Uso de Anticoncepcionais e Pseudomonas na Fibrose Cística

Instituto Unidos pela Vida - 08/07/2013 18:05

anticoncpUma importante questão intriga pacientes e médicos. Sabe-se que mulheres com fibrose cística apresentam uma maior perda de função pulmonar em relação aos homens, o que leva inclusive a um pior prognóstico entre as mulheres.
Para se entender como essa desvantagem ocorre, vamos primeiro falar sobre a Pseudomonas aeruginosa, uma bactéria oportunista associado a infecções na fibrose cística. Mais de 80% dos pacientes adultos com essa doença são cronicamente infectados por ela. A P. aeruginosa é normalmente descrita nos exames de cultura de escarro como mucóide e não-mucóide. Mas o que isso quer dizer?
Primeiramente, P. aeruginosa coloniza a orofaringe (nariz, seios da face e garganta) e então ganha o trato respiratório inferior. A colonização inicial caracteriza-se pelo encontro do perfil não-mucóide, presente na infecção aguda. A detecção rápida e eficiente da infecção primária por essas bactérias é importante para que se inicie brevemente o uso de antibióticos, para que possa retardar o início da infecção crônica. No entanto, essa bactéria possui mecanismos que permitem sua adaptação dentro no pulmão dos pacientes com fibrose cística e muito rapidamente pode estabelecer infecção crônica. Dentre as características dessa adaptação, destaca-se a capacidade desse organismo de produzir um biofilme de alginato que funciona como uma barreira para os antibióticos. Uma vez estabelecida a infecção pelo perfil mucóide, é praticamente impossível sua erradicação. Vale ressaltar que a presença do perfil mucóide está relacionada à infecção crônica por essa bactéria, com declínio da função pulmonar e pior prognóstico da doença.
Por mecanismos antes totalmente desconhecidos, sabe-se que há certa tendência entre jovens mulheres com fibrose cística infectadas por P. aeruginosa sofrerem a conversão para o perfil mucóide mais precocemente do que em homens sob mesmas condições. Um estudo realizado na Irlanda, país onde se encontram maior número de pessoas com FC em toda a Europa, revelou que mulheres parecem ter um risco maior de exacerbações durante o período de alta circulação de um hormônio chamado estradiol, que pertence à família do estrogênio.
O estradiol está relacionado à preparação do útero para a reprodução e a determinação de caracteres sexuais secundários femininos, como o crescimento das mamas, alargamento da bacia e deposição de gordura em determinados locais do organismo. A produção desse hormônio começa na adolescência e vai até a menopausa. Durante o ciclo menstrual, em conjunto com progesterona, esse hormônio prepara o endométrio (membrana que reveste a parede uterina) para implantação do ovulo fecundado pelo espermatozóide.
De acordo com o estudo irlandês, a alta concentração do estradiol em mulheres é responsável por promover a conversão para o perfil mucóide de P. aeruginosa, mais rapidamente nelas do que no sexo oposto. Sua presença também foi fortemente correlacionada com o aumento de exacerbações entre mulheres, com a maior parte delas ocorrendo durante a fase folicular, provavelmente porque esse é estágio do ciclo menstrual com o maior nível de estradiol. Essa fase (folicular), que é a primeira da ovulação, se inicia no primeiro dia do último período menstrual e continua até a ovulação.
No estudo irlandês as mulheres com FC que receberam contraceptivo oral mostraram baixas taxas de infecções, utilizando menos antibióticos do que aquelas não fizeram uso dos contraceptivos orais. A pílula anticoncepcional é composta por dois hormônios sintéticos, um que “imita” o estrógeno e outro que “imita” a progesterona, hormônios naturais da mulher e que controlam o ciclo menstrual e a ovulação. Com a administração destes dois hormônios sintéticos, de forma combinada, tenta-se “enganar” o organismo feminino, para que não se produza aqueles hormônios naturais e, assim, a ovulação não aconteça.
Sendo assim, o estradiol parece ser um grande vilão da saúde das mulheres portadoras de fibrose cística. De acordo com pesquisadores dos Estados Unidos, hormônios da família do estrogênio, podem ter um efeito direto na secreção no cloro, o que explica uma maior gravidade da doença em mulheres. Esse grupo de pesquisa de Chapel Hill, Carolina do Norte, mediram a capacidade do cloro de se mover para dentro e fora das células em mulheres com fibrose cística que não tomavam qualquer contraceptivo, com aquelas que faziam uso do medicamento. Eles notaram que enquanto a taxa de estrogênio era baixa no ciclo menstrual, nenhum efeito sobre as mulheres foi observado. Porém, quando altos níveis de estrogênio foram alcançados na ovulação, o canal de envio de cloro foi inibido por cerca de 50 %. De acordo com o pesquisador chefe do grupo Profº Dr. Tarran, para uma mulher normal tal fato não é relevante. Porém, na fibrose cística, essa perda é muito grande. Imagine uma redução na capacidade de hidratar as vias áreas por quatro ou cinco dias. Isso faz com que essas mulheres se tornem um alvo fácil para microrganismos durante esses dias do seu ciclo.
Esse é um tema novo e de especial interesse para as famílias de meninas e para as mulheres com FC. Sabemos que na fibrose cística as características da doença em cada individuo são peculiares. Aqui encontramos mais um tema para ser discutido e avaliado em sua próxima consulta. Agora as pacientes podem utilizar uma intervenção hormonal que nos momentos apropriados do mês, pode reduzir a probabilidade de infecção.
Converse com seu médico.
Autores: Vanessa Nicolete, Doutoranda em Biologia pela USP (http://lattes.cnpq.br/7342349924036491); Cristiano Silveira, Biólogo.
Fonte: http://health.usnews.com/health-news/family-health/womens-health/articles/2008/11/21/estrogen-may-explain-why-women-with-cystic
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretende substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.

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