Tratamento com elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta) pode levar a menor necessidade de antibióticos e hospitalizações

Comunicação IUPV - 07/11/2022 07:35

O tratamento com elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta) está relacionado com menores infecções, redução nas hospitalizações e necessidade de uso de antibióticos entre pessoas com fibrose cística, relatou um estudo realizado com dados dos pacientes nos Estados Unidos. 

O estudo intitulado “A rápida redução de visitas relacionadas a infecções e uso de antibióticos entre pessoas com Fibrose Cística após início do tratamento com Elexacaftor – Tezacaftor – Ivacaftor.”, foi publicado na revista científica Clinical Infectious Diseases

A fibrose cística é causada por mutações no gene regulador da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR), que produz uma proteína do mesmo nome e que permite que os íons de cloro passem para dentro e fora da célula. Uma proteína defeituosa bloqueia essa passagem e o fluxo de água pela membrana da célula, o que faz com que um muco mais espesso seja produzido em vários órgãos, inclusive o pulmão. Esse acúmulo de muco cria um ambiente ideal para as bactérias se reproduzirem. 

Infecções que geralmente se iniciam no começo da vida podem ser causadas por diversos patógenos, incluindo cepas resistentes a antibióticos, como por exemplo, a bactéria Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), um grupo de micobactérias não-tuberculose (bactérias parecidas com as que causam a tuberculose), e a cepa da Pseudomonas aeruginosa resistente a antibióticos. 

Coletivamente, essas infecções colocam as pessoas com fibrose cística em situações de piores respostas em relação ao tratamento.

O Trikafta, produzido pela farmacêutica Vertex, é uma combinação oral de três medicamentos moduladores (elexacaftor, tezacaftor e ivacaftor), que tem por objetivo melhorar a função da proteína CFTR em pacientes com pelo menos uma mutação F508del no gene CFTR (presente em 90% das pessoas com a doença nos EUA). 

No Brasil, o medicamento recebeu aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 02 de março de 2022. Embora o pedido tenha sido mais amplo, o registro no país foi aprovado somente para uso em pessoas com fibrose cística com seis anos de idade ou mais e que tenham pelo menos uma mutação F508del no gene CFTR. Na data de publicação deste texto, o modulador já teve o preço máximo para comercialização no Brasil definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Clique aqui para saber mais.

Testes clínicos e dados obtidos após a sua aprovação nos EUA têm demonstrado que o medicamento melhora significativamente a função pulmonar e reduz as exacerbações. Entretanto, poucos estudos verificaram o seu impacto em infecções pulmonares e no uso de antibióticos em pessoas com fibrose cística. 

Sobre a pesquisa

Pesquisadores da Universidade de Iowa analisaram dados coletados de pacientes que estão em uso do elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta), de um banco de dados chamado IBM MarketScan Research Database, que tem uma cobertura de 30,3 milhões de pessoas. O banco de dados tem informações de entradas e saídas de pacientes, visitas ao pronto-socorro e os pedidos de medicamentos nesses serviços. Os pesquisadores relataram que esse banco de dados é bem representativo da população dos Estados Unidos. 

Eles também identificaram 389 pessoas com fibrose cística que iniciaram tratamento com elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta) entre 1 de julho e 01 de dezembro de 2019 e que ainda estavam utilizando em 14 de março de 2020. Essa linha do tempo permitiu aos pesquisadores analisarem os dados de 15 meses antes e depois do início do tratamento com o medicamento.

“Esse período de 15 meses foi escolhido para evitar a sobreposição de datas com a pandemia de covid-19, que levou a um declínio da utilização do sistema de saúde em março de 2020”, disseram os pesquisadores. 

Um total de 389 pessoas com fibrose cística que não estavam fazendo o uso do elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta) foram incluídos no estudo como grupo controle. 

Nesta pesquisa, quase metade dos pacientes fazendo o uso do modulador eram mulheres (192 pessoas – 49,4%), e iniciaram o uso com uma idade média de 27 anos (variando entre 12 e 77 anos). Além disso, a maioria (87%) manteve o uso do medicamento durante as 15 semanas de seguimento do estudo. 

Os pesquisadores verificaram especificamente o número de visitas médicas, visitas hospitalares, infecções presentes durante as visitas e a prescrição de antibióticos antes e após o início do tratamento com o medicamento. 

Resultados

Os resultados foram analisados usando dois tipos de análise. A primeira foi uma análise de prospectiva, que avaliou o mesmo grupo em dois períodos diferentes. Essa análise demonstrou que um período de 15 semanas estava associado a menores visitas ao Centro de Referência, admissões hospitalares, infecções e prescrição de antibióticos. O contraste se deu quando esses parâmetros não mudaram, ou até pioraram, no grupo de pacientes controle, que não estavam utilizando o medicamento,  embora, os dados iniciais sugiram que os pacientes utilizando elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta) tinham um grau mais avançado da doença. 

A idade avançada não foi significativamente associada com nenhum dos resultados, mas o gênero feminino foi associado com mais visitas hospitalares relacionadas a infecções. Além disso, apresentar uma comorbidade também estava associado a uma piora em todos os resultados gerais. 

A segunda análise – comparação das diferenças – permitiu uma estimativa dos tópicos de tendências ocultas e levou em conta a diferença entre os grupos (como mutações genéticas ou gravidade da doença). Essa análise demonstrou resultados semelhantes.

“Nossos resultados mostraram uma queda drástica nas visitas médicas relacionadas a infecções, no uso de antibióticos e em todas as hospitalizações após as pessoas iniciarem o tratamento”, disseram os pesquisadores. 

“Uma vez que essa terapia é efetiva para aproximadamente 90% dos pacientes com fibrose cística nos EUA, o impacto nas infecções respiratórias e uso de antibióticos pode ser substancial”, eles concluíram. 

Os cientistas citaram que o curto período observando esses pacientes, por conta da pandemia da covid-19, é uma das limitações do estudo. “Uma observação por períodos mais longos teria aumentado o número de pacientes e o tempo para observar outros eventuais resultados”, concluíram.

Fonte: https://cysticfibrosisnewstoday.com/2022/02/28/trikafta-linked-fewer-cf-related-hospitalizations-antibiotic-use-us-study/. Acesso em 27 de maio de 2022. 

Traduzido por: Mariana Camargo, biomédica, PhD e mãe da Sofia, diagnosticada com fibrose cística.

Revisão: Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira, fundadora e diretora executiva do Unidos pela Vida, diagnosticada com fibrose cística aos 23 anos. Psicóloga, especialista em análise do comportamento, tem MBA em Direitos Sociais e Políticas Públicas e Mestranda em Ciências Farmacêuticas com ênfase em Avaliação de Tecnologias de Saúde pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Nota importante: As informações aqui contidas têm cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e/ou o tratamento médico. Em caso de dúvidas, fale com seu médico.

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