Sono e Fibrose Cística: Relação entre o relógio interno corporal e as mutações

Comunicação IUPV - 27/07/2019 09:00

Um camundongo com a mutação delta F508 no gene CFTR da Fibrose Cística (FC), mostrou que essa alteração também pode estar relacionada com distúrbios nos genes que regulam o ciclo do sono, conhecido como relógio circadiano. Esse foi o resultado apresentado no estudo “Desregulação da expressão gênica do ritmo circadiano em ratos com Fibrose Cística”, publicado no Journal of Circadian Rhytms.
As evidências mostram que as pessoas com FC frequentemente possuem disfunções de sono, como padrões de sono alterados e casos de apneia (interrupção da respiração durante o sono). Como resultado, a má qualidade de noite dormida tem muitas implicações para a saúde, incluindo alterações no metabolismo, resistência à insulina e mau funcionamento do sistema nervoso.
O mais importante é que a má qualidade de sono também afeta o desempenho do sistema imunológico, tornando as pessoas com FC mais vulneráveis a ficarem doentes, tendo infecções pulmonares. 
Até agora, os pesquisadores acreditavam que a má qualidade de sono nessas pessoas era causada pelos sintomas respiratórios. No entanto, os novos relatórios mostram que as crianças com FC têm características respiratórias parecidas com as de crianças sem a doença, e portanto, esse não seria o único motivo pelas noites mal dormidas. 
Para entender se a FC poderia estar relacionada diretamente com o relógio interno que regula o ciclo diário de sono-vigília (ritmo circadiano), os pesquisadores da Universidade Case Western Reserve usaram um modelo de rato com FC para estudar as mudanças nos genes que regulam esse relógio.
Os camundongos usados na pesquisa tinham a mutação delta F508 no gene CFTR, que é a mutação mais comum na FC, em cerca de 70% dos portadores da doença. 
Os ratos do grupo controle (sem FC) e aqueles com a doença foram divididos em dois grupos: animais que mantiveram seu ciclo normal de sono-vigília; e os que foram privados de dormir. Para induzir os distúrbios do sono, os pesquisadores mantiveram os camundongos acordados por seis horas após a fase ativa do animal durante a noite, aplicando agitação constante.
Quando a equipe comparou os genes do relógio circadiano dos camundongos com FC privados de sono com os camundongos de grupo controle, foi possível perceber que esses genes estavam significativamente desregulados. 
Os resultados mostraram que a atividade dos genes circadianos CLOCK e CRY2 foi significativamente aumentada nos cérebros de camundongos com FC, em comparação com camundongos controle em condições normais de sono. O mesmo foi observado para o gene Bmal1 no jejuno, parte do intestino delgado.
Após a privação do sono, os camundongos com FC tiveram uma expressão desregulada dos genes do relógio circadiano, em comparação com os camundongos controle privados de sono. Especificamente, a atividade de CLOCK, Bmal1 e PER2 aumentou no cérebro, e PER1 e PER2 aumentou no pulmão. 
Comparando ratos com FC privados de sono aos ratos com a doença em sono normal, os pesquisadores observaram que aqueles em privação apresentaram aumento da atividade de Bmal1 no cérebro e de PER1 no tecido adiposo (de gordura). Uma grande parte dos genes do ritmo circadiano também estava desregulada nos pulmões dos animais, o que não havia sido observado em camundongos controle. 
No geral, os resultados sugerem que o gene CFTR com mutações pode ter efeitos amplos, causando alterações no relógio biológico dos animais, o que consequentemente pode causar uma má qualidade de sono.
Os pesquisadores viram uma “grande diferença entre os grupos controle e os grupos com FC em ambas as condições de sono”, escreveram.
“Os resultados mostraram que tanto a falta de CFTR, devido a mutação, quanto a privação de sono estão associados a alterações importantes e variadas na expressão gênica do relógio circadiano”, concluiu a equipe, acrescentando que os “achados no tecido pulmonar dos camundongos com FC indicam que alterações na expressão dos genes do relógio circadiano podem causar mudanças nos mecanismos pulmonares e causar infecções”. 
Fonte: CYSTIC FIBROSIS NEWS TODAY. Mutation in CFTR Gene Affects the Body’s Inner Clock, Mouse Study Suggests. 23 de maio de 2019. Disponível em: https://cysticfibrosisnewstoday.com/2019/05/23/mutation-in-cftr-gene-affects-the-bodys-inner-clock-mouse-study-suggests/
Tradução: Julianna Rodrigues Beltrão, acadêmica do 9º período de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR); presidente da Liga Acadêmica de Humanização do Cuidado em Saúde (LAHCS); atua no setor de Psicologia e Projetos do Unidos pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística.
Revisão: Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, psicóloga – CRP 08/16.156, especialista em análise do comportamento, fundadora e diretora geral do Unidos pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística, diagnosticada com FC aos 23 anos de idade.
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.
 

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