Depoimento Jenavese Armstrong – Mudanças na minha alimentação após o transplante
Comunicação IUPV - 26/02/2019 11:43Após o transplante de pulmão, descobri que não poderia continuar comendo a típica dieta para Fibrose Cística de alta caloria. Quando aprendi a praticar alimentação consciente, descobri uma nova maneira de aproveitar a comida que eu como.
Por Jenavese Armstrong
Para muitos de nós que temos Fibrose Cística, comer ocupa muito tempo do nosso dia, porque precisamos manter o peso estável. Nossos nutricionistas estão constantemente controlando nosso consumo de calorias e garantindo nossa boa saúde digestiva. A dificuldade em alcançar os objetivos nutricionais pode às vezes exigir tratamentos mais invasivos – mas que salvam vidas – como o tubo de alimentação.
Quando fui diagnosticada com FC nos anos 80, meus médicos e nutricionistas concentraram-se mais na quantidade da minha ingestão de alimentos do que na qualidade. Eu podia comer todas as comidas não saudáveis que desejasse, incluindo fast-food, em todas as refeições sem nenhuma restrição. Minha mãe sempre garantia o estoque de todos os meus salgadinhos favoritos, inclusive os não saudáveis.
Quando adulta, rapidamente percebi que a nutrição afeta minha energia, minha recuperação e meu sistema imunológico – de fato, nós somos o que comemos! Depois de vários internamentos hospitalares , eu pesava 40 quilos enquanto esperava pelo transplante de pulmão. Eu sabia que depois do transplante teria restrições alimentares, porque meu sistema imunológico estaria frágil, mas não me preparei para a possibilidade de ganhar peso. O ganho de peso foi um conceito estranho no meu mundo.
Após o transplante, precisei de um tubo de alimentação por alguns meses para estabilizar o peso. Quando consegui estabilizar , meu organismo precisava de menos energia para respirar e combater infecções, por isso minha ingestão calórica precisou ser ajustada. Os nutricionistas sempre me disseram que o baixo índice de massa corporal está relacionado com a função pulmonar deficiente. Ironicamente, quando eu pesava quase 52 quilos, os médicos responsáveis pelo transplante disseram eu teria uma pequena queda na função pulmonar, o que poderia ocorrer devido ao rápido ganho de peso. Eu precisaria encontrar um equilíbrio saudável.
Como comilona assumida, eu sabia que isso seria um desafio. Eu queria encontrar uma maneira de me satisfazer sem correr risco de infecção ou de elevar o colesterol, potássio ou açúcar no sangue – afetados pelos medicamentos imunosupressores (para evitar a rejeição) e esteroides que venho tomando desde o transplante.
Para lidar com esse problema, busquei a atenção plena (mindfulness) para encontrar meu equilíbrio saudável. Como profissional de saúde mental que ensina atenção plena através da psicoeducação, foi uma boa escolha para mim. Explicando de maneira simples, a atenção plena é o estado em que se está consciente dos pensamentos, sentimentos, das sensações e do ambiente no momento presente.
Estar em atenção plena envolve estar atenta, reflexiva, e ser intencional.
Para mim, o horário das refeições é quando pratico atenção plena planejando refeições nutritivas, refletindo quanto ao uso de ingredientes frescos, e saboreando os alimentos. Adoro cozinhar usando muitas cores e arrumo os alimentos no prato como se ele fosse uma tela e eu estivesse criando uma obra-prima. E como primeiro com os olhos antes de começar a comer usando a boca.
A alimentação consciente é uma prática sem julgamento que se concentra mais em comportamentos alimentares e menos no teor dos alimentos. Como parte da jornada de transplante que passei, precisei mudar a quantidade de alimentos que eu estava acostumada a comer antes do transplante. Para controlar o tamanho das porções é ideal usar pratos e outros recipientes menores. Durante a refeição, procuro mastigar o alimento 32 vezes antes de engolir (como minha tia-avó me ensinou). Antes eu achava essa ideia um pouco ridícula, mas, como a digestão começa na boca, claro que os dentes devem ser incluídos no processo de digestão.
Além de me conscientizar sobre o ganho de peso, precisei encarar também o risco de infecção devido ao comprometimento do meu sistema imunológico. Quando usamos produtos frescos, há um maior risco de infecções se os alimentos forem manuseados ou higienizados de forma inadequada, especialmente em restaurantes. Por isso, preciso evitar carne crua e frutos do mar, já que há possibilidade de contaminação cruzada. E embora compartilhar alimentos seja comum em diversas culturas, fico longe dos bufês e das refeições comunitárias.
Um aspecto importante da atenção plena é demonstrar gratidão. Como recebi um transplante, tenho muitas razões para ser grata. Sou grata por ser capaz de encher meu corpo com nutrientes para me manter bem durante todo o dia.
Antes, meu relacionamento com a comida era baseado principalmente na sobrevivência, mas agora estou mais consciente das minhas escolhas alimentares.
A atenção plena pode ser aplicada a qualquer aspecto da vida e é uma ferramenta que pode ser usada para reduzir a ansiedade enquanto melhora a concentração. Estar atenta, reflexiva, e intencional significa eliminar distrações e caminhar conforme vou experimentando a VIDA!
Jena foi diagnosticada com Fibrose Cística aos dois anos de idade. Apesar de enfrentar muitos obstáculos, conquistou o Bacharelado em Psicologia e o Mestrado em Serviço Social. Sua carreira tem se concentrado em saúde mental e crises na comunidade. Ela recebeu o transplante de pulmão em 19 de maio de 2017, o que permite a ela continuar trabalhando na comunidade. Ela é apaixonada pela família, por comida, viagens e pela humanidade.
Fonte: https://www.cff.org/CF-Community-Blog/Posts/2018/Changing-How-I-Eat-Post-Transplant/
Traduzido por Vera Carvalho, voluntária de tradução para o Instituto Unidos pela Vida. Vera é tradutora profissional com especialidade na área científica (carvalho.vera.carvalho@gmail.com).
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.