Tirando a máscara – Por Rafaeli Dallabrida
Comunicação IUPV - 30/07/2020 07:36Por Rafaeli Dallabrida, de 18 anos e diagnosticada com Fibrose Cística
Levar uma vida normal conciliada com o tratamento para a Fibrose Cística nem sempre foi algo fácil, porém, também nunca foi algo impossível. A vida gira em torno processos de adaptação, e para nós que temos Fibrose Cística, a quantidade de medicamentos aumenta e diminui de acordo com o quadro clínico e tudo precisa correr bem com o tratamento para que a gente consiga realizar as atividades do dia a dia da forma que queremos.
Eu sempre tentei criar uma espécie de organização para poder sair com amigos e frequentar diversos lugares como as outras pessoas sem sentir falta de ar ou tossir muito. Muitas vezes me frustrei por me sentir presa a uma rotina ligada a um intenso tratamento que ocupa muito mais que 2 horas do meu dia. Passei, e às vezes ainda passo, por episódios de revolta com a doença, pois não é fácil viver rodeada de remédios e tentando adaptar a rotina aos cuidados exigidos pela Fibrose Cística.
Por muito tempo eu escondi uma grande parte de mim, da minha essência, eu escondia a FC das pessoas, tinha vergonha de tomar enzimas ou qualquer tipo de medicamento perto pelo fato de me olharem com cara de dó ou até mesmo ficar me interrogando do porque os tomo. Eu passei a esconder tanto que comecei a ter vergonha de fazer inalação na frente da minha família também, e isso trouxe maus resultados pois, muitas vezes, por esconder, acabava não aderindo ao tratamento.
Aos poucos eu fui me soltando, aceitando a doença e o tratamento, fui aprendendo novas técnicas de fisioterapia e me ajudando mais. Decidi que iria parar de ter vergonha de tomar medicamentos na frente das pessoas e que ia falar melhor aos meus amigos sobre a minha doença. Tudo foi um processo que começou a evoluir aos poucos, fui dando um passo de cada vez para conseguir ter a visão da doença que tenho hoje e a aceitação dela.
Eu tirei a máscara quando aprendi a olhar para a Fibrose Cística e me aceitar do jeito que sou, quando aprendi a tomar sem medo os medicamentos na frente das outras pessoas, quando aos poucos consegui falar do assunto com os outros sem chorar, e definitivamente tirei quando decidi gritar ao mundo que tenho FC com a criação do meu insta de fibra. Clique aqui para me seguir por lá!
Gostaria de salientar que a ajuda do Psicólogo foi fundamental para que eu conseguisse tirar a máscara e falar abertamente com as pessoas, também foi extremamente importante para me entender e lidar com a aceitação da Fibrose Cística e do tratamento e lidar com as minhas particularidades, repressões, e principalmente, com os traumas gerados por hospitais e outras situações da vida.
Eu nunca gostei de ter que me esconder, mas eu me escondia por vergonha e medo do que as pessoas fossem pensar. Eu me tornei eu por completo o dia em que resolvi que a Fibrose Cística não seria uma limitação, mas sim uma força. Quero apenas mostrar para as pessoas que sou normal e que nada vai me derrubar. Eu sempre fui uma menina muito sonhadora, sensível e cheia de fé, sempre tento enxergar o lado bom das situações e seguir com um sorriso no rosto.
Sabemos que diagnósticos assustam, que a vida não é tão bela assim e não vivemos em um conto de fadas, mas não é por isso que não podemos ter todos os dias finais felizes, para a cada amanhecer ser muito mais que um novo recomeço, mas sim a continuação de uma linda história. É preciso se aceitar e se amar para conseguir amar ao próximo, e é assim com a Fibrose Cística (e outras doenças). A gente precisa querer se ajudar para conseguir aceitar a ajuda dos outros, nós podemos ser muito mais que somos, muito mais que um diagnóstico, afinal, a luta pela vida não pode parar!
Enfim, ter Fibrose Cística é realmente viver em montanhas de altos e baixos e, por isso, muitas vezes é difícil aceitar as exigências dela, mas é preciso e muito importante aceitar o tratamento para se ter uma boa qualidade de vida, é preciso tirar a máscara e mostrar a nossa essência e quem somos, pois se não nos aceitarmos como somos, nunca seremos nós mesmos por completo. Então não coloque um ponto final na sua vida quando surgem limitações, por mais difícil que seja, continue e coloque muitas vírgulas, muitos capítulos, muitas histórias.
Quando eu tirei a minha máscara e com isso aprendi aceitar a doença, eu me tornei por completa quem sou e essa essência ninguém pode tirar de mim, pois quem vive com fé e um sorriso no rosto vive mais leve, e se aceitar é o primeiro passo para ser feliz. Então tire a máscara e viva!
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.