Pesquisadores dos EUA estudam o Trikafta em crianças
Comunicação IUPV - 13/12/2021 15:22Pesquisadores do Instituto Breathing do Hospital Infantil do Colorado, EUA, estão participando de quatro novos estudos para verificar o impacto a longo prazo do Trikafta (elexacaftor, tezacaftor e ivacaftor) em crianças com fibrose cística abaixo dos 06 anos de idade; sua efetividade em crianças abaixo de 06 anos, e encontrar tratamentos alternativos para aqueles que não se qualificam para a terapia, baseados em suas mutações genéticas.
O time, liderado pela médica Edith Zemanick, pneumologista pediátrica, se juntou ao ensaio clínico de fase 3 (NCT03691779) que apoiou a expansão recentemente aprovada para tratamento do Trikafta (comercializado pela Vertex Pharmaceuticals) em crianças abaixo de 06 anos.
O Trikafta, aprovado nos EUA para comercialização em 2019, antes era limitado a pacientes acima de 12 anos que tivessem ao menos uma mutação F508del no gene CFTR (regulador de condutância transmembranar da fibrose cística) – a causa genética mais comum da doença, vista em até 90% dos pacientes em alguns países.
“Quando o Trikafta foi aprovado em 2019, ele se tornou o tratamento mais efetivo até então, ajudando substancialmente até 90% dos pacientes com fibrose cística”, disse a Dra Zemanick. “De imediato, melhoras robustas foram observadas em pacientes acima de 12 anos, e nós queríamos avaliar rapidamente se esse tratamento também seria seguro e eficaz em pacientes mais jovens. Até agora, há uma necessidade em chegarmos ao tratamento mais efetivo da doença em jovens, com o objetivo de prevenir complicações que são conhecidas por começarem cedo na infância”, disse a Dra Zemanick.
O estudo internacional, no qual foi publicado esse ano, foi conduzido em 21 lugares de 5 países diferentes e monitoraram crianças de 6 a 11 anos durante 24 semanas de tratamento. Os achados demonstraram que o Trikafta levou a melhoras significativas em medidas chave da doença, incluindo melhora na função pulmonar, aumento do peso e diminuição dos níveis de cloro no suor a valores abaixo do valor diagnóstico em mais de 80% das crianças.
“Quando estivemos aptos para iniciar o Trikafta em idades mais jovens, os resultados foram dramáticos”, disse a Dra. Zemanick. “Muitos pais comentaram que eles não faziam ideia que seu filho não estava se sentindo bem, ou não tinham tanta energia como outras crianças, porque seus pulmões não os estavam deixando viver o seu potencial. Agora eles estão aptos a verem o que outras crianças podem fazer com melhores pulmões e status nutricional.”
A equipe de Zemanick agora está ajudando a liderar dois estudos patrocinados pela Fundação Americana de Fibrose Cística, a CF Foundation. O estudo denominado PROMISE (NCT04038047), recrutou 490 pacientes com a doença, com 12 anos ou mais, e está em andamento. Esse estudo observacional irá examinar os efeitos a longo-prazo do Trikafta na função pulmonar, cloro no suor, infecções e inflamações das vias respiratórias, doenças digestivas e pancreáticas, assim como a diabetes relacionada à fibrose cística e doença no fígado, por 2 anos.
O Hospital Children’s no Colorado também está participando de um estudo chamado BEGIN (NCT04509050), conduzido em 34 lugares diferentes dentro dos Estados Unidos, e está recrutando até 210 crianças com fibrose cística com até 5 anos de idade. Este estudo irá avaliar o Trikafta quando o medicamento estiver disponível para essa faixa etária, e irá comparar com a monoterapia Ivacaftor (Kalydeco).
Finalmente, um estudo multicêntrico chamado RARE (NCT03161808) está recrutando até 500 pacientes com fibrose cística com idade acima dos 12 anos para identificar possíveis tratamentos para aqueles que não se qualificam pro Trikafta baseado em suas mutações genéticas. Esse estudo irá coletar amostras de células e sangue por até 5 anos.
“A aprovação do Trikafta para crianças mais novas é um grande passo, mas nosso trabalho ainda não está finalizado até termos a cura para a fibrose cística”, disse a Dra. Zemanick. “Nós estamos levando esforços locais no estudo RARE para coletarmos células e bio espécies de quase 10% da população com a doença e com mutações raras. Isto é, encontrar uma terapia altamente efetiva que modifique a doença, assim como o Trikafta modificou, para populações em que ele não funciona.”
O médico Scott Sagel, pneumologista pediátrico e diretor do Centro de Fibrose Cística da Universidade do Colorado, acrescentou: “Eu estou muito orgulhoso do papel que o nosso Hospital está tendo no desenvolvimento e aprovação desses tratamentos altamente efetivos para nossas crianças com fibrose cística. Nosso papel bem sucedido nesses ensaios clínicos é uma prova do comprometimento da nossa equipe, das crianças com a doença e de seus familiares para encontrar os melhores tratamentos para a fibrose cística.” Ainda acrescentou: “Pesquisadores do nosso Centro de Pesquisa estão ajudando a conduzir estudos a nível nacional para melhor entender a biologia dos tratamentos com moduladores da proteína CFTR, e a determinar mudanças importantes nos biomarcadores de doença pulmonar e restauração da proteína CFTR.”
Trikafta no Brasil
Em 26 de março de 2021 a indústria fabricante do Trikafta solicitou o registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O pedido foi feito para pessoas com fibrose cística elegíveis com 6 anos ou mais e que tenham pelo menos uma mutação F508del no gene regulador da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR) ou uma mutação no gene CFTR que é responsiva com base em dados in vitro.
Considerando a data do início do processo no site da Anvisa, e sem contar possíveis atrasos referentes a envios e solicitações de novos documentos, o prazo previsto na RDC 204/2017 para conclusão do registro se encerrou em 27 de julho de 2021.
Diante da mora no registro, após diversas reuniões, solicitações de informações juntamente à indústria, e sem novas atualizações do sistema de consultas da Anvisa, em 23 de setembro o Instituto Unidos pela Vida e a Associação Brasileira de Assistência à Mucoviscidose (ABRAM) enviaram um ofício à Anvisa solicitando atualizações sobre a situação da análise e o prazo previsto para a decisão final, além de ter submetido via lei de acesso à informação.
A resposta da Agência chegou no dia 05 de outubro de 2021, por e-mail, com nota técnica informando que foi emitida exigência técnica para esclarecimentos quanto aos aspectos referentes à qualidade do medicamento. A empresa peticionou o cumprimento no início de setembro de 2021 e tais esclarecimentos já foram distribuídos ao especialista responsável pela análise da qualidade, que realizará a avaliação ainda no próximo ciclo de trabalho (outubro a dezembro/2021). Clique aqui para conferir a resposta à matéria na íntegra.
Traduzido por Mariana Camargo, biomédica, PhD e mãe da Sofia, diagnosticada com fibrose cística.Revisão: Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, fundadora e diretora executiva do Unidos pela Vida, diagnosticada com fibrose cística aos 23 anos. Psicóloga, especialista em análise do comportamento, tem MBA em Direitos Sociais e Políticas Públicas e Mestranda em Ciências Farmacêuticas com ênfase em Avaliação de Tecnologias de Saúde pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.