Conversamos com o Ian Pettigrew, fotógrafo por trás da série fotográfica Salty Girls!
Instituto Unidos pela Vida - 12/06/2015 13:35No mês passado, diversos veículos da imprensa brasileira e internacional divulgaram uma série de fotos de mulheres com Fibrose Cística intitulada Salty Girls (meninas salgadas).
O fotógrafo por trás desse trabalho lindo e emocionante é o canadense Ian Pettigrew de 45 anos, que também tem FC.
Esse não foi o primeiro projeto que Ian dedicou às pessoas com Fibrose Cística. Há pouco tempo, seu livro “Just Breathe” foi lançado no exterior. Na publicação, Ian trouxe fotos e histórias de mais de 90 adultos que têm FC.
Nós aqui do Instituto Unidos Pela Vida fizemos uma entrevista exclusiva com o fotógrafo, que você pode conferir a seguir. Também combinamos com ele que, toda sexta-feira, vamos traduzir a história de algum dos personagens do seu livro e publicar para vocês. Fiquem sempre de olho!
Com quantos anos você descobriu que tinha FC?
Eu descobri que tinha FC quando estava com 38 anos.
Como você descobriu que tinha FC?
Na época eu era casado e nós estávamos tentado ter filhos, mas não conseguíamos. Então, depois de uma série de testes (que nós dois fizemos), eu descobri que tinha algum tipo de problema, mas não imaginávamos que podia ser FC. Ao falar com um especialista eu descobri que nasci sem o ducto deferente, o tubinho que conecta os testículos ao corpo. Depois disso eu fiz exames de sangue e o teste do suor que apresentaram que eu tinha Fibrose Cística.
Como a sua vida mudou após o seu diagnóstico?
Felizmente, meus genes de FC estão em minoria, apesar de eu ter um D508. Minha vida mudou mais trabalhando com esses projetos relacionados à Fibrose Cística.
Eu não consigo expressar em palavras como a minha vida foi se transformando conforme eu fui conhecendo pessoas, ouvindo as suas histórias. Eles se tornaram como uma família pra mim.
Há quanto tempo você trabalha como fotógrafo?
Faz apenas cinco anos que eu olhei para a fotografia mais como uma vocação do que apenas um hobbie. No passado, trabalhei como diretor de arte, e por causa disso entrei em contato com muito fotógrafos por quase 25 anos! Com eles, fui aprendendo aspectos técnicos da fotografia e adicionei um toque de design em todos os meus cliques.
Quando e como você teve a ideia de começar o projeto “Just Breathe”?
Como fotógrafo, eu prefiro trabalhar em projetos, em vez de apenas uma foto ou outra. Eu estava pesquisando assuntos que poderiam se tornar o meu próximo trabalho e, de repente, me dei conta de que nunca ninguém havia feito um projeto de adultos com Fibrose Cística. Ninguém nunca tinha falado sobre nós e nos dado voz. A FC é sempre apresentada como uma “doença de crianças” e eu queria mudar essa percepção não apenas para o meu benefício, mas para o de todos os adultos com FC. Além disso, acho que eu tinha o que eu posso chamar de “a culpa de um sobrevivente”. Por ser um adulto de 40 anos com Fibrose Cística que ainda não entendia direito a doença, gostaria de ouvir de outras pessoas exatamente como elas haviam sido impactadas pela Mucoviscidose.
E o “Salty Girls”?
Esse projeto foi influenciado diretamente pelo Just Breathe, e eu comecei a fotografá-lo enquanto ainda fazia o primeiro projeto.
Durante uma das conversas iniciais, uma das entrevistadas disse que ser mulher já é difícil nesse clima da mídia atual e seus padrões de beleza. Agora imagine adicionar complicações e grandes cicatrizes no corpo por conta de cirurgias?!
Todas essas mulheres me contavam histórias semelhantes, então eu achei que estava na hora de elas terem a própria voz e demonstrarem que, apesar de tudo, seus corpos são lindos e que ninguém pode ter o direito de fazer com que elas se sintam envergonhadas. Eu sei que o projeto poderia ser muito impactante, mas eu ainda fico surpreso ao ver que ele tomou proporções internacionais e que as outras mulheres estão simpatizando muito com as “meninas salgadas”.
Quais são os seus futuros projetos (pessoas e profissionais)?
Depois que o primeiro livro Salty Girls ficar pronto (espero que isso aconteça em setembro) eu vou começar a planejar um segundo livro, no qual pretendo fotografar mulheres de outros países que ainda não visitei. Já fui convidado pela CF Austrália para fotografar neste país, e também estou trabalhando em um projeto similar com as fundações do Reino Unido e Alemanha. Também vou falar com mulheres da costa oeste dos Estados Unidos e do Canadá.
Após esses trabalhos eu provavelmente vou precisar de um descanso. Acredito que o meu próximo projeto sobre a Fibrose Cística vai focar nas famílias que têm crianças com Mucoviscidose e o impacto que isso traz – financeira e emocionalmente – para os outros membros. Em termos pessoais, eu não costumo fazer planos muito distantes. A vida com Fibrose Cística pode ser curta, e eu estou muito ocupado para pensar a longo prazo.
Que mensagem você gostaria de deixar para os brasileiros que têm Fibrose Cística?
A mensagem principal é: você não está sozinho. Com as redes sociais e os grupos de internet, certamente você vai encontrar alguém que estará disposto a te ouvir. O número de pessoas com FC no mundo é pequeno, apenas 70 mil (35 mil só nos Estados Unidos). Eu, pessoalmente, já conversei com pessoas de todo o mundo que falaram que os meus projetos, especialmente o Salty Girls, mudaram as suas vidas e trouxeram esperança. Eu espero que os projetos mostrem que nem tudo é desgraça e melancolia. Sim, a FC é uma doença. Mas a medicina avança e traz esperança de que nós vivamos cada vez mais.