Tratamento para Pseudomonas aeruginosa intravenoso pode não ser melhor do que os tratamentos inalatórios

Comunicação IUPV - 15/08/2022 07:25

Crianças com fibrose cística (FC) em sua primeira infecção por Pseudomonas aeruginosa ou no início de uma nova infecção, geralmente recebem tratamento com antibióticos intravenosos (IV). Porém, este tratamento pode não ser mais efetivo do que fazer o tratamento com antibióticos inaláveis sozinho, ou em combinação com outros antibióticos. É o que sugere um estudo realizado na Turquia. 

Este estudo observou que tratamentos IV também estavam associados com mais exacerbações pulmonares e piora na função pulmonar após um ano, embora as crianças que fazem tratamento com antibióticos IV também apresentem uma doença mais avançada.

O estudo chamado “Efetividade de diferentes protocolos de tratamento para erradicação em uma nova infecção por Pseudomonas aeruginosa em crianças com Fibrose Cística”, foi publicado na revista científica Pediatric Pulmonology

Infecções pulmonares crônicas por P. aeruginosa estão associadas a piores resultados em pessoas com fibrose cística. Uma identificação e tratamento precoces dessas infecções são consideradas cruciais na prevenção do estabelecimento de uma infecção crônica prejudicial. 

Antibióticos administrados nos estágios iniciais, quando a bactéria ainda não apresenta sua forma mucoide – o que significa que ainda falta o muco espesso e grosso para que faça com que elas sejam resistentes ao tratamento – são mais prováveis de tratar a infecção de forma mais efetiva. 

O que se diz no mundo

Os protocolos dos Estados Unidos, Reino Unido e Europa são a favor do uso de antibióticos inaláveis como tratamento de primeira linha para a erradicação de P. aeruginosa nos estágios iniciais de infecção. Os antibióticos IV são recomendados para o caso de uma piora repentina dos sintomas, que são chamadas de exacerbações pulmonares. 

Sobre o estudo

Pesquisadores da Universidade Hacettepe, na Turquia, conduziram um estudo retrospectivo e observacional para “avaliar a efetividade de diferentes estratégias para erradicação da primeira infecção por P. aeruginosa, com o objetivo de determinar o melhor manejo e prognóstico dessas crianças.”

Eles revisaram dados de 399 crianças com fibrose cística que foram acompanhadas em diferentes Centros de Referência, de 2015 a 2019. Foram incluídas crianças com o primeiro resultado positivo para P. aeruginosa ou uma nova infecção após pelo menos um ano sem nenhuma infecção. Foram excluídas as crianças que foram infectadas cronicamente pela bactéria. 

Um segundo exame bacteriano, confirmando a infecção, foi considerado como o “episódio”. Um total de 140 episódios foram analisados, envolvendo 80 meninas e 60 meninos com uma idade média de sete anos durante a primeira infecção ou novo episódio de infecção. Na maioria dos casos, a infecção foi identificada por meio do exame de swab ao invés do escarro. 

No início da análise, a P. aeruginosa mucoide – associada ao declínio da função pulmonar – foi detectada em 27 episódios (19,3%). Além disso, em 14 casos (10%), as bactérias isoladas eram resistentes a pelo menos um antibiótico. 

Outras bactérias que são geralmente encontradas no pulmão, como a Staphylococcus aureus, foi identificada junto com a P. aeruginosa em 84 casos. 

Um total de 69 crianças (49%) demonstraram sintomas (tosse, dificuldade em respirar, febre e catarro) quando foram infectadas com a P. aeruginosa. Insuficiência pancreática – quando o pâncreas não produz enzimas digestivas suficientemente, algo comum na fibrose cística – foi detectada em 133 crianças. 

O tempo médio para o início do tratamento, após o diagnóstico da infecção, foi de oito dias.

Três diferentes antibióticos foram utilizados como tratamento. Assim, as crianças foram agrupadas de acordo com o tratamento obtido. Um grupo recebeu uma combinação de dois antibióticos IV por 14 dias. Outro grupo foi tratado com tobramicina inalada por 28 dias, duas vezes por dia. O terceiro grupo tratou com tobramicina inalada por 28 dias e Ciprofloxacina oral por 14 dias. 

Resultados

Dos 140 episódios analisados, 53 foram tratados com antibiótico IV, 62 com tobramicina isolada e 25 com tobramicina e ciprofloxacina. A combinação de antibióticos mais comum IV foi de ceftazidime e amicacina. 

O sucesso da erradicação – definida como uma amostra negativa para infecção após uma ou duas semanas do término do tratamento, e pelo menos três testes negativos em um período de 12 meses – foi alcançado em 85 dos 140 episódios analisados, correspondendo a uma taxa de sucesso de 60,7%.

A erradicação teve mais sucesso nas crianças que fizeram tratamento inalatório com tobramicina combinada com ciprofloxacina oral, com taxa de sucesso de 72%. A tobramicina, quando administrada sozinha, teve uma taxa de sucesso de 59,7% e a terapia IV obteve 56,6% de sucesso.

Entretanto, não houve diferença estatística evidente no sucesso de erradicação entre os três grupos. 

“Catorze dias de tratamento IV com agentes anti-pseudomonas não foi melhor do que tobramicina inalada por 28 dias com ou sem ciprofloxacina oral.”, disseram os pesquisadores. “Adicionar ciprofloxacina oral não trouxe nenhum benefício adicional ao tratamento.”

As crianças tratadas com antibióticos IV eram significativamente mais novas na sua primeira infecção (média de idade de 5,95 anos), comparadas àquelas que receberam somente tobramicina (idade média de 7,94 anos) e a terapia combinada (idade média de 8,92 anos).

A média de exacerbações pulmonares após um ano de tratamento foi significativamente maior no grupo IV (1,88) do que nos outros dois grupos (1,18 e 0,08 respectivamente). Em concordância com esses achados, a função pulmonar após um ano também era menor no grupo de crianças tratadas com antibiótico IV, reportaram os pesquisadores. 

Além disso, a idade da criança, o gênero, função pulmonar basal inicial, infecções frequentes, tempo que levaram para iniciar o tratamento ou resistência antibiótica a Pseudomonas, não pareceram afetar o sucesso do tratamento. 

“Por outro lado, os sintomas respiratórios iniciais foram o preditor mais significativo para afetar negativamente o sucesso do tratamento.”, disseram os pesquisadores. 

“Nosso estudo não identificou um avanço no tratamento intravenoso comparado ao inalatório para a erradicação da P. aeruginosa.”, concluíram os pesquisadores. 

Entretanto, eles notaram que esses achados são limitados à falta de um grupo controle para comparação dos dados. Crianças que foram tratadas com antibiótico IV também apresentaram maiores sintomas respiratórios no momento do início do estudo do que as crianças dos outros dois grupos, sugerindo que “o tratamento intravenoso foi administrado nas crianças que apresentaram a doença em estágio mais avançado.”

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Fonte: https://cysticfibrosisnewstoday.com/2022/03/31/iv-antibiotic-no-more-effective-inhaled-antibiotics-pseudomonas-aeruginosa-lung-infections-children/?utm_source=CF&utm_campaign=7d63ad94a9-CF_ENL_3.0_NON-US&utm_medium=email&utm_term=0_b075749015-7d63ad94a9-74002041. Acesso em 19 de abril de 2022. 

Traduzido por: Mariana Camargo, biomédica, PhD e mãe da Sofia, diagnosticada com fibrose cística.

Revisão: Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, fundadora e diretora executiva do Unidos pela Vida, diagnosticada com fibrose cística aos 23 anos. Psicóloga, especialista em análise do comportamento, tem MBA em Direitos Sociais e Políticas Públicas e Mestranda em Ciências Farmacêuticas com ênfase em Avaliação de Tecnologias de Saúde pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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