Exame de ultrassom pode auxiliar no diagnóstico de insuficiência pancreática em crianças

Comunicação IUPV - 07/03/2022 07:32

Um exame de ultrassonografia não invasiva pode ajudar a detectar mudanças no pâncreas de crianças com fibrose cística e ajudar no diagnóstico precoce de insuficiência pancreática exócrina (IPE) – que ocorre quando o pâncreas não produz enzimas digestivas suficiente. É o que sugere um estudo realizado na Turquia. 

O método, chamado de Elastografia de Ondas de Cisalhamento Pontual (EOCP), é uma técnica fácil e barata de ser realizada, de acordo com os cientistas. “Poderia ajudar a melhorar o diagnóstico dos pacientes”, eles disseram. Isso é importante, visto que a IPE pode levar a desnutrição e diabetes. 

O estudo intitulado “Avaliação de crianças e adolescentes com Fibrose Cística por Elastografia Pancreática” foi publicado na revista Pediatrics International.  

Em pessoas com fibrose cística o muco, que é mais espesso, se acumula em diferentes órgãos, incluindo o pâncreas, o que faz com que ele fique inflamado e cause muita dor. Esse muco também bloqueia a liberação de enzimas necessárias para a digestão correta dos alimentos, em especial as gorduras, resultando na insuficiência pancreática exócrina. A função do pâncreas é dividida em exócrina e endócrina. A exócrina produz as enzimas digestivas, e a endócrina produz hormônios que são liberados na corrente sanguínea, como a insulina. 

Na fibrose cística, a insuficiência pancreática começa cedo, sendo detectada em aproximadamente 40-50% dos bebês ao nascimento, e é encontrada entre 85-90% das crianças com um ano. A diabetes também pode se desenvolver com o tempo, o que resulta na diminuição das funções endócrinas do pâncreas. 

Enquanto a insuficiência pancreática endócrina é relativamente fácil de detectar, não existe um teste  claro para detectar a insuficiência exócrina. Para medir a absorção de gordura pelo organismo, é realizada a pesquisa de gordura nas fezes e o exame de elastase fecal, que é o padrão ouro para detectar a IPE. Entretanto, esse procedimento é bem demandante para o paciente e para o laboratório. 

A Elastografia de Ondas de Cisalhamento Pontual é um método não invasivo de ultrassonografia utilizado para quantificação de elasticidade e rigidez de um tecido. Apesar de ser uma técnica muito utilizada, poucos estudos verificaram o seu envolvimento no pâncreas de adultos e crianças com fibrose cística. Na EOCP, o amolecimento do tecido, devido ao acúmulo de gordura, leva a diminuição do score gerado por essa técnica. 

Nesse estudo, os pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Dicle, na Turquia,  avaliaram o pâncreas de crianças com fibrose cística usando a técnica de EOCP e comparou os resultados com crianças sem a doença para verificar se essa técnica poderia ajudar no diagnóstico de IPE. 

Um total de 55 crianças com fibrose cística – 24 meninas e 31 meninos – com idade média de 9 anos, foram incluídos no estudo e comparados com 60 crianças sem a patologia (grupo controle). Foram incluídas 29 meninas e 31 meninos com idade média de 7,7 anos no grupo controle. Além disso, mais da metade das crianças com fibrose cística(58%) apresentavam baixo índice de massa corporal (IMC), uma medida de presença de gordura corporal. 

A média do valor da EOCP foi de 1,12 em crianças sem fibrose cística e de 0,97 entre as crianças com fibrose cística, o que foi estatisticamente significativo, segundo os pesquisadores. No grupo das crianças com a doença, os valores mais baixos de EOCP correlacionaram com a idade mais velha, mais estatura e maiores níveis de glicose no sangue. Em crianças sem a doença rara, os scores altos de EOCP foram associados com a idade da criança: quanto mais velho, maior o score. 

Em geral, esses resultados sugerem que essa técnica de ultrassonografia é capaz de detectar mudanças no pâncreas de crianças com fibrose cística e pode auxiliar no diagnóstico precoce de IPE, disseram os pesquisadores. “Esses achados são importantes especialmente pelo fato da expectativa de vida desses pacientes ter aumentado significativamente na última década.”

A investigação da elasticidade pancreática e a detecção da insuficiência exócrina usando EOCP (um método simples, não invasivo e barato) em período precoce e antes dos sintomas clínicos pode contribuir positivamente para os resultados a longo prazo em crianças jovens, concluíram os pesquisadores. As limitações do estudo foram o pequeno número de pacientes incluídos na pesquisa e a falta de confirmação da insuficiência pancreática por outros métodos. 

Fonte: https://cysticfibrosisnewstoday.com/2021/09/23/ultrasound-imaging-cf-children-may-aid-early-pancreatic-insufficiency-diagnosis/   

Traduzido por: Mariana Camargo, biomédica, PhD e mãe da Sofia, diagnosticada com fibrose cística.

Revisão: Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, fundadora e diretora executiva do Unidos pela Vida, diagnosticada com fibrose cística aos 23 anos. Psicóloga, especialista em análise do comportamento, tem MBA em Direitos Sociais e Políticas Públicas e Mestranda em Ciências Farmacêuticas com ênfase em Avaliação de Tecnologias de Saúde pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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