Volta às aulas em tempos de pandemia: saúde mental e o papel da equipe interdisciplinar

Comunicação IUPV - 19/02/2022 07:06

O ano letivo começou, e mesmo com o avanço da vacinação contra a covid-19, muitos familiares de pessoas diagnosticadas com fibrose cística estão com dúvidas sobre o retorno para o ambiente escolar. “Este é o momento certo?” ou “Meu filho terá algum prejuízo para a saúde?” são alguns dos questionamentos que causam preocupação neste público.

No texto Tudo o que você precisa saber sobre a volta às aulas em tempos de pandemia, a pneumologista pediátrica, Dra. Virgínia Auxiliadora Freitas de Castro trouxe respostas para essas e outras questões. Clique aqui para conferir. 

Mas e quando o assunto é saúde mental, o que é preciso levar em consideração neste momento de volta às aulas? De acordo com a psicóloga Thais Amorim, é preciso levar em conta como a pandemia causada pela covid-19 afetou crianças e adolescentes com fibrose cística.

“Sabemos que a covid-19 pode causar problemas respiratórios graves, e considerando esse cenário, percebemos o quanto essa preocupação gerou angústia entre quem tem a doença e seus familiares. Dependendo dos sintomas e sua gravidade em cada sujeito, há uma experiência de viver com fibrose cística que envolve restrições e isolamentos, seja na impossibilidade do contato com outras pessoas ou na vivência de uma rotina exaustiva e intensa de tratamento. Sendo assim, é possível que algo nessa experiência de isolamento forçado, de quebra de rotina e de distanciamento físico, que pela primeira vez foi vivido por toda a população durante a pandemia, tenha impactado quem tem fibrose cística de uma maneira mais profunda ou de maior compreensão.”

Para Thais, é importante que as pessoas diagnosticadas com fibrose cística e seus familiares não enxerguem o ambiente escolar apenas como um espaço de ensino e aprendizagem diária.

“Também é preciso vê-lo como um espaço de socialização, de troca, de possibilidades para a construção de laços. Nesse sentido, é importante que a família e a equipe interdisciplinar que acompanha esse aluno compreendam o quão essencial é o convívio e a ampliação de contato dessas crianças e adolescentes com fibrose cística com outras pessoas da comunidade. Como falei antes, esses pacientes já passam por experiências de muitas restrições simplesmente por viverem com uma doença rara e crônica, então essas questões devem ser avaliadas com muito cuidado e sempre considerando os impactos físicos e emocionais que podem causar.”

Equipe interdisciplinar

A psicóloga Thais ainda ressalta que, quando o assunto é volta às aulas em tempos de pandemia, o impacto desse retorno em cada família, criança e adolescente com fibrose cística é algo muito singular e que deve ser avaliado de maneira individual.

“Apesar disso, é importante que as famílias possam dividir os seus medos, aflições e preocupações com a equipe interdisciplinar que faz o acompanhamento no Centro de Referência e com a própria escola. O objetivo desse compartilhamento é reforçar o alcance dessa rede de apoio tão importante no momento da volta às aulas. Nesse sentido, a equipe tem um papel muito importante de olhar o sujeito como um todo, não apenas pelo viés biológico, mas também pelo viés social e psicológico, podendo avaliar as perdas e ganhos que esse retorno ao ambiente escolar pode trazer para aquele indivíduo e família.”

Papel da escola 

As fases da infância e adolescência são marcadas por um processo de construção pessoal, tornando cada indivíduo um ser muito mais complexo do que vemos nas cartilhas e manuais médicos. Por conta disso, de acordo com Thais, a escola tem um papel muito importante para o desenvolvimento e crescimento de cada estudante.

“A escola é o que chamamos de ‘espaço outro’, que não é nem a família e nem o hospital. Ela é um ambiente onde as crianças e adolescentes podem ter contato com outras referências para se constituir como sujeitos. Sendo assim, acho essencial o diálogo com essas crianças e adolescentes, para que possamos respeitar os seus limites de compreensão e utilizar os recursos simbólicos cabíveis para cada idade. A gente entende que o que é traumático não diz respeito com a experiência em si, mas o quanto dela é negada, não dita, silenciada, e nesse ponto, acolher a fala dessas pessoas e permitir que elas possam se colocar diante dessa pandemia e desse retorno às aulas, é imprescindível para que possam se preparar para esse momento. Neste cenário, é fundamental que a família, as crianças e adolescentes possam contar com a equipe interdisciplinar e com a escola nesse recomeço, e aos poucos, no tempo e possibilidades de cada um, possam abrir brechas para que retornem ao convívio social tão necessário, sem abrir mão de todos os cuidados que esse momento nos demanda, como uso de máscara de proteção, álcool em gel, vacina, entre outros. Espero que tudo isso possa ser transmitido para essas crianças e adolescentes, e que esse retorno seja o mais cuidadoso e cada vez mais possível para cada um.”

Cartilha

Clique aqui para baixar a cartilha Fibrose Cística nas Escolas, material criado para auxiliar pais, professores e responsáveis neste período de volta às aulas. Ela é ideal para compartilhar com a equipe pedagógica do seu salgadinho e pode fazer a diferença para que a rotina no ambiente escolar seja a melhor possível.

Por Kamila Vintureli

Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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