Depoimento – Lorrayne Rayssa de Souza Borges

Comunicação IUPV - 16/11/2022 07:58

Lorrayne Rayssa de Souza Borges tem 24 anos, é Designer Gráfica e mora em Belo Horizonte/MG. Ela foi diagnosticada com fibrose cística tardiamente, aos 17 anos. Sua infância foi parecida com a da maioria das crianças, com muitas atividades e brincadeiras. Porém, com a chegada da adolescência, Lorrayne passou a ter crises de tosse. Na época, os médicos acreditavam que a causa era a asma, bronquite ou algum tipo de alergia.

“Segui assim até os 17 anos, quando meu quadro piorou e precisei ficar internada. Após muitos exames, incluindo o Teste do Suor, o diagnóstico foi confirmado”, relembrou. Lorrayne conta que outro sintoma que sempre apresentou foi a dificuldade para ganhar peso e estatura. “Sempre fui uma criança magra e na escola eu tinha que ir embora no meio da aula pois ficava muito cansada. Meus pais gastaram muito dinheiro com os medicamentos para alergia que os médicos passavam. Infelizmente, nenhum deles desconfiava e a falta de informação desses profissionais me fez viver muitos anos sem o diagnóstico correto.”

Vida após o diagnóstico

Assim que recebeu o diagnóstico para fibrose cística, Lorrayne começou a realizar o tratamento adequado e indicado pela equipe médica. “Essa rotina não me atrapalhava e as tosses e infecções melhoraram muito, mas com o passar do tempo eu parei de me cuidar, saia muito. Não que isso seja proibido, mas precisa ser aliado ao tratamento.”

Lorrayne conta que essa falta de adesão ao tratamento trouxe prejuízos para a sua saúde. “Eu fui ficando mal e com muitas infecções, precisando tomar antibiótico sempre e no ano seguinte ao diagnóstico, já precisei ficar internada. Sempre fui muito ‘rebelde’ no meu tratamento, eu fazia as coisas quando estava mal e depois que eu melhorava, parava de novo. Segui essa rotina por muito tempo.”

Aos 20 anos, o médico da Lorrayne compartilhou uma notícia que a preocupou. “Ele disse que minha função pulmonar estava baixa e que eu precisaria entrar na fila para transplante. Até cheguei a fazer os exames iniciais, mas optei também a começar a realizar o tratamento corretamente.” 

A adesão deu resultados, e quatro meses após a notícia e com novos exames feitos, a recomendação foi totalmente diferente. “Até hoje eu lembro bem que ele disse: ‘Olha, não sei como aconteceu, mas se eu te mandar para São Paulo com recomendação de transplante, os médicos de lá vão falar que eu estou doido. Seu pulmão teve uma melhora que eu não estou nem acreditando‘. E foi assim que o transplante foi descartado.”

Vida acadêmica

Lorrayne passou a se dedicar ao tratamento e frequentou a academia por quase um ano de maneira regular. “Apesar de todos os desafios, minha vida sempre foi normal, como a de todo jovem, tirando os momentos de crise com as tosses e infecções. Foi nesse tempo que eu entrei pra faculdade. Eu conseguia ir, mas quando estava mal não rendia tão bem, foi quando comecei de novo a falhar no tratamento. Fiquei internada no final do segundo período e resolvi trancar”.

Foi em outubro de 2021, durante uma internação, que aconteceu uma virada de chave na vida de Lorrayne. “Eu conheci o Thalles, diagnosticado com fibrose cística. Ele estava muito mal, nós conversamos muito pelo WhatsApp e nos corredores, com distanciamento. Ele puxava a minha orelha quando eu contava que não fazia o tratamento direito e me contou que ele não estava bem justamente por isso. Ele abriu os meus olhos para muitas coisas e foi essencial na minha vida.”

Lorrayne afirma que, depois de ouvir os relatos de Thalles, sua mente mudou. “Hoje em dia eu me vejo como uma pessoa totalmente diferente em relação à fibrose cística e ao tratamento. Infelizmente o Thalles faleceu dois meses depois de nos conhecermos, eu me emociono muito ao falar dele. Acredito muito em encontros que são destinados e precisam acontecer, e creio que o meu encontro com o Thalles era necessário, até mesmo antes dele partir”.

Hoje em dia Lorrayne faz todo o tratamento corretamente, e após a sua saída do hospital passou a praticar atividades físicas regularmente. “Hoje eu posso jogar vôlei, algo que eu sempre amei fazer e que antes não conseguia. Os médicos estão bobos de ver como eu melhorei, como meus exames estão melhores e sempre elogiam esse avanço. É isso que eu quero passar para as pessoas que tem fibrose cística e para os pais também, que o exercício físico, junto com o tratamento feito de maneira correta, está mudando a minha vida.”

Lorrayne reforça que o tratamento não a atrapalha em nada e manda um recado para toda a comunidade da fibrose cística do Brasil. “Eu tenho muita fé em Deus, nos meus orixás e sei que eles estão sempre comigo, já mostraram isso muitas vezes. Sem a fé eu nem estaria lutando. Meu plano para o futuro é continuar trabalhando com Design. Além disso, eu e minha noiva estamos montando nosso apartamento e em breve vamos nos mudar. Quero muito casar, viajar bastante, quero viver. Não deixarem de acreditar, sonhem e nunca desanimem.”

Por Kamila Vintureli

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Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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