A importância de ampliarmos o olhar ao neurodesenvolvimento de crianças diagnosticadas com fibrose cística

Comunicação IUPV - 19/12/2024 07:20
neurodesenvolvimento de crianças diagnosticadas com fibrose cística

Por Dra. Adriana Faiçal, Fisioterapeuta, PhD, MSc – Universidade Federal da Bahia

Nas últimas décadas, houve um avanço significativo no diagnóstico e tratamento de pessoas com fibrose cística, o que impactou positivamente a expectativa e a qualidade de vida desses pacientes. 

A detecção precoce, a intervenção adequada e o suporte contínuo têm se consolidado com base nas melhores evidências científicas, destacando a recente incorporação da tripla terapia ao Sistema Único de Saúde (SUS).

A fibrose cística é uma doença multissistêmica cuja causa está relacionada a variantes patogênicas do gene CFTR. Sabe-se que a expressão do CFTR também ocorre no Sistema Nervoso Central e Periférico, e que o transporte de cloro desempenha um importante papel na modulação da excitabilidade neuronal, o que interfere na regulação das funções executivas (como memória e atenção), motoras, respiratórias e o controle autonômico das vísceras. 

Assim, alterações no sistema nervoso têm sido observadas em pessoas com fibrose cística, embora ainda não se saiba se essas alterações são primárias ou secundárias, nem em que medida elas se manifestam em todos os indivíduos com a doença.

Pessoas com fibrose cística necessitam de um manejo otimizado da doença, que inclui tratamento farmacológico e cuidados em reabilitação. Nesse contexto, as recomendações para testes diagnósticos funcionais, prescrição de exercícios e fisioterapia respiratória estão bem estabelecidas na literatura e têm direcionado as intervenções em todo o mundo.

Entretanto, no que diz respeito à avaliação do neurodesenvolvimento de crianças com fibrose cística, pouco se tem difundido entre os profissionais de saúde e pacientes. 

A experiência acumulada ao longo dos últimos anos e os resultados de estudos recentes, que identificaram atrasos no desenvolvimento motor, cognitivo e de linguagem por meio de instrumentos padrão-ouro de avaliação, indicam a necessidade de incluir esses testes nos protocolos de avaliação, o que é essencial para uma intervenção precoce e assertiva em crianças com fibrose cística.

Embora ainda seja necessário compreender melhor os mecanismos que levam às alterações no neurodesenvolvimento, é fundamental oferecer um cuidado integrado e abrangente às necessidades das pessoas com fibrose cística. Reconhecer o vasto potencial de plasticidade cerebral e o impacto positivo que essas medidas podem ter ao longo da vida é crucial para melhorar a qualidade de vida e saúde dessa população.

Por Adriana Faiçal, Fisioterapeuta, PhD, MSc – Universidade Federal da Bahia

Glossário:

Excitabilidade neuronal: capacidade dos neurônios de responder a estímulos e gerar potenciais de ação.

Sistema nervoso central e periférico: o sistema nervoso é uma rede complexa de células e tecidos responsáveis por coordenar as funções do corpo, processar informações e permitir a interação com o ambiente, sendo dividido em dois componentes: sistema nervoso central (composto pelo cérebro e pela medula espinhal) e sistema nervoso periférico (inclui todos os nervos e gânglios fora do sistema nervoso central).

Plasticidade cerebral:  também conhecido como neuroplasticidade, é a capacidade do cérebro de se alterar, adaptar-se e reorganizar suas conexões neurais ao longo da vida, tudo isso como resposta a diferentes experiências, estímulos e possíveis lesões.

Referências:

Reznikov LR. Cystic Fibrosis and the Nervous System. Chest. 2017;151(5):1147-1155.

doi:10.1016/j.chest.2016.11.009

Tekerlek H, Yardımcı-Lokmanoğlu BN, Inal-Ince D, Özçelik U, Mutlu A. Developmental Functioning Outcomes in Infants With Cystic Fibrosis: A 24- to 36-Month Follow-Up Study. Phys Ther. 2022;102(6):pzac037. doi:10.1093/ptj/pzac037

Elce V, Del Pizzo A, Nigro E, et al. Impact of Physical Activity on Cognitive Functions: A New Field for Research and Management of Cystic Fibrosis. Diagnostics (Basel). 2020;10(7):489. Published 2020. Jul 18. doi:10.3390/diagnostics10070489

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Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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