Estudo sugere que a maioria das infecções pulmonares pelo complexo Mycobacterium avium não é transmitida de paciente para paciente
Comunicação IUPV - 11/04/2022 07:37Embora a transmissão de pessoa para pessoa seja possível, a maioria dos pacientes com fibrose cística infectados pelo Mycobacterium avium (MAC) não dividem características similares, de acordo com um estudo realizado nos Centros de Tratamento de Fibrose Cística dos Estados Unidos da América (EUA).
Pesquisadores descobriram alta similaridade genética entre as bactérias MAC isoladas de algumas pessoas que foram estudadas nos Centros de Tratamento, mas apesar disso, a maioria das bactérias isoladas que foram analisadas não estavam relacionadas e parecem ter sido adquiridas independentemente.
Os dados foram publicados no estudo intitulado “Genômica da população e inferência dos grupos do Complexo Mycobacterium avium nos Centros de Tratamento de Fibrose Cística, nos Estados Unidos” publicado na revista Emerging Infectious Diseases do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA.
As pessoas com fibrose cística estão mais suscetíveis a adquirir diferentes tipos de infecções pulmonares, incluindo a MAC – o tipo mais comum de micobactéria não tuberculosa encontrada nessa população. As infecções pulmonares causadas por MAC parecem ser adquiridas provavelmente por via inalatória através de aerossóis. Entretanto, como a MAC se propaga entre indivíduos com a doença é algo que ainda não está totalmente estabelecido.
Para analisar este tema, o time de pesquisadores do Centro de Genes, Ambiente e Saúde do Instituto Nacional de Saúde Judaíco olhou o genoma de 364 bactérias isoladas de 186 pacientes em seguimento nos 42 Centros de Tratamento em 23 estados americanos. Os pacientes tinham entre 9 e 88 anos de idade, com uma média de 35 anos, e 54% deles eram mulheres.
A separação desses isolados foi: 186 pacientes com M. avium (MAC), 134 M. intracellulare (MINT) e 44 com M. chimaera (MCHIM). Aproximadamente 69% das pessoas com fibrose cística tinham somente 1 isolado de bactéria, enquanto 12% tinham 2 tipos de bactérias e 19% tinham 3 ou mais tipos de MAC.
Os pesquisadores usaram uma técnica chamada Sequenciamento do Genoma Inteiro (do inglês: Whole Genome Sequencing), que analisa todos os genes de todos os tipos de isolados. Os pesquisadores compararam as sequências dos genes e encontraram pequenas mutações, chamadas SNPs ou polimorfismo de um único nucleotídeo. Os SNPs são mudanças em um único nucleotídeo ou mutação na sequência do DNA.
Assim, eles determinaram que o valor de corte para o número de diferentes SNPs presentes para representar uma mudança significativa nos grupos de bactérias seriam 20 – o que significa que 20 SNPs ainda poderiam representar um ancestral comum entre os isolados.
Usando esse valor de corte, os pesquisadores encontraram 18 grupos geneticamente relacionados entre as amostras do grupo de estudo, incluindo 3 grupos MAV, 5 grupos MCHIM e 10 grupos MINT. Entre os 3 grupos MAV, haviam 2 grupos que eram de 6 pacientes recebendo tratamento no mesmo Centro, e o terceiro grupo era de 2 pacientes fazendo tratamento em outro Centro.
A maioria das pessoas do grupo MCHIM (56%) recebem tratamento no mesmo Centro. Por outro lado, entre os grupos MINT, somente a minoria (19%) dos indivíduos recebem tratamento no mesmo Centro, o que sugere que a MINT tem um mecanismo de transmissão diferente quando comparada com o MAV e MCHIM. Por outro lado, a maioria dos isolados, não era de grupo algum, indicando outras possíveis fontes de transmissão.
Assim, alta similaridade dos isolados de MAC foram encontrados entre pessoas com fibrose cística, entretanto, os isolados da maioria das infecções por MAC parecem ser adquiridas independentemente e sem um grupo específico de similaridade. De acordo com os pesquisadores, mais pesquisas são necessárias para entender por completo a importância desses achados entre pessoas com a doença.
“Um seguimento epidemiológico nos ajudará a entender se a similaridade genética está relacionada à aquisição por meio da geografia e do ambiente. A maioria das pessoas com fibrose cística (160/186 [86%]) que foram incluídas no estudo não apresentavam genética similar, assim, nós acreditamos que a maioria dos indivíduos com a doença não transmitem MAC de pessoa a pessoa e não dividem as mesmas fontes de contágio”, disse o time de pesquisadores.
A pesquisa ainda fala sobre “a necessidade de continuar o seguimento epidemiológico nos pacientes com doença pulmonar por MAC, com ou sem fibrose cística, para verificar as medidas de controle da infecção e limitar o espalhamento das infecções por MAC quando possível”, disseram os pesquisadores.
Traduzido por: Mariana Camargo, biomédica, PhD e mãe da Sofia, diagnosticada com fibrose cística.
Revisão: Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, fundadora e diretora executiva do Unidos pela Vida, diagnosticada com fibrose cística aos 23 anos. Psicóloga, especialista em análise do comportamento, tem MBA em Direitos Sociais e Políticas Públicas e Mestranda em Ciências Farmacêuticas com ênfase em Avaliação de Tecnologias de Saúde pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.