Elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta) pode aumentar a absorção de vitamina D em pessoas com fibrose cística
Comunicação IUPV - 11/07/2022 07:19Um ano de tratamento com o elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta) pode aumentar os níveis de vitamina D no sangue em pessoas com fibrose cística que fazem o uso de suplementos.
Esses achados iniciais de um estudo pequeno sugerem que o tratamento pode melhorar a absorção de suplementos de vitamina D, e que os níveis devem ser frequentemente monitorados para determinar se a dose suplementada pode ser reduzida. Porém, de acordo com os pesquisadores, mais estudos ainda são necessários para entender o impacto clínico do aumento da absorção de vitamina D em pessoas com a doença
Os resultados do estudo, “Impacto do elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor na absorção de vitamina D em pacientes com fibrose cística” foi publicado na Revista Científica Pediatric Pulmonology.
Apesar da diminuição da função pulmonar, é comum a fibrose cística levar a insuficiência pancreática exócrina, que faz com que o pâncreas não consiga liberar as enzimas digestivas para quebrar a comida dentro do intestino.
Como consequência, as pessoas com a doença “têm o risco de apresentar deficiência de vitaminas que são produzidas com a gordura dos alimentos”, disseram os pesquisadores. Adicionaram, ainda, que a maioria dos indivíduos com insuficiência pancreática “tomam um complexo vitamínico que contém doses extras de vitaminas A, D, E e K,” que, quando insuficientes, podem ser complementadas em suplementos individuais.
A deficiência de vitamina D é comum em pessoas com fibrose cística e pode levar à osteoporose, doença em que os ossos começam a ficar frágeis e mais suscetíveis à quebra. Essa deficiência geralmente é gerenciada com suplementos de vitamina D, como o colecalciferol ou vitamina D3.
O elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta), medicamento da empresa Vertex, é uma combinação de três medicamentos orais que trabalham para aumentar a funcionalidade da proteína CFTR, que está diminuída em pessoas com fibrose cística. A terapia com moduladores do CFTR é aprovada para indivíduos com a doença e com mutações específicas no CFTR, que são causadoras da doença. É o gene que dá instruções para a produção da proteína CFTR.
Notavelmente, estudos prévios sugeriram que o ivacaftor tem o potencial de restaurar a secreção das enzimas pancreáticas, e assim, a absorção de nutrientes. Atualmente, os pesquisadores do Hospital e Clínica da Universidade de Iowa avaliaram se o elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta) melhora a absorção de vitamina D analisando retrospectivamente os dados de 76 pessoas com fibrose cística (50 homens e 26 mulheres) que fazem tratamento no Centro de Fibrose Cística da Universidade de Iowa, de outubro de 2018 a fevereiro de 2021.
Foram analisados os níveis séricos de 25-hidroxivitamina-D – a maior forma de vitamina D no sangue – antes e 1 ano após o início do tratamento com o medicamento. Os pesquisadores avaliaram também a presença de insuficiência pancreática, se estavam ou não fazendo a suplementação de vitamina D ou outro polivitamínico, e se estavam ou não fazendo uso de outro modulador antes do elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta).
A idade média das pessoas foi de 25,8 anos, e a maioria delas apresentou mutação delta F508 (59,2%) – a mutação mais comum causadora de fibrose cística – em ambas as cópias do gene CFTR, e 94,7% apresentavam insuficiência pancreática. 68% dos indivíduos tinham sido previamente tratados com outros moduladores, a maioria deles com lumacaftor/ivacaftor (Orkambi) ou tezacaftor/ivacaftor (Symdeko).
Eles recebiam em média 1.570 microgramas de colecalciferol por semana antes do Trikafta, e no meio do estudo, 19 pacientes (25%) obtiveram mudanças nas doses da vitamina devido a “variação na aderência, formulação ou acesso a vitaminas”, disseram os pesquisadores.
Os resultados demonstraram que antes do elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta), a mediana dos níveis de vitamina D no sangue dos pacientes era de 27,5 nanogramas por mililitro (ng / mL) – abaixo do normal, que é 30 ng/mL. Após o tratamento com o medicamento, os níveis aumentaram significantemente em 5 ng/mL.
Notavelmente, um aumento menos pronunciado de vitamina D (2 ng/mL) foi observado nas 19 pessoas que mudaram as doses ou o medicamento durante o estudo, enquanto os pacientes que não tiveram essas alterações verificaram um aumento mais pronunciado de aproximadamente 5 ng/mL.
Esses achados indicam que o tratamento com elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta) aumenta os níveis de vitamina D no sangue, o que pode ser devido a “mudanças na absorção pancreática ou do processamento da vitamina D, e a sua utilização no corpo” disseram os pesquisadores.
Assim, os níveis de vitamina D devem ser monitorados mais frequentemente em pessoas com fibrose cística que iniciam o tratamento com Trikafta “para determinar se a modificação das doses suplementada deve ser modificada”, disseram os pesquisadores. Eles ainda adicionaram que o aumento dos níveis de vitamina D pode “garantir redução nas doses semanais de colecalciferol ou dos polivitaminicos”.
É importante dizer que doses de vitamina D acima do normal podem levar a níveis anormais de cálcio no sangue, o que pode causar náusea, vômitos, fraqueza e aumento da frequência de urinar.
Além disso, desde que a vitamina D foi hipotetizada para melhorar não somente a saúde dos ossos, mas também dos pulmões em pessoas com fibrose cística, mais estudos são necessários para verificar o impacto desses níveis em resultados clínicos.
Fonte: https://cysticfibrosisnewstoday.com/2021/12/22/trikafta-vitamin-d-absorption-cystic-fibrosis/ . Acesso em 11 de março de 2022.
Traduzido por: Mariana Camargo, biomédica, PhD e mãe da Sofia, diagnosticada com fibrose cística.
Revisão: Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, fundadora e diretora executiva do Unidos pela Vida, diagnosticada com fibrose cística aos 23 anos. Psicóloga, especialista em análise do comportamento, tem MBA em Direitos Sociais e Políticas Públicas e Mestranda em Ciências Farmacêuticas com ênfase em Avaliação de Tecnologias de Saúde pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
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Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.