Entrevista com Miriam Figueira
Instituto Unidos pela Vida - 18/08/2017 08:00Miriam Figueira, biomédica formada pela UFRJ é doutora com passagem pela Universidade de Stanford é colunista do Instituto Unidos pela Vida, e esteve no final de julho em um curso em Portugal. Saiba quais foram as impressões dela:
Vocês esteve recentemente em um curso promovido pela Dra. Margarida Amaral, uma das maiores autoridade mundiais em fibrose cística. Do que tratou o curso?
O curso era sobre células epiteliais, fisiologia e fisiopatologia. Como o CFTR está presente em células epiteliais, o principal foco foi, de fato, as alterações na FC em diferentes tecidos.
Você era a única brasileira lá?
Fui a única pessoa de uma instituição do Brasil. Havia mais uma brasileira no curso, só que era uma doutoranda de um programa na Alemanha.
O uso de organóides ficou famoso no Brasil por conta das aplicações dos “microcérebros” no estudo dos efeitos do vírus da zika no sistema nervoso de bebês. É a mesma técnica?
Os organóides usados no estudo da FC são retirados através de uma biopsia da região retal, completamente indolor. Essa já é uma grande diferença, pois não acontece dessa forma nos mini cérebros. Não conheço detalhes da técnica para fazer comparações.
Como os “mini-guts” (apelido dos organóides obtidos de celulas intestinais) podem ajudar no desenvolvimento de novas drogas para a FC?
Eles são uma excelente ferramenta para detectar a resposta a um farmaco de forma personalizada. Ou seja, pode-se testar in vitro a resposta de pacientes a futuros tratamentos. Estudos apontam para a correlação da resposta obtida nos testes in vitro com para a resposta in vivo (nos pacientes).
Atualmente dezenas de moléculas estão sendo investigadas no tratamento da FC (antibióticos, anti-inflamatórios, moduladores do gene CFTR…). Na sua opinião, quais as abordagens mais promissoras?
Todas são importantes. As pessoas respondem de forma diferente aos tratamentos e alguns pacienes podem se beneficiar mais de uma abordagem específica do que outros. Por isso, para mim, todas são importantes e promissoras.
Estamos falando de que horizonte de tempo até essas drogas se tornarem disponíveis comercialmente?
Difícil prever. Pesquisas podem levar anos. No entanto, há drogas moduladoreas do CFTR (ivacaftor e lumacaftor
) que já estão no mercado em vários países. Outras empresas estão focando nessa abordagem o que pode trazer novidades e, quem sabe, baratear o custo altíssimo dessas medicações.
Os portugueses desejam fazer pesquisas aqui no Brasil? Por que não aconteceu ainda?
É desejo dos portugueses e dos brasileiros também. A Unicamp está bem empanhada nisso. No entanto, falta investimento em Ciência no país. O governo brasileiro está indo na direção oposta e cortando investimentos em Ciência e Tecnologia. Além disso, não temos no país a cultura da doação privada para a pesquisa. Também não temos no país a cultura de associações ou fundações de pacientes investindo na pesquisa local no desenvolvimento de novos tratamentos. Sem isso, seremos sempre dependentes de tecnologia externa.
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