Mãe | Vânia Torres

Instituto Unidos pela Vida - 01/05/2010 21:52

Vânia Tôrres, de 41 anos, é mãe da princesa de Fibra Tereza Vitória. Elas moram em Camaçari, na bela e deliciosa Bahia! Tereza Vitória teve seu diagnóstico de dia 05/07/2005.

“Minha filha nasceu de cesariana, com 3,750 Kg e 47 cm e no 2º dia, apresentou “chiados” fortes no peito e que teve que ser aspirado com mangueirinha, pois segundo o pediatra, seria resíduos do parto, depois ficou tudo bem.

Aos oito meses, foi internada pela primeira vez com rota vírus, ficou no hospital durante quatro dias, fazendo uso de antibióticos, um sofrimento para mim e para ela, pois tinha que dormir junto a ela em um berço, imagine, já que ela mamava e muito e só o leite materno que o organismo dela aceitava, outros alimentos causava-lhe vômitos, muitos.

Depois do primeiro ano, começou a ter pneumonias (foram sete ao total), e apresentava um “catarro” persistente, febres altas, vômitos e uma corisa que não passava, eram tantos remédios, antibióticos, corticoides, radiografias e nada de diagnóstico.

As vezes eu falava com minha mãe: “Mãe, dá vontade de enfiar a mão na garganta dela e puxar este catarro que não sai, parece uma cola…

Quantas noites fiquei sentada com ela no chão do banheiro, a abraçava por trás para massagear-lhe o peito e as costas depois daquela série quase que infinita de tosses, era um martírio para mim, como mãe, ver aqueles olhos vermelhos, lacrimejante dizendo-me: “tá doendo mãe” ou colocar papel toalha ao lado dela para não ter que correr a cada cinco minutos para tossir e escarrar.

Teve algumas pneumonias que tiveram um intervalo inferior a quatro meses de uma para outra, que tinha de limitá-la de tudo: banho de rio, piscina, picolé, sair, enfim, um monte de abreviações que TIVEMOS que fazer e pior, sem saber com o que estávamos lidando.

Até a terceira pneumonia, era um ritual nas clínicas de Camaçari, RX, Amoxicilina e casa… Depois passei a levá-la para Salvador, onde passou a ficar internada para o tratamento, quando apresentava o quadro já sabia, arrumava as nossas malas e já ia preparada, quando a médica me chamava com o laudo do RX já sabia: “mãe, ela vai ter que ficar internada”, mais sofrimento, luta, perseverança, incertezas, indagações… mas muita superação.

Isto tudo acontecendo e eu trabalhando, estudando, tentando dividir-me: como mãe, profissional (trabalho com Recursos Humanos – é minha paixão, uma das), esposa, irmã, filha… Enfim, ter que fazer um verdadeiro malabarismo pessoal para poder conciliar tudo ao mesmo tempo.

Em Junho de 2005, olha ela de novo, D.Pneumonia nos visitando – de novo, já estava farta dela em minha vida, foi quando em 17/06/2005 que estava em uma reunião na empresa, com a cabeça a 1000 por hora e uma amiga – a luz – Márcia Freitas, me perguntou o que eu tinha, aí eu falei que já não sabia mais o que fazer, Vitória estava com pneumonia pela sétima vez, já estava esgotada, foi quando ela me disse: “Vou levar você para conhecer Regina (Drª Regina Terse), ela cuidou do meu filho e se ela não descobrir o que Vivi tem, eu mudo meu nome”, e hoje ela continua com o mesmo nome, graças a Deus.

Fomos no dia seguinte para a consulta, Márcia se dispõe totalmente em conversar com ela primeiro e me acompanhou até a consulta, fui com a minha pasta catálogo, com todos os exames bonitinhos, em ordem cronológica, tudo certinho e todos os resultados memorizados, ditos como se fossem uma narração de um filme: data, exame, resultado, medicação, etc. Daí começou a bateria de exames: broncofibroscopia, RX, exames de laboratório eele: o teste do suor (duas vezes).

Exatos 05 de Julho de 2005, fomos – eu, meu companheiro (o pai) e Tereza. A médica começou a explicar sobre Fibrose Cística, NUNCA tínhamos ouvido falar – e foi conversando sutilmente e eu comecei a abrir os olhos do coração para o que ela estava falando, já estava sem chão, lágrimas nos olhos, coração disparado e perguntei: “É CRÔNICA??” aí quando ouvi a afirmação, perdi a fala, tive aquele momento de estado de graça – zen – sabe aqueles momento que você pensa que morreu? Foi o que senti.

Fomos encaminhadas para a pneumologista – Drª Maria Angélica, excelente profissional, responsável pelo Centro de Referência em FC do Hospital Octávio Mangabeira, em Salvador.

Quando voltamos para Camaçari, estava em estado de choque, tinha que desabafar com alguém, meu irmão, meu ídolo, o padrinho dela – Demetrius, o chamei para falar e quase não consegui, tamanha a dor que estava sentindo, parece que o coração está sendo arrancado no peito, me vi como o ator do filme Oléo de Lorenzo, Nick Nolte, rolando as escadas desesperado.

Como trabalho com medicina ocupacional e trabalhei em empresa no segmento de saúde, você fica antenada para estes tipos de informações e comecei a buscar informações na internet, piorou o meu sofrimento, cada parágrafo lido, uma dor a mais e quando li sobre estimativa de vida, enlouqueci, foram noites e noites em claro, pensando no futuro, no nosso futuro.

Nos primeiros dias do inicio do tratamento, foram muito difíceis, deprimentes, exaustivos, ouvia muitas histórias das mães, via muitos quadros de pacientes – crianças como a minha filha, sérios, ás vezes chegava em casa, as migalhas.

Tive a ajuda e apoio de muitas pessoas naqueles momentos que tanto precisei, foram verdadeiros alicerces que me ajudaram a não me sucumbir ao sofrimento, a não me entregar a impotência ou pior, a ignorância, não de forma pejorativa, mas infelizmente, tê-la adicionada a descrença e a coragem, podem nos fazer perder os nossos filhos.

Hoje, quase cinco anos do diagnóstico, sinto-me extremamente abençoada com a missão a me confiada pôr Deus, pois assim que vejo, não sou mãe de uma criança que tem uma “doença sem cura” e sim que fui presenteada com uma criança tão especial quanto eu, Deus não iria fazer a escolha de forma aleatória, para mim é uma bênção.

Foi determinante para o quadro atual dela é que desde que começou o tratamento em 2005, nunca deixou de ir, sempre sem interrupções, mesmo sem apresentar quaisquer sintomas: diarreias, catarro , febre, cansaço – vai regularmente para a fisioterapia, usa diariamente o pulmozyne e melhor de tudo: NUNCA MAIS teve pneumonia, são cinco anos sem catarro, sem s. aureus, apenas infecções na garganta.

Outro fator que digo com pureza d’alma é metade do quadro da minha filha é o cuidado, não o tratamento, que a Equipe Multidisciplinar do Centro de Referência do HEOMoferta para todos os seus pacientes, é um ato de dedicação, de carinho, de entrega, de solidariedade, eu sou eternamente grata.

Minha filha, hoje com 11 anos, fará 12 dia 11 de Agosto, é linda, a chamo de Minha Gata(mas é mesmo), tem 47 Kg, 1,56 – tenho 1,62, cursa o 7º ano, faz inglês e ginástica rítmica, é muito ativa – ás vezes até demais, é a minha razão de continuar sendo forte, pois ela me transmite a fortaleza que preciso.

Uma vez, uma amiga me escreveu após contar-lhe sobre o que vivia: “Deus não escolhe os capacitados, Ele capacita os escolhidos”, é isso, quero ver a minha filha formar-se, dar-me neto (s?!) e continuar sendo a minha luz, que me ilumina, que me guia.

Muitas vezes, vejo amigos se lamentando pôr besteiras, com lamúrias pôr ” coisas ” que não pode ter ou que perdeu, eu, eu me orgulho de ter PESSOAS na minha vida, pois “coisas” são efêmeras, passam, se deterioram, murcham, secam, enferrujam e PESSOAS, pessoas são ETERNAS.

Muito obrigada pelo espaço, pela oportunidade e pelo site.

Fique com Deus.
Vânia, mãe de TEREZA VITÓRIA – Minha Gata de Fibra.


Depoimento enviado para a equipe do Instituto Unidos pela Vida por e-mail por Vânia Torres.
Este relato tem cunho informativo. Não pretende, em momento algum, substituir ou inferir em quaisquer condutas médicas. Em caso de dúvidas, consulte sua equipe multidisciplinar.

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