Estudo mostra que grande molécula de açúcar quebra as bactérias B. cepacia em pessoas com Fibrose Cística
Comunicação IUPV - 15/02/2020 14:03Por Santiago Gisler
De acordo com estudo, uma grande molécula experimental de açúcar chamada poli (acetil, arginil) glucosamina, ou PAAG, foi capaz de quebrar biofilmes resistentes a tratamentos formados por bactérias do complexo Burkholderia cepacia extraídas de pessoas com Fibrose Cística (FC).
O estudo In Vitro Activity of a Novel Glycopolymer against Biofilms of Burkholderia cepacia Complex Cystic Fibrosis Clinical Isolates (em português: Atividade in vitro de um novo glicopolímero contra biofilmes de isolados clínicos do complexo Burkholderia cepacia na Fibrose Cística) foi publicado na revista Antimicrobial Agents and Chemotherapy (Agentes antimicrobianos e quimioterapia).
O complexo Burkholderia cepacia (Bcc) é uma linhagem de bactérias oportunistas que podem causar infecções respiratórias do trato inferior em pacientes com FC. Geralmente elas aparecem tardiamente na progressão da doença e formam biofilmes (camadas de bactérias que aderem às superfícies ou entre si) que impedem a penetração de antibióticos, reduzindo seus efeitos terapêuticos.
Terapias combinadas que utilizam diferentes antibióticos são uma abordagem comum para erradicar bactérias pulmonares. Contudo, a fracasso na eliminação das colônias dos pulmões de pacientes com FC tem contribuído para o desenvolvimento de bactérias resistentes a antibióticos.
Pesquisadores da Synedgen e seus colaboradores decidiram testar uma nova estratégia de tratamento experimental baseada no uso da PAAG, uma grande molécula de açúcar pertencente a uma classe conhecida como glicopolímeros. O tratamento prévio com PAAG para diferentes linhagens de bactérias demonstrou sua atividade antibacteriana e sua capacidade de aumentar a permeabilidade e diminuir a resistência.
A equipe avaliou a capacidade de a PAAG quebrar os biofilmes de Bcc formados por diferentes Burkholderia cepacia isoladas coletadas de pacientes com FC, bem como aumentar o número de bactérias vivas in vitro ou em cultura no laboratório.
Foram utilizados 13 isolados de Burkholderia cepacia de 11 pacientes com FC (com idades entre 13 e 34 anos) que incluíam diferentes espécies de bactérias, como B. multivorans, B. cenocepacia, B. gladioli, B. vietnamiensis, B. dolosa, e B. cepacia. A maior parte dos isolados era resistente a três antibióticos comumente utilizados: Merrem (meropenem, 69% de isolados resistentes), tobramicina (69% resistentes), e ceftazidima (53% resistentes).
Para avaliar as diferenças na massa de biofilme ou de bactérias vivas no tratamento com PAAG, os pesquisadores contaram e visualizaram o crescimento bacteriano medindo a densidade da amostra por meio da absorbância de luz e utilizando microscopia, respectivamente.
A PAAG reduziu significativamente as massas de biofilme de Bcc de maneira dependente da dose e dependente do tempo. A massa de biofilme foi reduzida 15 a 20 vezes após apenas 10 minutos de tratamento, com a maior quantidade de PAAG testada (200 mcg/mL), e 25 vezes uma hora após o tratamento, em comparação com as culturas de bactérias não tratadas com PAAG.
Observou-se também que os efeitos da PAAG também foram dependentes dos isolados específicos testados, estabelecendo a redução mais robusta em B. cenocepacia entre todos os isolados testados.
O tratamento com PAAG também induziu uma redução da densidade do biofilme em aproximadamente 75 a 80% em todas as espécies de bactérias testadas em comparação com aquelas tratadas com compostos inativos ou de controle. A redução observada na densidade foi encontrada em biofilmes maduros que haviam sido cultivados por um longo período de tempo (48 horas), utilizando tanto concentrações de PAAG mais baixas quanto mais altas (100 e 200 mcg/mL).
Como complemento à medição da massa de biofilme, os pesquisadores também avaliaram o número de bactérias vivas remanescentes após a quebra do biofilme com o tratamento com PAAG. Novamente, observou-se uma redução significativa e dependente da dose em bactérias vivas uma hora após o tratamento, enquanto o tratamento com os controles inativos resultaram em alterações não significativas.
“A PAAG foi capaz de facilitar significativamente a quebra e a remoção de biofilmes pré-formados de todas as seis espécies clínicas de Burkholderia frequentemente associadas a infecções pulmonares na FC”, disseram os pesquisadores.
Eles também notaram que a quebra do biofilme ocorreu logo após o tratamento (10 minutos), sugerindo que isso poderia ser traduzido como tempos efetivos e curtos de tratamento terapêutico. Ainda assim, de acordo com os pesquisadores, tais tipos de análise in vitro podem não representar a complexidade da condição da FC e exigirão mais estudos.
“A quebra rápida da coesão dos biofilmes de Bcc maduros pela PAAG apoia o seu uso em combinação com antibióticos padrão durante o tratamento de infecção ou exacerbação identificada”, acrescentaram. “O desenvolvimento da PAAG para o uso clínico tem o potencial de melhorar significativamente o tratamento de infecções por biofilme de Bcc resistentes associadas com a FC, e de potencializar a atividade dos antibióticos”.
Fonte: https://cysticfibrosisnewstoday.com/2019/04/09/paag-experimental-molecule-disrupt-cf-related-b-cepacia-biofilms/
Traduzido por Vera Carvalho, voluntária de tradução para o instituto Unidos pela Vida. Vera é tradutora com especialidade na área científica (carvalho.vera.carvalho@gmail.com).
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.