: 

Brasil M da S. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Glossário temático: gestão do trabalho e da educação na saúde / Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. 2012:44. http://www.saude.gov.br/editora.

Colombo C, Burgel PR, Gartner S, et al. Impact of COVID-19 on people with cystic fibrosis. Lancet Respir Med. 2020;8(5):e35-e36. doi:10.1016/S2213- 2600(20)30177-6

Nittas V, von Wyl V. COVID-19 and telehealth: a window of opportunity and its challenges. Swiss Med Wkly. 2020;150(May):w20284. doi:10.4414/smw.2020.20284

Smith AC, Thomas E, Snoswell CL, et al. Telehealth for global emergencies: Implications for coronavirus disease 2019 (COVID-19). J Telemed Telecare. 2020;2019. doi:10.1177/1357633X20916567

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Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.

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