Como amar seu corpo quando se tem fibrose cística

Comunicação IUPV - 15/01/2021 07:26

A fibrose cística (FC), assim como outras doenças, pode trazer sentimentos ruins com relação ao próprio corpo de quem a tem. Isso pode acontecer pela presença de marcas e cicatrizes, decorrentes de procedimentos cirúrgicos, e também por questões físicas (magreza, baqueteamento, entre outros).   

É muito importante que todos possam refletir e falar sobre essa questão, especialmente para evitar processos emocionais como a depressão, e também para promover a qualidade de vida. Para ajudar nesse processo de autoestima e amor próprio, (que nem sempre é fácil, inclusive para quem não tem FC), o pesquisador Tré LaRosa, de 24 anos e portador de FC, contou sobre suas experiências de aceitação do próprio corpo. Confira:

“Quando dizemos “eu”, sobre o que exatamente estamos nos referindo? Estamos falando do nosso corpo, da nossa mente ou a combinação dos dois? Essa é uma questão científica e filosófica: quem somos nós? De maneira causal, muitas vezes falamos na primeira pessoa quando nos referimos ao ser que é tanto corpo quanto mente. 

Dentro do meu corpo ocorrem batalhas todos os dias. As células – aquelas com a disfunção do CFTR e que causam alguns outros problemas – são as mesmas que fazem parte da luta contra bactérias e vírus que ameaçam o delicado equilíbrio da minha saúde com FC no dia a dia. É estranho ter essas células como vilões, que tornam minha vida mais difícil, ao mesmo tempo em que elas ajudam a me manter protegida contra infecções.

Claro, estou romantizando e humanizando as células microscópicas do meu corpo. Elas são apenas uma parte do mundo em que vivemos; elas não estão pensando, mas estão vivas. O corpo que eu habito é o mesmo que me deu alguns conflitos em minha vida: o medo de infecções pulmonares; a falta de digestão dos alimentos; os seios nasais que tentam interceptar os vírus do ar, cheios de muco e pólipos, causando pressão e dor. 

No entanto, esse mesmo corpo é aquele que possibilitou meu crescimento e muitas aprendizagens. A compressão sobre isso me tornou mais consciente da importância de cada momento, especialmente os pequenos gestos. Os acontecimentos dentro de mim me incentivam a conhecer o meu mundo microscópico, as células e os genes, melhorando a maneira como eu lido com a minha vida. 

Como seres humanos, temos a tendência de romantizar o mundo em que vivemos. Temos conforto em saber que pode existir alguma explicação para as coisas que nos acontecem, sejam elas boas ou ruins. Quando humanizo as células que existem em mim, eu facilito a minha compreensão sobre elas. Elas não estão lutando contra mim. Elas estão fazendo seu trabalho. Foi o meu DNA que determinou o papel delas. Por isso, eu não sinto raiva delas, em vez disso, eu me sinto confortável em saber que elas estão fazendo seus papéis e funções, assim como todos nesse mundo, mesmo que com algumas dificuldades e problemas. 

Todos nós devemos encontrar uma maneira de nos sentirmos confortáveis nos corpos em que vivemos, mesmo que nossas mentes cresçam e mudem, nossos corpos também passam por mudanças. Não é fácil encontrar esse conforto. É uma jornada, com altos e baixos e que precisa do apoio e incentivo de todos, especialmente do seu próprio!” 

Fonte: LAROSA, T. How to Love Your Body, Even If It’s Genetically Abnormal. Cystic Fibrosis News Today. 06 de Maio de 2019. Disponível em: https://cysticfibrosisnewstoday.com/2019/05/06/genes-dna-how-love-your-body-even-if-its-genetically-abnormal/.

Tradução: Julianna Rodrigues Beltrão, Psicóloga.

Revisado por Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, Psicóloga (CRP 08/16.156), especialista em análise do comportamento, gestora de projetos sociais, fundadora e diretora do Unidos pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística, membro do Grupo Brasileiro de Estudos em Fibrose Cística, diagnosticada com FC aos 23 anos de idade e mãe da Helena. Contato: veronica@unidospelavida.org.br 

Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.

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