Estudo piloto demonstra potencial de novo método para determinar a melhor dose de PERT em pessoas jovens com Fibrose Cística

Comunicação IUPV - 23/02/2020 14:19

Por Ana Pena
Um estudo piloto aponta novo método promissor para estimular a melhor dose de suplementos enzimáticos para a terapia de reposição de enzimas pancreáticas (PERT) com base em diferentes refeições em pessoas jovens com Fibrose Cística (FC).
De acordo com a avaliação, as doses não precisam ser ajustadas com base nas diferenças individuais dos pacientes, como idade, gênero ou índice de massa corporal. O tipo de alimento ingerido parece ser o fator mais importante na determinação da quantidade de enzimas que devem ser administradas para a melhor nutrição possível.
O método poderia ser empregado na prática clínica para auxiliar médicos e pacientes com FC a decidir sobre as melhores doses de PERT, contribuindo assim para a digestão e a absorção de nutrientes mais eficientes, de acordo como os pesquisadores.
O estudo intitulado “Clinical validation of an evidence-based method to adjust Pancreatic Enzyme Replacement Therapy through a prospective interventional study in paediatric patients with Cystic Fibrosis” (em português: “Validação clínica de um método baseado em evidências para ajustar a terapia de reposição de enzimas pancreáticas por meio de estudo intervencionista prospectivo em pacientes pediátricos com Fibrose Cística”) foi publicado no periódico PLOS ONE.
Até 90% dos pacientes com FC necessitam tomar enzimas antes de comer. Isso ocorre porque um muco espesso no pâncreas bloqueia a descarga de enzimas necessárias para digerir carboidratos (açúcares), gorduras e proteínas presentes no alimento. Para evitar desnutrição, os pacientes com FC com insuficiência pancreática são tratados com PERT, que em geral consiste em cápsulas contendo enzimas pancreáticas.
Os pacientes geralmente tomam PERT em dose diária fixa ou ajustam a dose ao tipo de alimento a ser ingerido, por exemplo, aumentando a dose antes de uma refeição rica em gorduras. Isso significa que os pacientes “têm de decidir a dose de suplemento enzimático a tomar toda vez que comem”, escreveram os pesquisadores.
Em função disso, existem “grandes diferenças nos critérios de dose… o que evidencia a ausência de consenso”, afirmou a equipe. A imprecisão na definição das doses foi sugerida como uma das razões por que a absorção de gorduras permanece insuficiente na maioria dos pacientes com FC.
Para superar esse problema, os pesquisadores de diversas instituições europeias juntaram-se para desenvolver o Projeto MyCyFAPP, financiado pela União Europeia. Seu objetivo é estabelecer um método eficiente de ajudar pacientes com FC e médicos a identificar a dose mais apropriada de suplementos enzimáticos.
Para isso, a equipe criou um teste a fim de determinar uma dose ideal teórica (TOD) de suplementos enzimáticos por produto alimentar, mas até agora, a ferramenta foi testada apenas no laboratório. Agora os pesquisadores deram um passo à frente e buscaram validar o método em pacientes com FC.
No estudo, foi avaliada a variabilidade na absorção de gordura entre pacientes com FC após terem comido uma dieta predefinida, e terem recebido a dose de enzimas ideal determinada pelo novo método.
Foram avaliados 43 pacientes jovens com idades entre 2 e 18 anos encaminhados para cinco centros de FC europeus. Foi solicitado que eles seguissem uma dieta fixa por 24 horas, e tomassem a TOD de suplemento enzimático para cada refeição. Os suplementos enzimáticos eram microesferas com revestimento entérico de pancreatina de origem suína, incluindo amilase (para digerir açúcares), protease (para digerir proteínas), e principalmente lipase (para digerir gorduras).
A dieta prescrita para o teste foi composta de seis refeições ao longo de 24 horas e um período de dieta de eliminação que consistiu de três refeições antes e depois da dieta de teste. A distribuição de nutrientes foi de aproximadamente 40% de lipídios (gorduras), 40% de carboidratos e 20% de proteínas.
Para avaliar a eficiência da digestão e da absorção de nutrientes, o coeficiente de absorção de gordura (CFA) foi determinado para cada paciente. O CFA, que é a percentagem de gordura absorvida na dieta, é calculado pela determinação da quantidade de perda de gordura nas fezes, dada uma quantidade total de gordura consumida.
Os resultados mostraram que a administração da TOD de enzimas calculada pela nova ferramenta levou a um CFA mediano de 90%, com pouca variabilidade entre os pacientes. Esse valor é ligeiramente melhor que o relatado em estudos anteriores, e comparável com outros sem uma dose predefinida, de acordo com os pesquisadores.
Os dados também confirmaram que as doses ideais de enzimas variaram significativamente, não apenas devido à quantidade de gordura, mas também devido às características dos alimentos, como quantidades de outros nutrientes e tipo de matriz alimentar.
Além disso, os resultados indicam que a digestão de gordura é mais dependente do tipo de alimento que das características individuais do paciente. Não foram encontradas associações estatísticas entre o CFA e idade, gênero, tipo de mutação CFTR, ou índice de massa corporal dos pacientes.
De acordo com a equipe, os resultados podem oferecer uma nova perspectiva sobre o tratamento da insuficiência pancreática na FC. A equipe também sugeriu que o método desenvolvido recentemente para ajustar a PERT “poderia ser implementado na prática clínica para apoiar as decisões dos médicos e pacientes sobre a dose de suplemento enzimático”. “Idealmente, uma dose adaptada em cada refeição simples poderia ser presumida” disseram.
Para permitir que os pacientes autoadministrem a PERT, os pesquisadores desenvolveram um aplicativo móvel que calcula a dose ideal de suplementos enzimáticos fundamentando-se em uma base de dados de TODs. Em seguida, os mesmos pesquisadores pretendem avaliar os efeitos do uso desse aplicativo sobre os resultados de saúde e qualidade de vida das pessoas com FC.
Fonte: https://cysticfibrosisnewstoday.com/2019/03/21/cf-pilot-study-tests-new-method-determine-best-pert-doses/
Traduzido por Vera Carvalho, voluntária de tradução para o Instituto Unidos pela Vida. Vera é tradutora profissional com especialidade na área científica (carvalho.vera.carvalho@gmail.com).
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.

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