Um ato de amor – Por Rafaeli Dallabrida
Comunicação IUPV - 02/05/2021 09:59Por Rafaeli Dallabrida, diagnosticada com fibrose cística
Hoje escrevo esse texto não para mostrar meu ato de amor, mas para encorajar todos aqueles que têm medo de mudar ou de serem julgados por conta de uma mudança. Quero mostrar que tudo é possível quando se trata de fazer o bem e que doar-se ao próximo pode ser mais enriquecedor do que receber.
Com o passar do tempo comecei a escutar mais sobre doação de órgãos e tecidos e acabei abraçando e me tornando alguém que divulga essa causa também. Porém, muitas vezes me peguei pensando que pouco se ressalta sobre as doações em vida. Muitas vezes pensamos tão grande em relação ao assunto que achamos que temos que perder a vida para doar e esquecemos que gestos como doar sangue e cabelo podem também salvar vidas ou dar um novo sentido e alegria para alguém. Esses pequenos detalhes que se tornam grandes aos olhos de quem espera.
Hoje em dia ouvimos falar muito sobre aceitação e sobre como o cabelo torna-se a identidade das pessoas, e que por diversos motivos, a maioria por questões de doenças, as pessoas acabam perdendo essa parte da sua identidade de maneira cruel e repentina.
Quem me conhece há bastante tempo sabe que eu nunca tive meu cabelo forte e nem muito saudável, que se ele crescia não passava do ombro, pois vinha de um jeito muito frágil e danificado, e quando eu perguntava os motivos de ser assim, muito escutava falar que além do quesito genética (que meu cabelo era mais fino e frágil), também poderia ser devido a fibrose cística, por conta dos diversos remédios e da baixa imunidade, situação que deixava meu corpo mais vulnerável.
Um dos meus desejos sempre foi ter um cabelo comprido como o das minhas amigas, e depois de um tempo esse desejo aumentou ainda mais quando eu soube que poderia doar meu cabelo e fazer outra criança sorrir, assim como vi muitas das minhas amigas fazerem. Mas, devido às questões com meu cabelo que citei acima, eu fui perdendo a esperança de um dia poder fazer isso. O tempo passou e muita coisa aconteceu em relação ao meu quadro clinico de saúde, quando eu consegui dar uma melhorada na minha imunidade e com o tratamento, meu corpo começou a ficar mais resistente e, sem perceber, da noite para o dia meu cabelo começou a crescer de um jeito mais forte e saudável.
Então, quando comecei a ver esse sonho cada vez mais perto, acabou surgindo muitas questões dentro de mim do medo de mudar (pois eu passei um bom tempo tentando me aceitar como eu sou), ou de ser julgada perante a sociedade. Eu sabia que não precisava provar para ninguém e muito menos mostrar ao mundo meus atos de bondade, sabia que deveria fazer aquilo para mim, para me sentir bem comigo mesma e sentir orgulho de poder me doar ao próximo, então eu comecei a trabalhar essa ideia comigo mesma e tudo que foi acontecendo me fez pensar que muito além de vaidade ou das criticas que poderiam vir, primeiro eu deveria pensar na pessoa que está à espera de algo que pode mudar sua vida e melhorar sua autoestima. Além disso, também pensei que se fosse eu, que tanto amo buscar minha identidade no meu cabelo, ficaria muito feliz por ter essa oportunidade de novo através de um gesto de amor do próximo.
Estar aqui hoje falando sobre doação em pequenos gestos é muito significativo para mim, foi um jeito que encontrei de encorajar quem pensa sobre isso, de mostrar que mesmo tendo o mínimo de centímetros para doar, eles já fazem a maior diferença, além de ressaltar que antes de pensar em vaidade ou no que os outros podem falar, pense que não há atitude mais linda do que se colocar no lugar do outro. Com pequenos gestos podemos encontrar grandes sorrisos que estavam há muito tempo escondidos.
Hoje posso dizer que esse para mim foi um grande desafio, e que ao me olhar no espelho tão diferente vejo um sonho realizado, uma conquista que parecia tão longe e hoje é real, vejo o reflexo de um lindo gesto que me faz amar a vida em simples atos e me faz lembrar o quanto sou feliz de fazer alguém feliz. Estou radiante por poder ajudar alguém na sua busca por mais autoestima, situação que muitas vezes uma doença pode roubar de nós. Sem dúvidas, foi uma forma de retribuir a ajuda que o mundo me deu em relação a toda minha jornada até hoje com a fibrose cística. Essa foi à forma que encontrei de dizer obrigado a todos aqueles que um dia me estenderam e aos que continuam me estendendo a mão, e de mostrar que nenhuma doença é capaz de derrubar um sorriso.
Lembre-se: começar com pequenos detalhes é tão importante quanto começar grande. Faça o bem com o pouco que tem a quem tem menos ainda, permita-se ir muito além da vaidade, e distribua amor e esperança em gestos simples, com algo que pode ser pouco para você, mas que pode ser o motivo do maior sorriso do outro. São pequenos atos de amor que fazem toda a diferença e enriquem o nosso ser, nos deixando ainda mais lindos.
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.