A importância da escovação de dentes para pessoas com Fibrose Cística
Instituto Unidos pela Vida - 03/10/2017 15:00 Hoje é o Dia Mundial do Dentista e o Unidos pela Vida não poderia deixar esta data passar em branco. Branco mesmo só o nosso sorriso depois de escovar os dentes! Entrevistamos a cirurgiã-dentista, ortodontista e pós-graduanda em Odontologia Hospitalar Dra. Priscila Bertoncini e trazemos para você dicas sobre higiene bucal e a importância da escovação para a saúde de quem tem Fibrose Cística. Confira!
Unidos pela Vida: Escovar os dentes é fundamental para a nossa saúde. No caso das pessoas que têm Fibrose Cística, a escovação assume um papel ainda mais importante? Como escovar os dentes pode ajudar no bem-estar de quem tem FC?
Dra. Priscila: Todo mundo já ouviu que “A saúde começa pela boca”: precisamos seguir isso a risca! E uma pessoa com Fibrose Cística, precisa seguir ainda mais. A escovação é fundamental para qualquer pessoa com ou sem alguma doença, seja qual for sua natureza.
A falta de higiene bucal faz com uma placa transparente e totalmente grudenta (como se fosse uma cola) se forme sobre os nossos dentes, o chamado “biofilme dental”. Neste biofilme, aderem desde alimentos até as tão temidas bactérias. Nossa batalha contra as bactérias é uma luta de todos os dias, então devemos afastá-las sempre! Passar o fio dental e fazer uma excelente escovação deixa a nossa boca e os nossos dentes limpos, evitando a princípio a cárie, a gengivite (inflamação da gengiva) e a doença periodontal (que é quando a gengivite evolui para a estrutura óssea e ligamentos dos dentes). Muitas pessoas esquecem de higienizar a língua, mas ela também merece atenção, já que os resíduos acumulados nela também podem ser um meio de cultura bacteriana.
O biofilme é um atrativo para as bactérias, então precisamos que evitá-lo a qualquer custo. A orientação para quem tem Fibrose Cística é, além da boa escovação e da higiene após as refeições, fazer um acompanhamento com um cirurgião dentista a cada 3 (três) meses.
Unidos pela Vida: No dia a dia, quais são os riscos de contrair bactérias ou algum tipo de contaminação via oral (através da boca)?
Dra. Priscila: As bactérias estão presentes na casca dos alimentos, no ar, nos objetos… Isso significa que corremos o risco de contrair bactérias de qualquer lugar!
A boca é uma verdadeira colônia de bactérias, que se fixam na superfície dos dentes, nas próteses ou na própria mucosa, formando o biofilme. Esses micro-organismos, quando acumulados, podem causar doenças locais, como a cárie, a gengivite e a periodontite, mas também podem desencadear problemas em outras partes do corpo.
Depois de uma cirurgia na boca, uma limpeza de tártaro ou quando existe uma infecção, a região bucal fica mais sensível e, sem os cuidados adequados, pode ocorrer a bacteremia transitória.
Unidos pela Vida: Bacteremia transitória?
Dra. Priscila: A bacteremia transitória ocorre quando as bactérias encontrar um caminho para sair da boca e adentrar a corrente sanguínea, uma via de livre acesso para o corpo. Se chegarem ao coração, elas podem causar graves complicações, como a endocardite bacteriana, uma infecção que afeta as válvulas cardíacas ou os tecidos do coração e pode ser mais grave ainda se o paciente tiver próteses ou alguma má-formação no órgão.
As bactérias bucais ainda podem causar infecções em outros órgãos ou partes do corpo, aumentando a dificuldade com que são tratadas, já que não estão em seu ambiente natural e, por isso, não há inimigos naturais para auxiliar no combate. As bactérias também podem causar ou agravar casos de pneumonia, já que os micro-organismos levam a infecção para os pulmões, e também quadros de artrite, uma vez que as bactérias inflamam as articulações. Por isso, é preciso ficar atento!
Quando se trata de combater e prevenir que as bactérias da boca circulem pelo corpo, o papel do cirurgião-dentista é fundamental! Ensinar como fazer uma higienização bucal correta e frequente (com a utilização de fio dental e raspadores de língua) é o primeiro passo para prevenir infecções e evitar intervenções cirúrgicas. É importante procurar um profissional qualificado para que o diagnóstico dos pacientes que possuem fatores de risco sejam tratados com atenção redobrada.
Unidos pela Vida: Quais são as dicas ou sugestões para as pessoas com Fibrose Cística?
Dra. Priscila: Vamos lá, anotem aí!
✔ Passar fio dental antes da escovação e escovar os dentes 3x ao dia, no mínimo. Não esqueça de higienizar a língua (usar raspadores de língua). A escovação noturna deve ser a mais caprichosa, com mais atenção. A saliva é uma defesa natural da boca, mas quando dormimos, ela diminui e, com a diminuição perdemos essa defesa. Por isso, antes de dormir, escove os dentes!
✔ Antibióticos na forma de suspensão (líquido) ou corticoides (como o Predsim) normalmente são açucarados; após ingerir, é importante fazer a higienização pelo menos com a escova.
✔ Para quem tem Fibrose Cística, a sugestão é trocar a escova mensalmente. Muitas vezes a própria escova é um meio para proliferação de fungos e bactérias, então não podemos descuidar. Pacientes em tratamento para erradicação de pseudômonas aeruginosa e Burkholderia cepacia devem redobrar o cuidado com suas escovas: a erradicação sendo concluída, troque imediatamente de escova! No dia a dia, para a limpeza da escova, recomenda-se usar clorexidina a 0,12%, na forma líquida ou em spray.
✔ Fique atento sobre onde deixa sua escova! Armazene-a em lugar aberto, longe do vaso sanitário e lembre-se sempre de puxar a descarga com a tampa do vaso fechada, pois as bactérias presentes no local podem se dissipar pelo ar e contaminar a escova.
✔ Quanto ao creme dental, use sempre um que contenha flúor. Se durante as escovações houver sangramento gengival, procure um cirurgião-dentista para orientação.
Em caso de dúvidas ou para outras informações, estou à disposição!
Dra. Priscila Moreira Bertoncini – CRO: 67456/SP
Cirurgiã Dentista, Ortodontista e Pós-Graduanda em Odontologia Hospitalar
—