Yoga no cuidado da pessoa com fibrose cística

Comunicação IUPV - 08/12/2022 08:43

Nos últimos anos um crescente interesse da população mundial pelo Yoga tem sido perceptível. Essa, que é uma técnica milenar originária da Índia, está ganhando destaque em publicações científicas renomadas com importante contribuição para a disseminação da sua efetividade em diferentes condições de saúde.

No Brasil, o Yoga está incorporado ao escopo das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) sendo ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS) nos diversos níveis de complexidade da assistência.(1) 

Yoga significa “União do Corpo e da Mente”; ao lançarmos mão dessa importante técnica no contexto do cuidado à saúde, compreendemos que os sistemas orgânicos não atuam de forma isolada, tão pouco os aspectos emocionais podem ser negligenciados.

Assim, considerando o conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde, como um estado de bem estar biopsicoemocional, podemos extrapolar que recursos e técnicas que alcançam a saúde física e mental são essenciais na promoção da saúde e na prevenção de agravos.

No que se refere às pessoas diagnosticadas com fibrose cística, temos dados robustos na literatura que reportam o declínio da qualidade de vida com a progressão da doença, relacionando tal desfecho a elevados níveis de ansiedade e depressão, redução da tolerância ao exercício, dor e alteração do sono.(2)(3)

Para esta população exclusivamente, temos ainda poucas publicações disponíveis, contudo, os resultados encontrados são animadores. Em um estudo piloto publicado no ano de 2015, Ruddy e colaboradores demonstraram que adolescentes e crianças com fibrose cística e doença pulmonar leve a moderada submetidos a um programa de Yoga de 8 semanas, apresentaram melhora nos domínios respiratório, percepção de saúde e emoção, avaliados com o instrumento padronizado para qualidade de vida em pessoas com fibrose cística (CFQ-R, Cystic Fibrosis Quality of Life Instrument). (4) 

No ano seguinte, McNamara e colaboradores também publicaram um outro estudo piloto com crianças e adolescentes que realizaram um programa de 8 semanas de Yoga. Os autores demonstraram uma redução notável dos níveis de ansiedade e dor articular após o programa realizado.(5) 

Considerando outras condições respiratórias crônicas, muitos estudos têm mencionado resultados positivos, a exemplo da revisão sistemática publicada também no ano de 2016, sobre os efeitos do Yoga em pacientes asmáticos. Os autores concluíram que há moderada evidência para melhora da qualidade de vida e redução dos sintomas, a despeito da necessidade de estudos com maior rigor metodológico.(6) Ratificando os resultados benéficos mencionados, Estevao (2022) demonstrou em uma revisão da literatura sobre o papel do Yoga nos marcadores inflamatórios, redução nos níveis de cortisol (hormônio do estresse), bem como de citocinas e interleucinas.(7) 

É sabido que o estresse agudo e crônico interfere no eixo adrenal-hipotálamo-hipofisário e no sistema nervoso simpático levando a uma desregulação no sistema imunológico. E o Yoga, o que faz? Age regulando o sistema parassimpático e modula a resposta imunológica. Esses dados são consistentes com os achados reportados por Dutta e colaboradores (2022) em uma ampla revisão sobre pesquisa em Yoga.(8)

Dito isto, gostaria de compartilhar a minha experiência com o Yoga. Sempre tive o desejo de conhecer, mas somente em 2015 comecei a praticar… E foi transformador! Cada vez mais eu percebia o potencial desta técnica que vai além das posturas. O Yoga nos traz grandes ensinamentos com a prática dos Yamas e Nyamas.

Meditar, observar o seu corpo, o estado da sua mente, respeitar os seus limites… Tudo isso torna o Yoga acessível e possível para todos. Hoje, sou professora certificada e o Yoga faz parte da minha prática profissional como fisioterapeuta. Temos um projeto em um hospital que trabalho que envolve outras modalidades de PICS e uso a modalidade nas atividades que desenvolvo na Universidade que trabalho, inclusive com os pacientes diagnosticados com fibrose cística.

Na pandemia, tivemos a oportunidade de realizar grupos virtuais de exercícios, e claro, incluímos o YOGA também! Deixo aqui o meu convite para toda a comunidade: experimente, se desafie a tentar. Cuide do seu corpo, da sua mente e de todo o ecossistema que está envolvido! Namastê.

Por: Adriana Faiçal, Mestre e Doutoranda em Medicina e Saúde (UFBA) e com título de Especialista em Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica (COFFITO)

Referências

1. Informe de evidência clínica em práticas integrativas e complementares em saúde no01/2021. 2021;

2. Cronly JA, Duff AJ, Riekert KA, Fitzgerald AP, Perry IJ, Lehane EA, et al. Health-Related Quality of Life in Adolescents and Adults With Cystic Fibrosis: Physical and Mental Health Predictors. 2019;

3. Kim J, Chung H, Amtmann D, Salem R, Park R, Askew RL. Symptoms and quality of life indicators among children with chronic medical conditions. Disabil Health J [Internet]. 2014;7(1):96–104. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1936657413001520

4. Ruddy J, Emerson J, Genatossio A, Breuner C, Weber T, Rosenfeld M. Yoga as a therapy for adolescents and young adults with cystic fibrosis: A pilot study. Glob Adv Heal Med. 2015;4(6):32–6.

5. McNamara C, Johnson M, Read L, Velden H Vander, Thygeson M, Liu M, et al. Yoga Therapy in Children with Cystic Fibrosis Decreases Immediate Anxiety and Joint Pain. Evid Based Complement Alternat Med. 2016;2016.

6. Zy Y, Hb Z, Mao C, Jq Y, Yf H, Xy W, et al. Yoga for asthma ( Review ) SUMMARY OF FINDINGS FOR THE MAIN COMPARISON. Cochrane Database Syst Rev. 2016;(4).

7. Estevao C. The role of yoga in inflammatory markers. Brain, Behav Immun – Heal. 2022;20(January):1–7.

8. Dutta A, Aruchunan M, Mukherjee A, Metri KG, Ghosh K, Basu-Ray I. A Comprehensive Review of Yoga Research in 2020. J Integr Complement Med. 2022;28(2):114–23.

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