Adolescência e fibrose cística – pelo olhar da Psicologia

Comunicação IUPV - 23/02/2022 07:56

A adolescência é uma fase marcada por diversas mudanças físicas, sociais e psicológicas. É importante que essas transformações sejam acompanhadas de perto pela família desse adolescente e, quando houver a necessidade, por um profissional da área da Psicologia.

No cenário da fibrose cística, em que o adolescente precisa enfrentar todos esses desafios da idade aliados à rotina de tratamento da doença, o acompanhamento psicológico se torna ainda mais importante. Para esclarecer dúvidas e mitos sobre esse assunto o Unidos pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística entrevistou a psicóloga Carla Borges. Confira!

Por que o acompanhamento com psicólogo é tão importante entre adolescentes com fibrose cística?

A adolescência em si já costuma ser um período conturbado. Quando falamos de um adolescente com fibrose cística, muitas vezes o cenário é de transformações físicas, típicas da puberdade, que não acontecem como com os outros adolescentes. Pelas próprias características da doença, aspectos como estatura e estrutura corporal acabam sendo prejudicados e o adolescente com fibrose cística se percebe com um corpo muito diferente dos colegas que não têm a doença. 

Os impactos disso são inúmeros, como por exemplo, ser notado sexualmente pelo outro, alguma dificuldade em estabelecer relacionamentos amorosos, ou mesmo sofrer bullying por ter um corpo mais parecido com as formas da infância, apesar da idade já corresponder à adolescência. A rotina de uso de medicamentos, exercícios respiratórios e dieta diferenciada também pode dificultar a socialização do adolescente. O acompanhamento psicológico desse indivíduo pode ser importante no sentido de ajudar a lidar com todas essas dificuldades que, muitas vezes, são inevitáveis entre pessoas com fibrose cística.

Quais impactos esse acompanhamento pode trazer na vida desse adolescente?

Vejo com positividade os possíveis impactos do acompanhamento psicológico para um adolescente com fibrose cística, uma vez que essa assistência pode ajudar a lidar com os muitos sentimentos que permeiam a vida dessa pessoa. 

São comuns as demonstrações de emoções como raiva, revolta, tristeza e angústia diante de todos os enfrentamentos que a fibrose cística pode impor ao adolescente. Em muitos casos, esses sentimentos fazem com que a pessoa questione e até mesmo sabote o seu tratamento, o que acaba sendo extremamente prejudicial à sua vida. Entender as suas angústias e receber ajuda para lidar com elas pode ser fundamental à boa adesão ao tratamento de um adolescente diagnosticado com fibrose cística.

Qual o papel do psicólogo nesse momento de transição entre infância e adolescência no cenário da fibrose cística?

Principalmente ajudar o adolescente a compreender o tempo em que as transformações típicas da adolescência podem acontecer de forma diferente dos pares. Não podemos esquecer que, à medida em que o paciente vai saindo da infância e entrando na adolescência, a família, em um processo natural e saudável, cobra dele uma maior autonomia diante da vida e de seu próprio tratamento, como, por exemplo, ser capaz de tomar sozinho seus medicamentos diários. 

Além disso, devemos lembrar que a grande maioria dos serviços voltados aos indivíduos com fibrose cística funcionam em pediatrias. Ao completar 18 anos, que é o marco etário oficial do final da adolescência, em teoria, essa pessoa deveria deixar a pediatria para ser atendida em outro serviço, o que, na prática, pode significar uma troca de todos os profissionais de saúde que acompanham esse paciente desde o seu diagnóstico.

Os familiares desses adolescentes também devem fazer acompanhamento com psicólogo? Quais os benefícios desse acompanhamento?

Sem dúvida a Psicologia pode oferecer muitos benefícios a qualquer indivíduo, mas isso não é uma regra. Devemos procurar por esse serviço, no geral, quando não conseguimos lidar sozinhos com alguma situação de nossas vidas, quando já tentamos de tudo, mas mesmo assim, não encontramos uma solução. 

No caso dos familiares de pessoas com fibrose cística, oferecer suporte emocional ao paciente e administrar os seus próprios, certamente é uma tarefa árdua. Pensando em tudo isso, é importante que todos os envolvidos tenham à sua disposição esse serviço, mas de fato, utilizá-lo ou não, vai depender de cada um. 

Os benefícios são muitos e diferentes em cada momento do tratamento. No diagnóstico, por exemplo, não são raros os casos em que o pai culpa a mãe e/ou vice-versa pela doença do filho, e o psicólogo pode ajudar a família a compreender a origem genética combinada da fibrose cística e apresentar uma solução para o conflito. Também existe uma condição frequente sobre uma espécie de “luto” do filho idealizado quando o diagnóstico é anunciado, o que pode ser trabalhado no acompanhamento psicológico dos pais. Enfim, são realmente inúmeros os benefícios que a Psicologia pode oferecer no sentido de cuidado da saúde mental, tanto dos pacientes, quanto de suas famílias.

Caso você esteja enfrentando algum momento de dificuldade em relação à fase que você ou seu filho com fibrose cística está passando, lembre-se sempre de buscar a ajuda dos profissionais da saúde do seu Centro de Referência. Além disso, o time do Unidos pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística também está sempre à disposição para auxiliar e você pode entrar em contato pelo e-mail contato@unidospelavida.org.br ou telefone (41) 99636-9493.

Por Kamila Vintureli

Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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