Níveis elevados de açúcar no sangue à noite podem afetar a função pulmonar em adultos com fibrose cística

Comunicação IUPV - 04/12/2023 08:10

Declínio nos valores de VEF1 foram observados no estudo de monitoramento contínuo da glicose

Altos níveis de açúcar no sangue à noite estão associados a pior função pulmonar em adultos, mas não em crianças com fibrose cística , descobriu um estudo.

Durante uma semana de monitoramento contínuo da glicose, foram observadas anormalidades de açúcar no sangue em quase todos os adultos e crianças com fibrose cística avaliados, mesmo quando outros testes feitos no mesmo período retornaram resultados normais.

“Até onde sabemos, este é o primeiro estudo relatando perfis glicêmicos durante o dia e a noite em crianças e adultos com fibrose cística sem diagnóstico prévio de diabetes relacionada à doença”, escreveram os pesquisadores. “Nossos resultados apoiam a triagem contínua para intolerância à glicose em pessoas com fibrose cística.”

O estudo, “Os índices glicêmicos à noite medidos por CGM são preditivos para uma função pulmonar mais baixa em adultos, mas não em crianças com fibrose cística”, foi publicado no Journal of Cystic Fibrosis.

As anormalidades no metabolismo da glicose são comuns na fibrose cística, ocorrendo em cerca de 40% dos bebês e crianças com a doença, e cerca de metade desenvolve diabetes relacionada à fibrose cística (DRFC) na idade adulta.

Notavelmente, as alterações no metabolismo da glicose são relatadas como associadas a declínios na função pulmonar e no estado nutricional. As diretrizes de cuidados recomendam que as pessoas com fibrose cística sejam rastreadas quanto a anormalidades da glicose a partir dos 10 anos de idade.

O monitoramento contínuo da glicose (CGM), que rastreia automaticamente os níveis de açúcar no sangue ao longo do dia ou da noite, é uma maneira de detectar essas alterações, mas os parâmetros de teste que podem ser mais úteis não estão bem estabelecidos.

47 pacientes no estudo foram considerados em risco de diabetes relacionada à fibrose cística

Pesquisadores na Bélgica usaram o CGM para avaliar os padrões de açúcar no sangue em 47 crianças e adultos com fibrose cística, mas sem diagnóstico de DRFC, embora todos fossem considerados em risco de diabetes relacionado à doença. Nenhum fazia uso de moduladores de CFTR, considerado um tratamento altamente eficaz.

Esses pacientes – 21 adultos e 26 crianças, todos acompanhados no centro de fibrose cística do Hospital Universitário de Ghent – foram submetidos a monitoramento contínuo de glicose entre janeiro de 2016 e junho de 2019. Dados clínicos de seus registros médicos no ano anterior e posterior ao CGM também foram avaliados .

De acordo com o protocolo do centro, os pacientes receberam CGM se apresentassem anormalidades em um teste oral de tolerância à glicose – feito para comparar os níveis de açúcar no sangue em jejum com aqueles logo após o consumo de açúcar, geralmente como uma solução de glicose xaroposa – ou tivessem um valor elevado de HbA1C, um medida do nível médio de açúcar no sangue de uma pessoa nos últimos três meses.

Cerca de metade dos 25 pacientes que receberam um teste oral de tolerância à glicose no momento da CGM apresentaram níveis normais de glicose.

Para monitoramento contínuo da glicose, um sensor foi inserido na gordura abdominal do paciente por sete dias; os dados do dispositivo foram baixados e analisados. Os participantes também mediram seus próprios níveis de açúcar no sangue duas vezes ao dia.

Os resultados normais do CGM foram definidos como níveis de açúcar no sangue superiores a 140 miligramas por decilitro (mg/dL) por menos de 4,5% do tempo e nenhuma leitura igual ou superior a 200 mg/dL.

Tanto crianças quanto adultos mostraram um “perfil glicêmico desviante no CGM”, escreveram os pesquisadores, com 96% dos pacientes (45 de 47 pessoas) tendo um resultado anormal.

A maioria não consegue atingir a faixa normal de glicose durante a noite

Especificamente, mais da metade dos pacientes (27 ou 57,4%) não atingiu um intervalo normal de glicose durante o dia (70–140 mg/dL) por pelo menos 90% do tempo e 87,2% (41 pessoas) também não alcançaram à noite.

Entre as crianças, grande parte das medidas de exposição à glicose foram maiores durante o dia do que à noite. Entre os adultos, nenhuma dessas medidas diferiu significativamente por hora do dia.

A função pulmonar foi monitorada com o volume expiratório forçado em um segundo (VEF1), uma medida de quanto ar pode ser exalado à força em uma única respiração. Um declínio na função pulmonar foi observado entre o ano antes e depois da CGM em crianças, enquanto nenhuma mudança significativa durante o estudo foi observada em adultos.

A função pulmonar no momento da CGM não foi associada a nenhuma medida de glicose em crianças. Mas para adultos, os indicadores de níveis mais altos de glicose noturna no sangue estão associados a uma piora na função pulmonar.

Especificamente, para cada aumento de 1% na quantidade de tempo gasto com níveis de açúcar no sangue acima de 140 mg/dL à noite, foi observado um declínio de 0,77% nos valores de VEF1.

“Na coorte de adultos, foi encontrada uma associação entre o nível de exposição de glicose à noite e menor função”, escreveram os pesquisadores.

Os parâmetros do CGM não foram associados ao estado nutricional, medido pelo índice de massa corporal, em crianças ou adultos. Altos níveis de açúcar no sangue, particularmente à noite, em pessoas com fibrose cística podem ser em parte devido a sua dieta, sugeriram os pesquisadores. Para apoiar um estado nutricional saudável, os pacientes geralmente são aconselhados a aumentar a ingestão de carboidratos, gorduras e proteínas (macronutrientes), com muitos pacientes comendo um lanche antes de dormir.

“É justificável sugerir mais pesquisas sobre o impacto da composição de macronutrientes dos alimentos no controle da glicemia de pessoas com fibrose cística.”, disseram os pesquisadores. Nada do que eles estudaram muda a intervenção de adicionar um lanche na hora do dormir em pessoas diagnosticadas com a doença.

Este estudo “mostrou anormalidades na homeostase da glicose em quase todos os pacientes com fibrose cística selecionados”, apesar das leituras normais nos testes de tolerância oral à glicose e nos valores de HbA1C, escreveram os pesquisadores.

“Mais pesquisas devem se concentrar em encontrar limites para resultados específicos da fibrose cística relacionados  a idade”, acrescentaram.

Fonte: https://cysticfibrosisnewstoday.com/news/high-blood-sugar-night-tied-poorer-lung-function-cf-adults/. Acesso em 04 de junho de 2023.

Traduzido por: Mariana Camargo, biomédica, PhD e mãe da Sofia, diagnosticada com fibrose cística.

Revisão: Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, fundadora e diretora executiva do Unidos pela Vida, diagnosticada com fibrose cística aos 23 anos. Psicóloga, especialista em análise do comportamento, tem MBA em Direitos Sociais e Políticas Públicas e Mestranda em Ciências Farmacêuticas com ênfase em Avaliação de Tecnologias de Saúde pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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