Pesquisa revela que prática de atividade física frequente para quem tem FC pode representar menos tempo no hospital

Instituto Unidos pela Vida - 29/07/2015 16:43

Artigo escrito por Stephen Shannon, colunista da Cystic Fibrosis News Today e também pesquisador na área de Ciências Biomédicas, traduzido por Eduardo Trunci, tradutor voluntário do Instituto Unidos pela Vida e também da revista americana Scientific American, do California Institute of Technology e também do site TED.

Embora a observação da melhora da minha saúde quando pratico atividade física não seja tão confiável, muitos estudos têm investigado os benefícios da atividade física em pessoas com Fibrose Cística (FC). Um pesquisador, Courtney Wheatley, explicou, na introdução a um novo estudo, que “os benefícios sistemáticos terapêuticos do esporte na FC são muito bem conhecidos, demonstrando a habilidade de reduzir o característico declínio anual de 2-3% da função pulmonar, aumentar a resistência dos músculos respiratórios, aumentar a tolerância aos exercícios físicos, ajudar na limpeza de secreções, aumentar a capacidade aeróbica e resultar no aumento da sobrevivência de pacientes com FC que têm uma capacidade aeróbica maior.”

Para melhor entender os benefícios da atividade física, é importante entender o papel da regulação de íons na perpetuação dos sintomas característicos da FC. Em um pulmão saudável, um gradiente de Cl- e Na+ existe fora das células nas vias respiratórias, as quais aspiram água através da célula para hidratar a superfície. Essa água, parte do líquido superficial das vias respiratórias (ASL, sigla em inglês), ajuda o pulmão a mover o muco pelo transporte mucociliar.

Na FC, porém, a superfície das vias respiratórias fica desidratada devido à um imprópio balanço de íons. Um motivo desse desequilíbrio vem do fato de que o CFTR, que serve como um canal de cloro, frequentemente tem sua função severamente reduzida, impossibilitando a saída do Cl- da célula. Uma segunda razão é que outro canal de íons, o canal epitelial de sódio (ENaC, sigla em inglês), fica hiperativo quando o indivíduo tem FC e leva o Na+ novamente para dentro da célula, longe da superfície da célula. A redução de Cl- e de Na+ resultante nas vias respiratórias inibe o fluxo de água, o que inibem a remoção do muco do pulmão.

Recentemente, um grande foco tem sido posto na tentativa de melhora do mal balanço de íons na FC com a criação de um conjunto de novos medicamentos para FC, como o Kayldeco e o Orkambi, mas também está sendo lentamente revelado que o exercício físico deve também ajudar o balanço de íons reduzindo a atividade do ENaC e promovendo os canais de cloro ativados com cálcio (CaCC, sigla em inglês), que ajuda a promover o aumento dos níveis de Cl- e Na+ fora da célula, hidratando as vias aéreas do pulmão.

Um estudo recente publicado na Respiratory Medicine, por Courtney Wheatley e seus colegas, tem contribuído com mais evidências dos benefícios do exercício físico em pacientes com FC em um nível celular. O estudo observou que “pelo menos a curto prazo, exercício moderado pode trazer benefícios similares para mediar a saída de Cl- aos da medicação padrão, o albuterol,” o qual é o broncodilatador padrão usado no tratamento da FC.

O objetivo era determinar se o exercício físico pode fornecer melhorias na regulação dos íons no pulmão, se comparado com o albuterol. O processo foi medido usando a coleta de condensados de expiração e também das diferenças de potenciais nasais. Investigadores monitoraram 14 voluntários com FC e 16 voluntários saudáveis e mediram seus níveis de Condensados de Expiração (EBC) e de Diferenças de Potenciais Nasais (NPD), usados como medições da regulação de íons, 60 minutos após exercícios físicos ou depois da administração de albuterol sozinhos. Eles descobriram que não havia nenhuma grande diferença no aumento líquido de Cl- do EBC medido após a administração de albuterol comparado ao aumento líquido de Cl- do EBC medido após os pacientes completarem a atividade física.

Os autores, na conclusão, notaram a possível aplicação das descobertas para aqueles com FC. “O que se sabe é que pessoas com FC que são mais ativos têm maior chance de sobrevivência, e a participação em atividades físicas tem mostrado melhorar as medidas de estados clínicos como o FEV1. Então, por si só ou na sequência de um episódio, o aumento observado de Cl- no EBC, usado como um medidor indireto do fluxo de Cl-, não deve ser o suficiente para alterar o fenótipo clínico, no entanto o hábito da atividade física e seu potencial para ajudar a melhorar algumas das imparidades na regulação de íons são provavelmente significantes clinicamente.”

Parece então que o exercício físico não frequente não é suficiente para trazer benefícios à saúde daqueles com FC, mas é o exercício físico habitual e consistente ao longo do tempo que irá melhorar a saúde dos pacientes com FC.

Sou sempre o primeiro a me irritar com uma rotina fixa de exercícios calculados, mas não posso negar que quando fui leal à tal rotina, pude experenciar as minhas épocas mais saudáveis. Quando consideramos um plano de exercício, como eu geralmente tento, deve-se notar que o exercício não precisa ser 30 minutos quatro vezes por semana se matando na esteira; ele pode ser simplesmente adotar um estilo de vida ativo no qual você participa de atividades que você gosta, que podem ir de dança à escaladas.

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Para aqueles que têm FC e estão interessados em começar ou continuar um estilo de vida ativo, sugerimos que você entre em contato com a sua equipe médica para identificar quais atividades são as mais recomendadas de acordo com o seu tratamento e condição clínica.

Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.

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