Depoimento Marindia Cecchetti – Vida nova após o transplante

Comunicação IUPV - 07/06/2022 06:21

“Eu recebi a ligação do transplante no dia 27 de setembro de 2021, Dia Nacional da Doação de Órgãos. Foi uma surpresa. Imaginava que ia ficar mais tempo na fila de espera, mas graças a Deus apareceu um órgão compatível e naquela madrugada, às 02h57, a Dra Jaqueline ligou.”

Foi nessa hora, nesse exato segundo, que a vida da Marindia Cecchetti Lahm se transformou. Ela tem fibrose cística e entrou na fila para o transplante pulmonar em outubro de 2020. Diferente do que acontece na maioria dos casos, a espera foi menos demorada do que Marindia esperava. Em menos de um ano após entrar na fila, recebeu a tão esperada ligação.

“Na hora, quando eu vi o DDD na tela do celular, eu já imaginei que seria da equipe de transplante. Fiquei muito emocionada, muito feliz e logo fui tomar banho e me preparar.  Arrumei minha mochila para ir ao hospital e chegando lá eles me deram as primeiras orientações, fiz alguns exames, e fui para a sala de preparação cirúrgica. Fiquei calma e passei toda essa tranquilidade para a minha família. Apesar disso, quando cheguei na sala de cirurgia, confesso que fiquei com muito medo. Medo de perder essa oportunidade e não poder viver essa vida maravilhosa que me aguardava, mas graças a Deus deu tudo certo e a cirurgia durou aproximadamente 10 horas.”

Marindia realizou o procedimento no Hospital de Clínicas de Porto Alegre/RS. Como o Estado da Bahia ainda não faz transplantes pulmonares, a mudança para o sul do Brasil foi necessária para entrar na fila de espera por um novo órgão. 

“Eu acordei 3 dias depois do procedimento porque foi uma cirurgia muito extensa e que exige bastante cuidado antes, durante e depois. Quando despertei, toda a equipe estava do meu lado para conversar e me acalmar. Assim que eu me dei conta de que o transplante foi feito, que eu estava ali na UTI e que tudo estava bem, a primeira coisa que pensei foi agradecer a Deus. Pensei ‘meu Deus, eu estou viva, eu nem acredito nisso, muito obrigada meu Deus’. E depois veio a dor. No início sentimos muita dor no tórax, mas isso é um processo natural e existem medicamentos que ajudam a aliviar o desconforto. Depois disso fui ficando mais consciente, entendendo melhor a situação e recebendo orientações da equipe, dos enfermeiros e dos médicos. Pedi para avisarem minha mãe que eu estava bem, acordada e que tinha dado tudo certo, mas ela já sabia e toda a família já celebrava minha nova vida.”

Preparação para o transplante

Além da mudança de cidade, antes de realizar o procedimento Marindia passou pela reabilitação pulmonar, processo que é acompanhado de perto por uma equipe de fisioterapia e de cirurgia torácica.

“Eu fazia as atividades três vezes por semana com todos esses profissionais, mas por conta da pandemia, optamos pela telemedicina. Eles me ligavam por meio de uma chamada de vídeo e me orientavam sobre os exercícios. Além disso, também tive que me internar algumas vezes para controlar o nível de infecções. O objetivo disso? Estar o melhor possível para quando chegasse o momento de receber o transplante. Com muito esforço e disciplina, tudo deu certo.”

Rotina após o transplante

Depois do procedimento, a rotina de tratamento se intensificou, principalmente por conta da pandemia causada pela covid-19, cenário que exige ainda mais cuidados.

“Evito o contato com o público para não pegar covid-19 ou outras viroses e doenças, e sigo fazendo a reabilitação pulmonar três vezes por semana. Junto com a equipe maravilhosa de fisioterapia, faço atividades para fortalecer os músculos dos novos pulmões. Também recebo uma medicação injetável para controlar ou eliminar o citomegalovírus, vírus que fica ativo no organismo da pessoa transplantada. Em casa eu tomo os comprimidos para evitar a rejeição e faço exercícios para expandir o pulmão. É uma rotina intensa, cansativa, mas que vale muito a pena.”

Futuro

Marindia é médica veterinária e apaixonada pela profissional. Ela afirma que seus planos para estudo e trabalho são bem amplos e sonha em poder voltar a atuar na área que tanto ama o mais breve possível.

“Ainda não tenho nada definido por conta de todos esses cuidados que preciso seguir. Estou buscando uma saída e verificando qual parte da veterinária eu posso trabalhar para não ter contato com bactérias, vírus e outros germes. Pensei em algo na área de marketing de empresa, gerência ou algo nessa linha. Eu tenho muitos sonhos e me adapto muito fácil com todas as mudanças que a vida colocou no meu caminho. Acredito que Deus vai me dar uma luz e logo vou encontrar uma saída para voltar ao trabalho de uma forma que eu me apaixone novamente, seja na medicina veterinária ou em outra área.”

De acordo com Marindia, a doação de órgãos foi sinônimo de recomeço, uma nova chance para que pudesse estar com a sua família e com as pessoas que a amam.

“O sim de outra família permitiu que, hoje, meus familiares e os de outras sete pessoas, pudessem celebrar uma nova oportunidade de viver. Sabemos que é muito difícil para quem doa, mas é um dos maiores atos de amor e generosidade que podemos ter. Acredito que é importante passarmos esse sentimento adiante, incentivar outras pessoas a declararem o desejo de se tornar doadores, para que outras não percam suas vidas na fila de transplante. Para mim, doação de órgãos significa uma nova oportunidade de vida.” 

Marindia ainda reforça que toda luta sempre está acompanhada de algum aprendizado, e que ele deve ser compartilhado para que possa ter mais valor e agregar na vida de outras pessoas.

“A mensagem que eu deixo para quem ainda está na fila ou que vai entrar é: não desanime. Sei que o processo é demorado e tem muita coisa que precisamos mudar no Brasil para que possamos estabelecer uma cultura doadora mais ampla e fixa na cabeça das pessoas, mas não podemos perder a esperança e não podemos perder a alegria de viver. Quando estamos alegres e motivados, contribuímos para a evolução do nosso tratamento. Quando estamos tristes, a imunidade cai e a gente acaba piorando o nosso quadro. Sei que é difícil ficar em casa, ficar no oxigênio, mas a gente precisa mentalizar que tudo nessa vida é passageiro e esse é só um momento de dificuldade que você passará, mas que em breve Deus vai te abençoar e você vai receber o esperado órgão. Depois disso, é só viver. Os cuidados continuam, afinal, o transplante não é a cura, é um tratamento, mas você terá mais qualidade de vida e ficará mais satisfeito e feliz para poder compartilhar com quem você ama os melhores momentos da sua vida.”

Por Kamila Vintureli

Quer fortalecer o trabalho realizado pelo Unidos pela Vida? Clique aqui e escolha a melhor forma de fazer uma doação.

Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

Fale conosco