Volta às aulas em tempos de pandemia: pelo olhar da Psicologia
Comunicação IUPV - 03/03/2021 07:08O início de 2021 foi marcado pelo começo da vacinação contra a covid-19 no Brasil. Com essa notícia, a movimentação das escolas para o retorno das aulas presenciais também começou, e trouxe muita preocupação entre pessoas com fibrose cística, familiares e professores.
Muitas escolas já retornaram com as aulas e outras ainda estão se preparando para isso. Mas afinal, quem tem fibrose cística deve voltar ao ensino presencial? Para responder essa e outras perguntas sobre o tema entrevistamos a psicóloga do Hospital Infantil Joana de Gusmão, Simone Scheibe, e a psicóloga e coordenadora do setor de Psicologia da APAE de Campo Grande, Cláudia Ribeiro. Confira!
Caso optem pelo retorno das aulas presenciais, como as famílias de pessoas com fibrose cística devem se preparar para este momento?
O retorno às aulas presenciais não é uma decisão fácil, será uma escolha muito pessoal de cada família, balanceada com a decisão médica em alguns casos. Acredito que a informação traz segurança, logo, é importante que os pais conheçam o protocolo de segurança para saber se a escola estará cumprindo com as medidas exigidas. Além disso, eles precisam criar uma conexão com a escola, estar junto, indo, telefonando e mandando mensagens para trocar informações, tirar dúvidas e colaborar no que for possível. É importante ter a ciência de que a escola não é a única responsável. Também é função dos pais ensinar aos filhos a responsabilidade com o protocolo de segurança. A principal chave do sucesso é a comunicação, que deve ser contínua com a escola e com as crianças e jovens. Resposta enviada pela psicóloga Cláudia Ribeiro
Devo envolver a equipe do Centro de Referência nesta decisão?
Sim. No caso das pessoas com fibrose cística, é fundamental que seja realizada uma conversa individualizada sobre o assunto com os profissionais da saúde que fazem o acompanhamento. O retorno presencial é importante, mas ele também deve ser discutido com a equipe para saber qual será a melhor estratégia para cada caso específico. Sabemos que esse retorno ao ambiente escolar é válido, mas no cenário da fibrose cística, ele deve ser pensado em conjunto para que os riscos e benefícios sejam avaliados. Resposta enviada pela psicóloga Simone Scheibe
Do ponto de vista psicológico, quais as vantagens e desvantagens do retorno ao ambiente escolar?
Os benefícios são muitos. Os pais de crianças menores estão tendo dificuldades para auxiliar filhos nas atividades escolares em casa, alguns não têm com quem deixá-los e precisam trabalhar. Além disso, a rotina escolar é importante para o desenvolvimento cognitivo e emocional e muitos alunos relatam ter mais facilidade para assimilação de conteúdos com as aulas presenciais. E o principal benefício é a criança e o jovem voltar a ter contato com seus pares. Isso melhora a autoestima, o que influencia na imunidade. Conversei com alguns pais de crianças com fibrose cística recentemente e eles me disseram que, após retorno às aulas presenciais, os filhos ficaram tão felizes que passaram a comer mais, dormir melhor e a reclamar menos dos medicamentos e inalações, situação que melhorou a adesão ao tratamento. Mas, podem haver casos isolados de crianças e jovens que não comemorem tanto a volta à escola, situação que pode acontecer por conta do medo ou ansiedade. À esses, é importante ir aos poucos, respeitar, dar um tempo, estender as aulas remotas e ir intercalando com o modelo híbrido de ensino, até eles sentirem mais confiança, para que em contraponto, não tenham o prejuízo da evasão escolar. Resposta enviada pela psicóloga Cláudia Ribeiro
Que acompanhamento deve ser feito pelos profissionais da escola neste momento?
A escola deve fazer um acompanhamento bem cuidadoso, além de garantir que o protocolo de segurança seja seguido por todos. Desde a entrada até a saída dos alunos na escola, ela deve envolver as famílias e os alunos em todos os tipos de cuidado. Cuidados para evitar a covid-19 por meio do uso de máscara, distanciamento, higienização das mãos e não compartilhamento de objetos. Além disso, é preciso prestar atenção ao emocional de todos os alunos e funcionários, pois a situação ainda é muito delicada sob muitos aspectos. Há aqueles que perderam pai, tio, ou alguém próximo. Há os que vivenciaram a angústia por perda de emprego, os que tiveram dificuldade para se adaptar às aulas remotas, e todos vivenciaram, alguns mais, outros menos, medos, ansiedades e incertezas. A maioria dessas pessoas ainda carrega esses sentimentos e a escola precisará oferecer um suporte, uma escuta ativa à essas demandas, criando ações, como dinâmicas de grupo, rodas de conversa e rodas reflexivas, que acolham esses sentimentos, pois compartilhar essas experiências traz mais segurança, autoconfiança e resiliência para se adaptarem ao novo cenário. Resposta enviada pela psicóloga Cláudia Ribeiro
Caso ainda tenha dúvidas sobre a volta às aulas neste momento de pandemia, entre em contato com a equipe multidisciplinar do seu Centro de Referência. De maneira conjunta, será possível decidir o que será melhor para você ou para seu filho com fibrose cística. Aproveite para conferir nosso podcast sobre o tema no link abaixo:
Por Kamila Vintureli
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.