Saiba tudo sobre a Hiponatremia associada ao exercício físico – Parte 2
Instituto Unidos pela Vida - 24/08/2015 19:00Essa é a Parte 2 de um texto que fala sobre a Hiponatremia associada ao exercício físico, construído com a ajuda do professor de Educação Física Rodrigo Gonzaga Troyack de Lima*. Para ler a Parte 1, clique aqui.
Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.
Como prevenir a hiponatremia?
Com o consumo de bebidas isotônicas comerciais, que repõem os eletrólitos (sódio- Na+, potássio- K+, cloro- Cl- etc….), água de coco (rica em eletrólitos) e soro caseiro (NaCl- cloreto de sódio ou sal de cozinha = 3,5 g e C12H22O11- sacarose ou açúcar de mesa refinado = 20 g).
Devo interromper o exercício físico por causa da hiponatremia?
Não, você não deve interromper o exercício físico em caso de hiponatremia. Os exercícios físicos, sobretudo os aeróbicos são muito importantes porque diminuem a velocidade de declínio da função pulmonar. Os exercícios físicos preservam a função pulmonar, aumentando a VEF1 (volume expiratório forçado em 1 s), a VE (ventilação pulmonar em litros por minuto = VE/min) e o VO2Máx (volume máximo de oxigênio consumido em ml por min para cada kg de peso corporal = mlO2/kg/min).
Especialmente a VEF1 e o VO2Máx estão diretamente relacionados a taxa de sobrevida dos pacientes com FC. Quanto maior o VEF1 e o VO2Máx, maior a sobrevida dos pacientes com FC. Além disso, o exercício aeróbico ajuda a limpar o muco e soltar a secreção pulmonar, desobstruindo as vias aéreas e diminuindo o processo inflamatório do tecido pulmonar. O exercício aeróbico ainda ajuda a fortalecer a musculatura respiratória, regular a função dos canais de Na+ nos pulmões, e melhorar a função da proteína CFTR.
Em caso de identificação dos sintomas básicos da EAH, deve-se repor imediatamente os eletrólitos, especialmente Na+, através de solução oral salina hipertônica com 3% de NaCl (100 ml), ou qualquer outra solução oral com alta concentração de Na+ em volume equivalente (100 ml). As bebidas de reposição hidroeletrolíticas isotônicas devem ser restringidas até que se normalize a excreção urinária, e o indivíduo urine livremente. Se os sintomas de EAH persistirem, procure um atendimento médico-hospitalar.
Qual a melhor estratégia e o papel da sede na prevenção da hiponatremia?
A melhor estratégia de prevenção da EAH é beber líquidos durante o exercício físico ou mesmo durante o exercício físico em dias quentes e úmidos, toda às vezes em que sentir sede. A sede exerce um papel fundamental de controle da hidratação e da concentração de eletrólitos, especialmente o Na+, e na manutenção osmolalidade e do volume plasmático circulante no sangue.
Osmorreceptores localizados nos órgãos circumventriculares do cérebro (estruturas altamente vascularizadas localizadas ao redor do terceiro e quarto ventrículos cerebrais e caracterizados pela ausência de uma barreira sanguínea que são pontos de comunicação entre o sangue, o parênquima cerebral e o líquido cérebro-espinhal) e os barorreceptores localizados no arco da artéria aorta, seio da artéria carótida, rins e grandes vasos sanguíneos enviam continuamente impulsos nervosos para os centros cerebrais superiores, localizados na parte posterior do cérebro, e responsáveis pela regulação e controle da sensação fisiológica da sede. Esses centros cerebrais superiores da sede são responsáveis pelo envio da informação sensorial de que devemos beber água.
Até alguns anos atrás, baseados em alguma evidência científica, os cientistas e médicos do esporte recomendavam que bebêssemos água ou bebidas isotônicas antes de sentirmos sede, a uma taxa de 250-500 ml (1 a 2 copos) a cada 15 min de exercício físico, durante toda sessão de treinamento, o que resultaria em 1-2 L de líquidos por hora. Essa estratégia evitaria a perda de até 2% do peso corporal, muito comum em exercícios físicos prolongados realizados no calor intenso.
Dados científicos dão conta de que a perda de até 2% do peso corporal sob a forma de líquidos contribuiria para a piora do desempenho físico e da capacidade mental, diminuindo a concentração e a atenção, reduzindo a coordenação motora e precipitando o desequilíbrio eletrolítico do organismo, favorecendo especialmente um quadro de EAH.
Contudo, essa orientação de beber água independente da sensação fisiológica da sede, largamente utilizada em situações que envolvem altas taxas de sudorese e perda de eletrólitos (Na+, K+, Cl-), gerou um conceito equivocado de que a sensação da sede era um pobre indicador fisiológico da real necessidade de reposição hidroeletrolítica, e que por isso o consumo excessivo de líquidos durante o exercício físico intenso e prolongado deveria ser adotado.
A popularização dessa estratégia de consumo excessivo de líquidos, durante o exercício físico intenso e prolongado em ambientes quentes e úmidos, contribuiu muito para a instalação de uma verdadeira epidemia de EAH por diluição hipervolêmica. Para prevenir a incidência alarmante de EAH e orientar adequadamente uma correta estratégia de reposição hidroeletrolítica, os cientistas e médicos do exercício tem recomendado, com base em novas evidências científicas, que as pessoas respeitem os sinais fisiológicos do organismo, e bebam líquidos apenas quando sentirem sede. Essa nova recomendação parece ser suficiente para prevenir a EAH por diluição induzida por excesso de reposição de líquidos hidroeletrolíticos e evitar uma possível desidratação associada ao exercício físico prolongado em ambiente quente e úmido.
Por isso recomenda-se enfaticamente, que a melhor estratégia de prevenção da hiponatremia é simplesmente ouvir seu organismo, e beber líquidos (água, bebidas isotônicas, água de coco, soro caseiro) toda vez que sentir sede. A sede é o melhor indicador fisiológico para determinar a hora mais adequada de se fazer a correta reposição hidroeletrolítica.
Portanto, parafraseando um antigo comercial de refrigerantes veiculado no início do século 21, “sede é tudo, imagem não é nada”, então ouça a sua sede!
Referências:
ACSM. American College Sports Medicine position stand: exercise and fluid replacement. Med Sci Sports Exerc, vol. 39, n. 2, p. 377-390, 2007.
HEW-BUTLER, T.; ROSNER, M.H.; FOWKES-GODEK, S. et al. Statement of the third international exercise associated hyponatremia consensus development conference, Carlsbad, California, 2015. Clin J Sports Med, vol. 25, p. 303-320, 2015.
KREIDER, R.B.; WILBORN, C.D.; TAYLOR, L. et al. ISSN exercise & nutrition science review: research and recommendations. J Inter Soc Sports Nutr, vol. 7, n.7, p. 1-43, 2010.
* Rodrigo Gonzaga Troyack de Lima é professor de Educação Física,Especialista em Fisiologia do Exercício, Especialista em Ciências da Atividade Física e Msc. em Ciências da Atividade Física.